Na Bienal de Veneza, Ministério da Cultura e Funarte ampliam presenças indígenas no cenário artístico global
Presidenta da Funarte, Maria Marighella representou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, na 60ª edição do evento
- Data: 25/04/2024 13:04
- Alterado: 25/04/2024 13:04
- Autor: Redação
- Fonte: MinC
Maria Marighella
Crédito:Reprodução
A presidenta da Fundação Nacional de Artes – Funarte, Maria Marighella, representou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, na 60ª Bienal de Arte de Veneza. Na pré-abertura oficial, na sexta-feira, 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, Maria Marighella destacou o compromisso do Ministério da Cultura com a pauta e a forte presença das artes indígenas no Hãhãwpuá – Pavilhão brasileiro desta edição, em um movimento que dialoga com a implementação de políticas de valorização e fomento para o fazer artístico e cultural dos povos originários no Brasil.
As representações brasileiras na Bienal de Veneza são custeadas e viabilizadas por meio de projeto inscrito pela Fundação Bienal de São Paulo – responsável pelo pavilhão do Brasil – no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) do MinC, para apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet – 8.313/1991).
“É uma iniciativa que corrobora o compromisso do MinC com a valorização e promoção da diversidade cultural brasileira. Levar para outros países as variadas expressões artísticas e culturais, especialmente com os povos originários, faz parte da nossa agenda prioritária de reconhecimento do potencial cultural que temos. Recentemente, também promovemos esse intercâmbio cultural em outros países como Colômbia e China, onde participamos entre outros eventos da Feira Internacional do Livro de Bogotá e o Festival de Cinema de Pequim”, afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
“O nosso Pavilhão Hãhãwpuá recebeu, nesta edição da Bienal de Arte de Veneza, a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam. As artes são pássaros que andam. De modo inaugural e contundente, curadores e artistas indígenas plantam aqui neste chão, suas poéticas e imaginários. Povos que enfrentam até hoje as dinâmicas do empreendimento da colonização, que foram tantas vezes narrados e retratados por homens brancos, assumem a narrativa de si e de suas visões de mundo por meio do seus fazeres artísticos”, declarou a presidenta da Funarte, Maria Marighella.
Com curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, a exposição brasileira trabalhou a narrativa da regeneração e resistência. “A Ka’a Pûera, em Tupi antigo, idioma dos Tupinambá, é um lugar, uma floresta desmatada, mas que se regenera depois de um tempo. Assim como os povos indígenas no Brasil que lutaram ao longo de 500 anos e que estão se regenerando em seus territórios com o fortalecimento cultural e linguístico. E Ka’a Pûera também é um pequeno pássaro com penas marrons que circula no chão e se camufla na terra, nas plantas, para fugir de predadores. E se assemelha com o movimento dos povos indígenas de resistir”, explicou a curadora Arissana Pataxó.
A mostra reúne a produção de artistas indígenas como Glicéria Tupinambá, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó. Glicéria, por exemplo, tem entre suas obras presentes na Bienal o manto tupinambá, produzido por ela de modo coletivo com sua família e a Comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro (BA). O manto de Glicéria Tupinambá através da exposição Essa é a grande volta do manto tupinambá, também já foi um projeto contemplado no Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021.
Os mantos tupinambás são objetos sagrados de uso cerimonial. Eles foram e são confeccionados em um longo processo que envolve saberes múltiplos e a vivência da comunidade com a espiritualidade. Os mantos feitos por Glicéria Tupinambá são considerados parte de um movimento de retomada da produção desse objeto sagrado, até pouco tempo com presença conhecida apenas em acervos etnográficos europeus. Em 2006, Glicéria confeccionou um primeiro manto.
A exposição na Bienal de Veneza, inclusive, é realizada no ano em que um dos mantos tupinambá retorna ao Brasil da Europa, onde estava desde 1699. “As artes indígenas têm retomado terras, línguas, técnicas, materiais e imaginários na sua diversa e sofisticada produção poética, além de problematizar junto às instituições o próprio ato da repatriação de seus símbolos”, frisou também Maria Marighella no evento.
A diretora de Artes Visuais da Funarte, Sandra Benites Guarani Nhandewa, primeira indígena a ocupar uma diretoria na instituição, integrou a comitiva ao lado da presidenta Maria Marighella na Bienal de Veneza. Nascida na Terra Indígena Porto Lindo, município de Japorã (MS), Sandra Benites atua como antropóloga, curadora de arte e educadora e assumiu a diretoria de artes visuais da Funarte em 2023.
“Sandra Benites, essa insurgente mulher guarani à frente da diretoria de Artes Visuais da Funarte, nos lembra sempre que a memória, a ancestralidade é o futuro. Que a presença das artes indígenas nos espaços mais importantes das artes possa nos mobilizar nas dobras do tempo a tecer ontem, hoje e amanhã na construção efetiva de um mundo melhor para todas, todos e todes, a cultivar as muitas formas de vida e um planeta saudável e sagrado”, saudou Maria Marighella.
A 60ª Bienal de Veneza é realizada de 20 de abril a 24 de novembro de 2024. A edição, histórica para o nosso país, pela primeira vez em quase 130 anos, tem um sulamericano como curador geral, o brasileiro e diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Adriano Pedrosa.