Musical jovem, Guerra de Papel se apresenta em São Caetano

Guerra de Papel transporta o mito de Antígona para os tempos atuais e trata de luto e vidas perdidas na periferia

  • Data: 03/06/2024 13:06
  • Alterado: 03/06/2024 13:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Musical jovem, Guerra de Papel se apresenta em São Caetano

Crédito:Jefferson Pancieri

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Segunda peça da trilogia de pesquisa da Tô em Outra Cia. de Teatro sobre Teatro Grego e Periferia, Guerra de Papel – uma tragédia urbana musical é o novo espetáculo do grupo de repertório do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. Em circulação pelo Estado, o grupo se apresenta nos dias 12 e 13 de junho em São Caetano do Sul, dias 18 e 19 de junho no Teatro Adamastor e Ponte Alta em Guarulhos; e dias 21, 22 e 23 de junho no Teatro Arthur Azevedo em São Paulo. A peça trata da tragédia diária ocorrida nas periferias do Brasil, palco da violência sofrida pelas comunidades residentes nessas regiões. Na adaptação do mito grego de Antígona para os dias atuais, foi concebida uma interpretação brechtiniana. Com duração de 60 minutos, em média, a encenação acontece ao vivo com atores e banda de quatro músicos, executando 12 canções.

Enquanto na mitologia grega, a figura de Antígona – filha do casamento incestuoso de Édipo e Jocasta – é aquela que tenta enterrar seu irmão, na peça da companhia ela é a personagem central, a mulher negra na luta para descobrir quem tirou a vida de seu filho Aramiz, morto em consequência de uma bala perdida dentro da sala de aula. Se no primeiro espetáculo da trilogia (Das Ruas, um Orfeu de Mochila), o grupo adaptou o mito de Orfeu e Eurídice para os tempos atuais, celebrando o amor, em Guerra de Papel a Tô em Outra Cia. de Teatro – sempre na estética do teatro musical – transporta o mito de Antígona para a contemporaneidade e retrata o luto. A reflexão proposta agora passa pelo precário ensino público brasileiro e o genocídio dos negros, principalmente em escolas periféricas, consequência do combate entre polícia e traficantes. Depois da tragédia com o filho, Antígona estampa o rosto do menino nos jornais, camisetas e em sua janela, gritando em sua comunidade, fazendo sua própria guerra. “Queremos falar sobre as mortes nas periferias, sempre invalidadas pela mídia e pela polícia, que nunca realiza uma investigação séria para encontrar o culpado. Exemplo é o ocorrido com o assassinato de Marielle Franco. Um caso famoso, de uma vereadora periférica, pessoa pública, até bem pouco tempo sem conclusão”, comenta o Diretor Geral Jorge Alves.

Dramaturgia – concepção

Os mitos colaboram na compreensão das relações humanas e ajudam a ampliar nosso entendimento sobre o mundo e nós mesmos. Eternos, estão presentes na vida de cada ser humano, que é um pouco Deus e herói de sua própria história. A mulher na obra é muito presente. A professora, a irmã e a mãe, três mulheres que tiveram seus pensamentos e sentimentos revirados por uma criança que teve sua vida interrompida. Também retratada na peça, Ismênia, irmã de Antígona, é a mulher que perdeu o sobrinho de forma brutal, uma pessoa que tenta amenizar o peso da saudade e a da insatisfação da vida, tanto dela quanto de sua irmã Antígona. Se sente impotente, não encontra força em seus braços para segurar a irmã e mesmo com esse sentimento, ela está o tempo todo pensando na sua família.

Regida pelas lembranças do filho, Antígona sente cada vez mais raiva da justiça dos homens e espera encontrar paz na justiça divina. A professora abre a narrativa com uma conversa sincera com Deus, tentando buscar as respostas para os questionamentos que não encontra nos mortais. A morte do filho leva Antígona a repensar o futuro dos alunos e buscar outra forma, através do ensino, para tornar seus alunos seres pensantes e realizadores. ““Escolhemos contar esta história para mostrar uma realidade que, infelizmente, ainda é muito presente. A lei natural da vida é que os filhos enterrem seus pais, mas sabemos que o destino inverte de forma cruel os papéis”, comenta o ator Jorge Alves. “A peça é dura, assim como a vida da minoria-maioria da população”, pensa Jorge Alves.

Encenação

A Tô em Outra Cia. de Teatro se consolida pelo trabalho no âmbito de pesquisa em teatro grego e épico. Em Guerra de Papel, a proposta do grupo é pesquisar a interpretação dos atores a partir da técnica do dramaturgo e encenador alemão Bertold Brecht, Gestus, forma de interpretação do texto a partir do corpo. Este processo de interpretação pressupõe um método de construção de fora para dentro sem que os artistas se envolvam emocionalmente com as personagens. Como no teatro épico, a proposta é o distanciamento do ator perante a personagem. Além, de inserir características de interpretação do teatro grego, como corpo e voz ampliados. Jorge destaca a presença do coro como essencial para a montagem, visto que Guerra de Papel, de acordo com ele, é uma manifestação. “E manifestação, para ter uma força maior, é feita pelo coletivo. Ele tem destaque na relação com o público, não raro quebrando a quarta parede.”

Cenário, figurino, Luz e Música

A ação se passa em uma escola, que pode ser uma casa ou espaço público. Os figurinos cumprem dupla função no espetáculo, com composições de peças cotidianas com uniforme escolar. Cada peça tem características únicas de cada personagem, assim, buscando transparecer a personalidade de cada um e realçando texturas e cores para imprimir a ideia de individualidade dentro de um coletivo. A iluminação acompanha as movimentações dos atores no palco e em suas pontuais áreas de atuação. É composta, quase que em sua totalidade, por retas que remetem aos diversos caminhos e escolhas feitas pelos personagens durante a trama. Sem variações de cores, a luz cria espaços realistas e lúdicos. Possui variações de movimentos, acompanhando o acelerado ritmo das cenas e dos personagens, o que dá à obra uma dinâmica ágil e juvenil, como o próprio texto. Ao vivo, quatro músicos estão em cena, com direção musical e arranjos de Paulo Henrique Costa. A criação musical tem inspiração em gêneros como samba e funk, ritmos presentes nas periferias. Os atores cantam suas angústias para o público.

Sinopse

Contornado pelo mito de Antígona, a peça trata da tragédia que ocorre todos os dias nas periferias do Brasil, das balas encontradas em corpos e corpos perdidos. Guerra de Papel é a luta para se ter uma identidade. “Se nascemos, se temos nossas certidões, por que querem nos tirar e entregar uma certidão de óbito? Apagar nossos nomes, nossas histórias, é uma guerra para nos mantermos vivos.”

Roteiro de circulação

SÃO CAETANO DO SUL – Dias 12 e 13 de Junho às 20h

Ingressos gratuitos retirar na bilheteria

Teatro Santos Dumont. Av. Goiás, 1111 – Centro, São Caetano do Sul – SP,

GUARULHOS – Dia 18 Junho às 20h

Teatro Adamastor

Ingressos gratuitos retirar na bilheteria. Av. Monteiro Lobato, 734 – Macedo – Guarulhos. SP

Dia 19 de Junho às 20h – Teatro Ponte Alta. Ingressos gratuitos. Retirar na bilheteria.

Av. Florestan Fernandes, s/nº, Jd Ponte Alta – Guarulhos -SP

SÃO PAULO – Dias 21, 22 e 23 de Junho

Sex e Sáb às 21h e Dom às 19h. Ingressos R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)

Vendas em Sympla e na bilheteria do teatro com 1h antes

Teatro Arthur Azevedo. Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo – SP

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  • Data: 03/06/2024 01:06
  • Alterado:03/06/2024 13:06
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