Mostra de Cinema de SP traz documentário sobre Kobra
Alguns dos filmes brasileiros mais esperados - do ano e dessa Mostra - ficaram para a próxima semana; saiba mais
- Data: 21/10/2022 15:10
- Alterado: 15/08/2023 20:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Imagem ilustrativa
Crédito:Divulgação
Na tradição dos falecidos Walter Hugo Khouri e Luiz Sérgio Person, Lina Chamie é a diretora que melhor filma São Paulo. Tudo a levava ao encontro de Kobra. O grafiteiro ilegal tornou-se um artista urbano – um muralista – internacionalmente conhecido, e admirado. Eduardo Kobra é o cara. Assina o cartaz da 46ª Mostra, do qual foi tirada a vinheta. Ganhou um documentário de Lina, uma joia, que já teve sessão no Vão Livre do Masp e poderá ser visto de novo no Reserva Cultural, no dia 26, às 21 h. Kobra, Auto Retrato. Alguns dos filmes brasileiros mais esperados – do ano e dessa Mostra – ficaram para a próxima semana.
Paloma, de Marcelo Gomes (Cine Marquise, dia 25, 21h15), venceu a Première Brasil do Festival do Rio – melhor filme e melhor atriz, a trans Kika Sena. Regra 34, de Júlia Murat (Reserva Cultural, dia 28, 21h30), venceu o Leopardo de Ouro em Locarno e o Redentor de melhor direção no Rio. O impactante doc Nossa Pátria Está Onde Somos Amados (Cinesesc, dia 29, 20h30) foi gestado por Felipe Hirsch a partir da montagem de Língua Brasileira e da ocupação do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. São obras que devem, necessariamente, estar no radar dos cinéfilos.
Outros filmes já estarão chegando neste fim de semana. O pernambucano Paterno, de Marcelo Lordello (Itaú Frei Caneca, dia 22, 18h30) tem tudo a ver com Propriedade, de Daniel Bandeira (IMS, dia 26, 20h20). Lordello investiga a masculinidade estrutural. Dois irmãos em choque na construtora do pai. O tema da especulação imobiliária é forte no cinema do Recife. Motivou Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Lordello buscou inspiração no cinema documentado do italiano Francesco Rosi – Le Mani Sulla Città. Nenhum dos irmãos confia no outro. E nenhum chegou aonde está por vontade própria. Seguem a tradição familiar. Talvez somente o caçula da família quebre o círculo. O filme de homens tem participação importante das mulheres – uma cena de Rejane Faria, a mãe de Marte Um, outra de Cláudia Assunção. São a prova de que não existem pequenos papéis.
O espaço urbano de Paterno vira rural em Propriedade. Vítima da violência da cidade grande, Malu Galli viaja com o marido para a fazenda da família. Corte para a propriedade rural. Ao saber que será vendida, os trabalhadores se rebelam. A revolta dos excluídos – Bacurau, de Kleber Mendonça Filho. Para fugir ao derramamento de sangue, Malu refugia-se no carro blindado. O choque desses dois mundos será brutal – e que extraordinária atriz é Malu. Diretores – homens – interrogam-se sobre o papel das mulheres na sociedade. Diretoras – mulheres – também.
Carvão, de Carolina Markowicz (Vão Livre do Masp, dia 22, 19h30) é sobre essa família que possui uma carvoaria. O negócio vai mal, o pai de Maeve Jinkings está morrendo – e se o casal, o marido e ela, antecipasse o desenlace? Para ganhar um pouco de dinheiro, hospedam na casa um estranho ligado ao tráfico. As tensões acirram-se, o desfecho é bárbaro. São filmes que falam de uma nova geração de mulheres. A geração anterior pode ser representada pelas mulheres dos sambistas de De Você Fiz Meu Samba (Reserva Cultural, dia 23, 18h15). Ecos de A Mulher Faz o Homem, de Frank Capra, de 1939. Isabel Nascimento Silva resgata uma história feminina pouco conhecida. Por que aquelas mulheres abriram mão da própria vida para viver o sonho de seus homens? A questão central de toda uma geração – várias gerações.
Transe, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães (Espaço Itaú Augusta, dia 22, 20h30), começa com a #EleNão, na Cinelândia do Rio, em 2018. Nas ruas, mulheres contra Jair Bolsonaro. No interior de um apartamento, dois homens e uma mulher. Jogos de amor e sexo, política e comportamento. O cinema nas bordas. Ficção, documentário, ecos de Jean-Luc Godard, A Chinesa. Luísa Arraes, Ravel Andrade e Johnny Massaro. Cinema militante, às vésperas de nova eleição polarizada. E, no final, uma bela homenagem ao pioneiro Humberto Mauro, que dizia que o cinema é cachoeira. (As datas e horários referem-se à primeira exibição dos filmes).