Mineração em terras indígenas pode levar à destruição de áreas protegidas, diz MP
A Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF afirmou que a proposta de Bolsonaro sobre a mineração em terras indígenas, pode levar à destruição de áreas protegidas
- Data: 10/02/2020 15:02
- Alterado: 10/02/2020 15:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
segundo o órgão
Crédito:Reprodução
O projeto de lei assinado por Bolsonaro, que regulamenta mineração, produção de petróleo, gás e geração de energia elétrica em terras indígenas pode causar também o desaparecimento físico de diversos povos indígenas, em especial aqueles localizados na região amazônica.
A posição foi defendida em nota na sexta-feira (7) que ressalta o “contexto de alta transgressão dos direitos indígenas no Brasil” e indica que “há risco de legitimar ações presentes de violações desses direitos”. “Mais da metade da população Yanomami está contaminada por mercúrio oriundo do garimpo ilegal de ouro”, diz a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.
Segundo o órgão, a apresentação da proposta já ofendeu o direito dos povos indígenas a serem consultados “cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente”, tendo em vista “a ausência de diálogo do Poder Executivo com os legítimos representantes das comunidades indígenas”.
Pelo projeto, o presidente encaminha ao Congresso Nacional pedidos de exploração de terra indígena. As comunidades indígenas serão consultadas, mas não têm poder de vetar a exploração de recursos naturais ou hídricos de seus territórios.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, chegou a afirmar que o projeto é a “Lei Áurea” para os indígenas, frisando que as terras já são exploradas, mas de forma ilegal, e que a proposta do governo apenas regulamenta a exploração prevista na Constituição Federal.
No entanto, a Procuradoria destaca que não se pode legitimar as invasões legais: “A incapacidade de fiscalização do Estado não pode ser legitimada pelo discurso do governo federal de legalização dessa atividade e a de outras atividades econômicas”.
A Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais também diz que é “no mínimo temerário” que a autorização da mineração em terras indígenas seja discutida “sem que as estruturas de fiscalização do Estado estejam em pleno funcionamento”. “É público e notório o processo de desestruturação da Funai e dos órgãos de fiscalização ambiental” diz o MPF.
A nota lembra ainda que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já criticou a ideia do governo de liberar o garimpo em terra indígena. “A argumentação que eu vi do ministro (Bento Albuquerque, de Minas e Energia) não está adequada. Não é porque tem garimpo ilegal que a gente vai tratar de legalizar o garimpo. Temos que, primeiro, combater o que é ilegal e fazer um amplo debate sobre esse tema. O tema do garimpo não é simples e o tema do garimpo em terra indígena é mais complexo ainda”, afirmou Maia, em novembro.