Mesmo sem a Pensilvânia, Biden está mais perto da Casa Branca
Vantagem do democrata no Wisconsin é irreversível e ele lidera na contagem de Michigan; campanha de Trump pede recontagem em Wisconsin e para suspender apuração na Pensilvânia e Michigan
- Data: 04/11/2020 18:11
- Alterado: 04/11/2020 18:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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Biden tem até agora 238 delegados e Trump, 213. São necessários 270 delegados no colégio eleitoral para vencer.
A projeção de vitória de Joe Biden em Wisconsin e a apuração de votos em Michigan nesta quarta-feira, 4, abriram caminho para o democrata chegar mais perto da Casa Branca. Conforme analistas alertaram nas semanas anteriores à votação, alguns Estados poderiam registrar uma virada democrata no curso da apuração dos votos, quando as cédulas pelo correio fossem contabilizadas. É o que tem acontecido nos dois Estados do crucial Meio-Oeste, região que deu a Donald Trump a vitória em 2016.
Biden venceu no Wisconsin, um Estado da chamada “parede azul” que tirou as esperanças de Hillary Clinton em 2016, segundo projeções da TV CNN, do jornal New York Times e da rádio NPR. A vitória de Biden, que veio um dia após o fechamento das urnas e com a contagem de votos de ausentes da cidade de Milwaukee, representou uma grande mudança na disputa por 270 votos no colégio eleitoral entre Biden e o presidente.
Biden ultrapassou Trump na quarta-feira, quando Milwaukee relatou seus cerca de 170 mil votos ausentes, que eram esmagadoramente democratas. Retornos tardios de Green Bay e Kenosha apenas aumentaram sua liderança. O Estado, com 10 votos do colégio eleitoral, há muito é considerado um dos principais campos de batalha com potencial para dar um grande impulso a Biden ou Trump.
Se Biden também capturar Michigan, isso permitirá que ele chegue mais perto dos 270 votos eleitorais necessários para ganhar a Casa Branca, mesmo que perca a Pensilvânia, onde os votos ainda estão sendo contados em uma disputa acirrada.
Alegações de fraude
Após o avanço da apuração em Wisconsin, a campanha de Trump anunciou que houve alegações de irregularidades em muitos condados no Estado, “o que levanta sérias dúvidas sobre a validade dos resultados“. Pouco depois, a campanha pediu uma recontagem de votos no Estado, como explicou o chefe de campanha republicana, Bill Stepien.
Stepien disse ainda que a campanha está entrando com uma ação em um tribunal no Michigan para suspender a contagem de votos no Estado até que seja dado acesso para observar o processo de apuração. A campanha alega que não teve “acesso significativo” para observar a abertura das urnas em vários locais.
Candidatos democratas costumam ter ganhos na apuração após a votação nos Estados onde a contabilização das cédulas pelo correio é feita após a contagem dos votos presenciais. Isso porque o eleitorado democrata é mais propenso a votar de maneira antecipada.
Neste ano a votação pelo correio bateu recorde em razão da pandemia, o que deu esperanças à campanha democrata ontem mesmo diante de resultados iniciais favoráveis a Trump. Até agora, Biden tem 238 delegados e Trump, 213. São necessários 270 delegados no colégio eleitoral para vencer.
Cautela
Para o diplomata Rubens Ricupero, que foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos, é cedo para traçar um cenário antes do resultado da Pensilvânia, que pode demorar dias por conta do método de contagem dos votos. “A expectativa é que Biden só ganhará se os votos que foram pelo correio mostrarem uma maioria esmagadora em seu favor“.
Ricupero acrescentou que a lição da disputa de 2020 é que não houve uma reversão, como se esperava, da eleição de 2016. “Em grande parte, é um replay“, compara. Para o veterano diplomata, as causas da divisão da sociedade americana são muito profundas e não desapareceram.
“Trump não é um fenômeno passageiro e vê-se que ele tem um apoio muito sólido. Qualquer um que ganhe terá de lidar com essa radicalização e com essa polarização“.
Na avaliação do professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a principal surpresa da apuração dos votos foi o Arizona, onde Biden deve vencer com 11 delegados (a apuração está próxima de 90%).
“Agora, o democrata precisa manter a pequena margem de vantagem no Michigan, Nevada e Wisconsin para conseguir os votos que faltam para alcançar os 270 delegados. Com isso, os votos da Pensilvânia seriam um bônus“, afirma Menezes, que é pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os EUA (INEU). Os resultados de Nevada, Alasca, Geórgia e Carolina do Norte também ainda estão em aberto.
Professor de relações internacionais da FAAP especializado em política americana, Carlos Poggio avalia que a virada se deu porque os votos por correio, que começaram a ser contados apenas tardiamente, são favoráveis a Joe Biden. “É sempre importante olhar qual tipo de voto está sendo contabilizado e de onde ele está vindo“, explica.
“Em lugares altamente populosos, nas grandes cidades, os votos são pesadamente democratas, enquanto em áreas rurais e cidades menores, são republicanos“. Poggio vê a possibilidade de um cenário parecido com 2016, mas “com sinal invertido”, caso haja vitórias apertadas de Biden em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde Trump venceu Hillary há quatro anos.