Médica recebe transplante de medula óssea da própria irmã com 100% de compatibilidade
“Ela se sente muito realizada, porque pôde me ajudar num momento tão difícil e hoje a minha medula é 100% dela” diz a irmã transplantada
- Data: 20/09/2024 15:09
- Alterado: 20/09/2024 15:09
- Autor: Redação
- Fonte: Agência SP
Crédito:Divulgação/Governo de SP
A residente em dermatologia, Betina Nogueira, de 30 anos, trocou seu papel de médica pelo de paciente quando, em julho de 2023, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda e, após três sessões de quimioterapia, descobriu que necessitaria de um transplante de medula óssea. O que não imaginava é que sua doadora seria a própria irmã, Betânia, com total compatibilidade.
Natural de Matias Barbosa, Minas Gerais, Betina é residente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com atuação no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade integrante do complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Betina conta que vivia um dos momentos mais felizes quando descobriu a doença, pois um de seus maiores sonhos era estudar em São Paulo. Ao retornar de uma série de eventos, incluindo um congresso internacional de medicina, a jovem apresentava um quadro febril que não cessava com analgésicos. “Sempre encarei a vida com muito otimismo, mas parar aquela rotina que me fazia tão feliz e realizada, foi difícil, pois não sabia quanto tempo eu ficaria afastada e acabei ficando um ano em tratamento”.
Após passar pelas sessões de quimioterapia e receber a indicação médica para o transplante, Betina contava apenas com Betânia, sua única irmã, para realizar o teste de compatibilidade. Na medicina, há 25% de chances de se encontrar um doador compatível na família. “Estávamos um pouco tristes e logo no dia seguinte, recebi a notícia que a minha irmã era compatível. Ficamos extremamente felizes”.
Betina se recorda do momento em que, após ter realizado o procedimento, recebeu a notícia pela enfermeira de que a medula havia “pegado”, expressão utilizada para indicar que a medula óssea do paciente transplantado voltou a funcionar. “Quando minha família foi me visitar, escrevi numa folha ‘A medula pegou’, porque não conseguia falar devido às aftas na minha boca. Assim que eles viram a plaquinha, começaram a se abraçar. Ver essa reação deles foi algo maravilhoso”.
A residente relata ainda que a irmã diz acreditar que o propósito da vida dela era salvá-la. “Ela se sente muito realizada, porque pôde me ajudar num momento tão difícil e hoje a minha medula é 100% dela”. Além disso, Betânia pretende seguir os passos de Betina e se formar em medicina.
Sempre otimista, Betina consegue destacar os pontos positivos de sua trajetória como a união da família e a nova profissional que pôde se tornar depois da experiência como transplantada. “Toda a minha família se revezava para vir de Minas me auxiliar. Esse processo curou não só a mim, mas todos meus amigos e familiares”.
Profissionalmente, Betina acredita ter melhorado ainda mais a sua relação com a medicina. “Às vezes não pensamos muito na extensão da família do paciente, mas quando estamos do outro lado, conseguimos ter um olhar mais empático. Acredito que passei por tudo isso para poder ser uma médica muito melhor e ajudar ainda mais meus pacientes”.
Com o quadro em remissão total, Betina completa um ano do procedimento em 23 de novembro de 2024 e planeja comemorar em grande estilo. “Quero fazer uma festa com todos meus amigos, fazer uma corrida, estimulando a saúde. Sabemos que uma das formas de lutar contra o câncer é se exercitando e mantendo um corpo saudável”, ela brinca.
Ampliação do serviço
O Dia Mundial do Doador de Medula Óssea é lembrado neste sábado, 21 de setembro. No início do mês, o Governo de São Paulo inaugurou o Centro de Transplantes de Medula Óssea do Icesp. O novo espaço permite que o hospital realize 100 transplantes por ano, sem a necessidade de deslocamento para outra unidade de atendimento.
O investimento do Governo de SP no equipamento foi de R$ 7,5 milhões e contempla a modernização e expansão dos leitos de internação da unidade.
Como funciona um transplante de medula óssea?
O transplante é uma infusão de células, se assemelhando a uma transfusão de sangue, e pode ser realizado com as células do próprio paciente ou por meio de doação, sendo que este último é indicado, principalmente, para quadros de leucemia aguda.
No estado de São Paulo, somente em 2023, foram realizados 1.141 transplantes de medula óssea. Já em 2024, de janeiro a junho, o número de transplantes chegou a 488. Segundo a Hemorede, 276 pessoas do Estado de São Paulo aguardam um transplante de medula óssea.
O procedimento pode ser recomendado para doenças como, leucemia mieloide, linfomas, anemias graves, osteopetrose, dentre outros. Entretanto, o doutor em Hematologia Terapia Celular, Vanderson Rocha, explica que não são em todos os casos que se faz necessário o transplante. “O paciente pode ir, geralmente, até 65 anos de idade com condições físicas bem estabelecidas sem necessitar do transplante. Essa decisão vai depender do quadro de cada indivíduo”.
Para realizar um transplante de medula, é aplicado o teste de compatibilidade entre doador e receptor, chamado de HLA, feito por meio da biologia molecular. Segundo o especialista, é realizada uma pesquisa na família do paciente, uma vez que irmãos têm 25% de chances nos casos de compatibilidade. Quando não se tem irmão compatível, a equipe médica parte para buscas em bancos de doadores de medula. Quanto maior a compatibilidade, maiores são as chances de sucesso do transplante e menor a possibilidade de rejeição.
Depois do transplante, são imprescindíveis cuidados com a dieta e a limpeza do ambiente, pois entre duas e três semanas o paciente costuma apresentar baixa imunidade, ficando vulnerável a infecções. Após esse período, em alguns casos é necessário o comparecimento diário ao hospital para monitoramento do quadro.
Sobre o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp)
O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo é o maior hospital oncológico da América Latina que atende, exclusivamente, pela rede pública de saúde. Está localizado na região central da capital e integra o complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Inaugurado em maio de 2008, já atendeu cerca de 140 mil pacientes. Atualmente, possui uma média anual de 38 mil pacientes ativos (em tratamento e acompanhamento). Em reconhecimento por seu compromisso com a Qualidade e Segurança do paciente, o Icesp é acreditado internacionalmente, desde 2014, pela Joint Commission International (JCI) e pela Commission on Accreditation of Rehabilitation Facilities (CARF).