Medalhistas olímpicas exigem mais do que reconhecimento no futebol feminino
Rosana e Francielle, ex-astros da seleção, falam sobre mídia, treinadores, CBF, machismo e do uniforme da seleção feminina. Alguns destes problemas não são exclusivos das grandes atletas
- Data: 02/07/2019 08:07
- Alterado: 02/07/2019 08:07
- Autor: Nicole Defillo
- Fonte: Betway
Crédito:Reprodução/Facebook
Com quatro Olimpíadas disputadas e duas medalhas de prata nessa competição, quatro Copas do Mundo, sendo vice-campeã mundial em 2017 e três Pan-Americanos, com medalha de ouro em 2007, é fácil saber de quem estamos falando, certo? Não, esse currículo não pertence a Robinho, Kaká ou Ronaldinho Gaúcho. Ele faz parte da jornada histórica da lateral-esquerda e meia Rosana dos Santos Augusto, de 36 anos.
A atleta iniciou sua carreira aos 17 anos, quando foi convocada para participar da Olimpíada de 2000, em Sidney, na Austrália, representando time da Seleção Brasileira. Após essa competição, Rosana permaneceu na equipe feminina por 18 anos.
Além de Rosana, existe outra jogadora que possui um currículo de fazer inveja a muitos atletas bons de bola e experientes no assunto. Francielle Manoel Alberto, de 29 anos, também já vestiu a camisa da seleção e conquistou títulos, como medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e medalha de bronze na Copa do Mundo Sub-20.
Tanto Rosana como Francielle, já penduraram as chuteiras quando o assunto é Seleção Brasileira. O que pode se constatar é a coincidência do motivo nessa história: Pressão e falta de reconhecimento. “Foi uma questão psicológica. Essa pressão de no futebol feminino sempre ter de procurar mais, mais e mais, e nem sempre ter o resultado esperado”, afirma Francielle. Rosana completa, “Pelo que eu fiz por nosso país, acho que merecia um reconhecimento muito maior”, comentaram com a empresa de apostas online, Betway.
As jogadoras apontam que o momento vivido pelo futebol feminino é de muita esperança, uma vez que as partidas estão sendo transmitidas pela TV aberta e estão conquistando uma audiência maior do que a esperada. “Dessa vez, estou mais esperançosa. É um movimento diferente, uma projeção que não tem mais volta”. Francielle, ainda reluta ao falar sobre a CBF. “Espero mais, sempre, da CBF. Em todos os sentidos. Eles sempre podem dar mais pelo futebol feminino”.
O uniforme usado por Formiga, Marta, Christiane e as outras representantes do Brasil durante o Mundial, também foi alvo de críticas. Segundo Francielle, o símbolo contido na camisa usada pela seleção feminina apresenta 5 estrelas, contudo essas conquistas pertencem ao time masculino. “Não deve ser a mesma. Cada um com suas conquistas. Não precisa ter cinco estrelas no peito só pra falar que tem. Não são nossas!”, pontua Francielle. Rosana está de acordo com a colega e demonstra um certo otimismo: “Tenho certeza que fazendo um trabalho de longo prazo, a gente também vai encher aquela camisa de estrelinha”.
Apesar de terem conquistado diversos títulos com o uniforme da seleção, ao se aposentarem do time brasileiro, Rosana e Francielle não tiveram nenhum jogo de despedida, nenhuma grande cobertura da mídia e nenhum reconhecimento especial da Confederação Brasileira de Futebol, como os jogadores da equipe masculina normalmente têm.
PROBLEMA ALÉM DA SELEÇÃO
O preconceito no futebol não é um drama sofrido apenas pelas atletas da nossa década. Desde que as mulheres começaram a praticar o esporte, elas sofrem com comentários desagradáveis, menos investimento de patrocinadores e visibilidade, como é o caso da jovem Ana Carolina, de 21 anos. “Eu jogo desde pequena, quando tinha 8 anos comecei a fazer escolinha no São Caetano, por parte da minha mãe sempre tive apoio, mas sofria bastante bullying na escola, me chamavam de ‘maria homem’ e coisas do tipo por gostar de jogar futebol”. Ana Carolina diz que se sente prejudicada por conta dessas situações vividas dentro do futebol. “Na época eu me sentia ferida e me sinto triste até hoje, minha vida poderia ter tomado um caminho bem diferente se eu tivesse continuado, agora já é tarde, tenho 21 anos”.
Embora Francielle, Rosana e muitas outras jogadoras sofreram (e sofrem) preconceito, é possível perceber que esse não é um problema exclusivo de quem está dentro do campo. A torcedora e repórter esportiva Giulia Requejo, moradora de São Bernardo, conta que já passou por uma situação parecida. “Em uma das vezes, durante a copa do mundo do ano passado, eu estava conhecendo um cara e comentei sobre futebol e a única resposta dele foi ‘Você fala que gosta de futebol, mas não deve saber nem quem são os titulares!”.
Giulia ainda afirma que para o futebol feminino se igualar ao masculino, há um longo caminho para percorrer, mas que um dia isso acontecerá. “O que nós queremos é que a visibilidade e o tamanho dos eventos sejam os mesmos dos dois lados, mas para isso falta muito. Ninguém nem sabe que existe Copa América Feminina, e é nesse ponto que queremos chegar!”