Marina Helena quer dobrar Guarda municipal e privatizar escolas
Pré-candidata do partido Novo à Prefeitura de São Paulo defende que há excesso de Estado onde não é necessário e falta de intervenção estatal onde é crucial
- Data: 16/03/2024 13:03
- Alterado: 16/03/2024 12:03
- Autor: Redação
- Fonte: Estadão Conteúdo
Marina Helena (NOVO)
Crédito:Novo/Divulgação
A despeito do apoio de Jair Bolsonaro ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) na campanha, Marina Helena (Novo) se considera a única candidata verdadeiramente de direita na corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo. Defende, por exemplo, o aumento de investimentos na segurança pública e a desestatização do sistema municipal de ensino na capital paulista. “Minha proposta é uma gestão eficiente. É conseguir colocar o governo onde é preciso e tirá-lo de onde não é” resume ela. Com 41 semanas de gestação, Marina, conversou com a reportagem por chamada de vídeo na quinta-feira, 14, um dia antes de dar à luz ao seu segundo filho.
Nesta semana, ela surpreendeu por conta de seu desempenho na última pesquisa Datafolha. A candidata do Novo apareceu em quarto lugar, com 7% das intenções de voto. O resultado a colocou em empate técnico com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), que marcou 8%, e a frente do também deputado Kim Kataguiri (União-SP), que registrou 4% no levantamento. À frente deles apenas Guilherme Boulos (PSOL), com 30%, e Nunes, com 29%. Os números apresentados pela pré-candidata do Novo foram considerados atípicos por parte de seus adversários, visto que ela é pouco conhecida entre o eleitorado paulistano. Kataguiri chegou a classificar o resultado da pesquisa como “irracional”.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a diretora do Datafolha, Luciana Chong, disse que parte dos entrevistados pode ter confundido Marina Helena com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), que disputou três eleições à Presidência da República. Segundo Chong, a distorção será resolvida à medida em que a população conhecer melhor quem são os candidatos à Prefeitura. A estratificação do levantamento que mostra que 9% dos eleitores acham que Lula apoiaria Marina Helena reforça a tese da confusão.
Porém, a economista rechaça a hipótese elaborada pela diretora do Datafolha. “Isso é um absurdo”, diz a pré-candidata, acrescentando que, na última eleição municipal, a candidata da Rede, Marina Helou, obteve 0,5% dos votos, apesar do mesmo nome.
Marina Helena Cunha Pereira Santos nasceu em 10 de setembro de 1980, em Brasília. Aos três anos, mudou-se com a mãe para a periferia de São Luís do Maranhão, após o divórcio de seus pais. Sofreu um abuso aos 13 anos, fugindo do lar materno para a casa do pai, na capital federal. Filha de um servidor público que migrou para a iniciativa privada, frequentou bons colégios na adolescência, graduando-se em economia na Universidade de Brasília (UnB), onde concluiu seu mestrado na mesma área. Aos 24 anos, iniciou sua trajetória no mercado financeiro em São Paulo.
Ela é casada com Luiz Henrique Guerra e mãe de Luna de 7 anos. Às 21h59 desta sexta-feira, 15, Marina deu à luz ao seu segundo filho na maternidade do hospital Albert Einstein. Theo nasceu pesando 3,3 kg e medindo 51 cm, tanto a mãe como o bebê estão bem e saudáveis. “Em julho de 2023, decidi ser pré-candidata a prefeita de São Paulo. Três dias depois, descobri que estava grávida. Sou uma mulher de sorte, tenho uma família e uma cidade pra cuidar”, comenta a economista sobre o momento da gravidez.
No mercado financeiro, Marina atuou no Bradesco, Itaú e Bozano Investimentos. Além disso, foi economista chefe e sócia de diferentes casas de análise. Entre suas funções, buscava alternativas de investimento em mercados estrangeiros. Ela diz que, para isso, estudou com profundidade o funcionamento das economias de mais de dez países. “Antes de trabalhar nessas instituições, cheguei a vender cosméticos. Na faculdade, era a responsável pela contabilidade de um posto de gasolina“, relembra. Em 2022, declarou um patrimônio de R$ 8,6 milhões à Justiça Eleitoral.
Marina conheceu o economista Paulo Guedes trabalhando na Bozano. Quando assumiu o Ministério da Economia na gestão Jair Bolsonaro (PL), Guedes a convidou para comandar a Secretaria Especial de Desestatização e Desinvestimento. Ela lembra que foi atuando na secretaria que decidiu entrar na arena política. “Decidi entrar na política para ter acesso à caneta, porque vi projetos promissores sendo entregues nas mãos daqueles que tinham o poder apenas para serem completamente desfigurados”, lamenta.
Seu primeiro desafio político foi no Movimento Brasil Sem Privilégios, pressionando o Congresso por uma reforma administrativa. Ela também foi diretora executiva do Instituto Millenium. Filiada ao Novo desde 2018, disputou sua primeira eleição em 2022, quando concorreu ao cargo de deputada federal por São Paulo. Recebeu 50,7 mil votos, mas não foi eleita, ficando com a primeira suplência. “Viajei muito na campanha, mas vejo que as redes sociais foram muito importantes para minha projeção”, diz.
Nelas, há elogios ao presidente da Argentina, Javier Milei, e críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aos privilégios do Poder Judiciário e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Nas eleições de 2022, declarou voto a Jair Bolsonaro no segundo turno. Ainda em 2022, criticou João Amoêdo e disse que o Novo errou ao não tê-lo expulsado antes, “depois de tantos precedentes”. Um dos fundadores do partido, Amoêdo declarou voto em Lula no segundo turno das eleições passadas.
Questionada sobre a posição ideológica do Novo, Marina afirma que o partido é de direita e liberal na economia, e que questões ligadas ao comportamento, como aborto e descriminalização da maconha, são de livre posicionamento dos filiados. Porém, ela afirma que, assim como os principais mandatários da sigla, tem um viés conservador para essas questões. “Entre os candidatos que vão estar nas urnas, com certeza, temos Boulos, Tabata e Nunes. Dois candidatos de esquerda e um candidato de centro. Minha candidatura é a única da direita em São Paulo”, diz.
Apesar de não contar com o apoio de Bolsonaro, que tende a ficar ao lado do prefeito Ricardo Nunes, ela afirma que o paulistano quer algo “de verdade”, e que suas propostas vão atrair o eleitorado de direita. Marina tem criticado a política de segurança pública da gestão atual. Se eleita, ela pretende triplicar o orçamento da área e duplicar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Além disso, a pré-candidata diz que quer ampliar as parcerias público-privadas na educação. Ela esclarece que a proposta não é cobrar mensalidades nas escolas públicas, e sim entregá-las para a gestão privada.