Marcelo Bratke é o convidado do Provocações, da TV Cultura
Músico conta sobre sua infância e como aprendeu a tocar piano, instrumento com o qual se tornou concertista de renome, apesar da pouca visão até os 44 anos.
- Data: 02/09/2013 09:09
- Alterado: 02/09/2013 09:09
- Autor: Redação
- Fonte: Fundação Padre Anchieta
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Antônio Abujamra entrevista o pianista Marcelo Bratke no Provocações, nesta terça-feira (3/9), às 23h, na TV Cultura. O músico fala sobre sua infância, a vida na escola e como aprendeu a tocar piano com a pouquíssima visão que tinha.
Pianista de fama internacional, Bratke ganhou o mundo com seu talento, mas nunca aceitou a sua condição de deficiente visual. Prosseguiu a carreira sem que ninguém percebesse sua limitação visual. “Me diziam que eu enxergava mal de um olho e bem do outro, porque, como não tinha solução, era o que minha família e os médicos diziam. E eu achava que era isso, como eu não enxergava, não sabia o que era enxergar. Eu mesmo não sabia em que grau de dificuldade estava”. Na verdade, Marcelo tinha apenas 7% de visão num olho e 2% no outro.
Um rádio antigo foi seu grande companheiro quando criança e, ouvindo o pai tocar piano, as notas musicais foram despertando seu interesse, “Foi o Prelúdio nº 4 de Chopin, tocado pelo meu pai. Eu adorei aquilo e fui tentar imitar no teclado. Depois de uma meia hora já tocava metade do prelúdio, mal, mas ele achou que eu tinha talento e chamou uma professora”.
Bratke foi descoberto ainda jovem por ninguém menos que o maestro Eleazar de Carvalho. Mas foi com uma professora de piano que ele desenvolveu uma técnica de aprendizado e memorização de partituras. “Eu buscava, num sistema que eu inventei um pouco braile de tocar piano com as mãos muito perto do teclado, não ter aqueles saltos. Foi uma técnica que eu mesmo inventei pra tocar piano sem riscos. E a memória era uma coisa que acontecia inerente à minha racionalização. Eu memorizava muito rápido, porque se eu tivesse que realmente ficar relendo as partituras, era muito sofrido”, conta
Marcelo nunca admitiu que era cego. Nos Estados Unidos ficou indignado com o diagnóstico de um famoso oftalmologista que o determinou tecnicamente cego. “A minha reação foi: ‘eu vou embora desse país, ele me chamou de cego, eu não sou cego’. Eu achava que não era realmente, que eu não tinha uma deficiência tão grande. Então eu escondia de todo mundo esse problema, não gostava de falar desse assunto.” No Brasil, os médicos diziam que era muito arriscado operar sua ambliopia.” Então eu sempre falava: não, é melhor eu continuar com esse olho que eu me viro até hoje’, mas era muito difícil, a minha vida foi piorando bastante”.
Após muita insistência e relutância, Marcelo Bratke aceitou ser operado. Após sua cirurgia em um hospital de Boston (EUA), ele conheceu seu próprio rosto, a esposa com quem estava casado há mais de 25 anos e aceitou que era realmente uma pessoa praticamente cega antes da operação.
No programa, ele diz: “Ver o mundo desse jeito me fez inclusive ver melhor as diferenças sociais, principalmente em São Paulo”. Marcelo Bratke fez apresentações com jovens percursionistas do Jardim Miriam (SP), no Carnegie Hall (NY) e uma turnê com jovens da periferia de Vitória (ES), pela Europa.
Marcelo Bratke, que hoje tem 53 anos, vai ter sua história contada pela inglesa Kate Snell, uma das biógrafas da princesa Diana.
Classificação indicativa: 14 anos