Mais de 50% das mulheres negras no Brasil sofrem violência doméstica antes dos 25 anos
Violência psicológica prevalece em 87% dos casos
- Data: 28/11/2024 10:11
- Alterado: 28/11/2024 10:11
- Autor: Redação
- Fonte: Agência Brasil
Crédito:Arquivo/Agência Brasil
Um estudo conduzido pelo DataSenado e pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, revela que mais da metade das mulheres negras no Brasil (53%) vivenciou agressões domésticas pela primeira vez antes dos 25 anos. Este levantamento, intitulado Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra, destaca a prevalência da violência entre jovens desse grupo.
Ao detalhar os tipos de violência enfrentados, a pesquisa mostra que 87% das mulheres negras relataram ter sofrido agressões psicológicas, 78% físicas, 33% patrimoniais e 25% sexuais. Nos últimos 12 anos, entre as entrevistadas que passaram por algum tipo de violência, 18% enfrentaram falsas acusações, enquanto 17% lidaram com episódios de gritaria ou quebra de objetos. Além disso, 16% foram insultadas e humilhadas, e 10% receberam ameaças diretas.
A pesquisa abrangeu 13.977 mulheres negras brasileiras com idade a partir de 16 anos, entre os dias 21 de agosto e 25 de setembro de 2023, abrangendo todas as unidades da Federação. Para fins do estudo, consideraram-se negras as mulheres que se autodeclaram como pretas ou pardas. A margem de confiança dos resultados é de 95%.
O foco no grupo das mulheres negras se justifica pela sua maior vulnerabilidade à violência no Brasil. Estatísticas do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp) indicam que entre as vítimas de violência sexual que registraram a cor/raça nas ocorrências policiais, 62% eram pretas ou pardas. Além disso, dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) apontam que, dentre as 3.373 mulheres assassinadas em 2022 com informações de raça e cor registradas, 67% eram negras.
O estudo também investigou os mecanismos de suporte procurados pelas vítimas. Constatou-se que 60% das mulheres agredidas recorreram à família em busca de apoio, enquanto 45% buscaram ajuda na igreja e 41% contaram com amigos. Apenas uma minoria recorreu à intervenção formal: 32% dirigiram-se a delegacias comuns e 23% à Delegacia da Mulher.
Apesar do alto índice de mulheres negras que buscam apoio policial (55%), somente 28% solicitam medidas protetivas. Dessas solicitações, em quase metade dos casos (48%), as ordens judiciais são ignoradas pelos agressores.
Milene Tomoike, analista do Observatório da Mulher Contra a Violência, observa que esses dados evidenciam um ciclo persistente de silenciamento e continuidade da violência. Ela enfatiza a necessidade urgente de fortalecer iniciativas preventivas e ampliar políticas públicas para assegurar um suporte mais efetivo às vítimas. “A expansão do acesso a serviços especializados é crucial para proporcionar acolhimento seguro e oportunidades concretas para a reconstrução das vidas dessas mulheres”, conclui Milene.