Lula escolhe ministra negra para TSE: quebra paradigmas ou aceno político?
Com o término do mandato da ministra Maria Cláudia Bucchianeri que se despediu em agosto do TSE, o posto na corte, reacendeu um velho debate sobre critério de escolha baseado em acomodação partidária ou "afago" político, no que diz respeito a indicação de determinado cargo ou vaga na política
- Data: 23/12/2023 18:12
- Alterado: 23/12/2023 19:12
- Autor: João Pedro Mello
- Fonte: ABCdoABC
Crédito:Marcos Oliveira - 17.nov.2023/Agência Senado
Na tarde de ontem (22), foi escolhida pelo presidente Lula (PT), a advogada a Vera Lúcia Santana Araújo, para o vaga de ministra substituta com o encerramento das funções da ministra Maria Cláudia Bucchianeri, quando abriu ensejo para uma nova cadeira.
O timming não poderia ser mais perfeito, senão logo após ter sido sancionado pelo presidente Lula, o PL nº 5282/2023, que torna o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, feriado em todo o país.
A nomeação que instituiu mais 20 estados que se juntaram aos seis que já celebravam a data com um feriado em todo o território nacional, somada a sanção presidencial, é um importante movimento, que finaliza o primeiro ano da gestão Lula consolidando outro significante aceno aos eleitores de sua base governista.
Dentre o corpo que integram a titularidade da Corte Eleitoral, eles se dividem entre nomes do Supremo, STJ (Superior Tribunal de Justiça) e advocacia, sendo eles: os ministros Alexandre de Moraes, Kassio Nunes Marques, Cármen Lúcia, Raul Araújo, Isabel Gallotti, André Ramos Tavares e Floriano Azevedo, respectivamente.
Já acerca do campo suplente do tribunal, atualmente, estão relacionados André Mendonça, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Antônio Carlos Ferreira, além da penúltima indicação do presidente Lula, a advogada Edilene Lôbo.
A escolha de Lula não apenas faz sentido com o DNA do partido do Trabalhadores (PT), mas atende aos anseios condizentes ao que diz respeito acerca de toda trajetória de lutas, tanto no campo da constituinte, como ao observar a história da advogada frente a batalha pela anistia, ou quando integrou grupos como o Movimento Negro Unificado, ou o movimento de combate as discriminações, conhecido como “lobby do batom”, tendo participação ativa na defesa dos direitos e causas das mulheres, além é claro de ter sido ser assessora de Sigmaringa Seixas, um do advogados mais leais ao presidente.
A insustentável leveza entre a quebra de paradigma e o jogo de cena
Muito embora em seu cerne de campanha, a partir de uma genética do próprio partido, o PT tente ao menos de maneira aparente andar sempre junto aos interesses do povo, enganam-se — os últimos românticos, que vislumbram o mundo onde o cenário é quase lúdico, pra não se dizer no mínimo fantasioso —, a política é um local de acenos ou piscadelas, de se engolir girino feito hóstia no domingo de manhã. Mas o que isso significa? Não são raros os momentos em que o preço para o justo é mais caro que a encomenda para o curso. O caminho universal da política tem seus trajetos espinhosos.
Se hoje temos Vera Lúcia Santana chegando a um grande posto de destaque no TSE, olhando um pouquinho para trás, vemos a mesma advogada, anteriormente com a possibilidade de indicação de Lula para a cadeira da ex-ministra Rosa Weber, que estava em vias de deixar o cargo, no Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, Vera Lúcia foi preterida Flávio Dino (Ministro da Justiça e Segurança Pública).
É importante lembrar, este é o mesmo governo a pregar de maneira enérgica a igualdade gênero, e o mesmo a vender um discurso que nem sempre se sustenta com solidez. Mesmo assim, não existem partidos enraizados na transparência de seu próprio teto de vidro, quanto ao PT neste caso, onde salta aos olhos, também tem seus próprio poço artesiano de incoerências. E são justamente estas as incoerências, que a oposição adora se locupletar feito porco no chiqueiro. Ante aos discursos, que tanto se prega, tão ou semelhante ao caso de seu mais atual nêmeses, que nesse momento, ocupada na legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Partido Liberal (PL), que de liberal restou apenas o radical da nomenclatura, Bolsonaro criou uma aura de que se chegasse ao poder, iria acabar com toda a criminalidade e a corrupção.
O homem que se dizia incorruptível, e de maneira jocosa tentando estender o lastro etário de seu eleitor com expressões como “imbrochávell”, (pasmem). Hoje, com o avançar das investigações e a perda do foro privilegiado (que no passado se dizia também contrário), hoje se demonstra mais um político como qualquer outro. Apenas com um discurso impactante, mas no final das contas, mais do mesmo. Afinal de contas, em um país onde já tivemos um caçador de marajás, não era de se estranhar que aparecesse mais alguma personalidade pitoresca, pra dizer o mínimo.
Do outro lado, tivemos também (no meio do ano), a primeira ministra negra na história do TSE a receber a indicação de um presidente para o cargo. Portanto, não se pode manter uma narrativa apenas, pois sempre vão haver interesses (e um Brizola), por todos os lados. Infelizmente (pra nós brasileiros), tudo faz parte do jogo político, o que outrora, foi chamado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de “’toma lá, dá cá”, (depois virou o mais “novo” adepto da modalidade), tais como: acomodar cargos, e finalmente, as tais liberações de emendas de orçamento (que cai entre nós), só é secreto no papel, a gente sabe que onde há fumaça, certamente tem incêndio nessa floresta de incertezas. Mais tarde, Lula também fez questão de seguir o mesmo caminho. Dessa forma, quanto a nós, cabe torcer e esperar que as recentes indicações tenham efeito prático, não apenas político, mas técnico-efetivo para o país.
E finalmente, muda-se o ano, os personagens, mas as interpretações não podemos dizer que são tão diferentes, ou será que podemos? Por aí, já é mais que perceptível o vislumbre de uma linha bastante tênue e difícil de se navegar, a verdade é que, trata-se desse tal “ter que agradar” os partidos de sempre (ou não), as lideranças necessárias, e principalmente, estar pronto para afagar certas figuras que mais parecem tão ou bem mais difíceis, que o engolir do coaxar de um sapo.