Literatura negra no Ibirapuera ou festival de gastronomia afro no Mercadão? veja dicas em SP
Feira literária, festa de pratos africanos e desfile de moda na zona leste marcam as primeiras celebrações do Mês da Consciência Negra
- Data: 11/11/2023 11:11
- Alterado: 11/11/2023 11:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Divulgação/Freepick
Nos últimos anos, o mês de novembro passou a concentrar atividades e eventos inspirados pela luta e resistência da população negra contra o racismo. É um período simbólico que resgata o passado de escravização dos negros e do tráfico das populações africanas para o Brasil. O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, relembra a morte de Zumbi dos Palmares, último líder do quilombo dos Palmares.
É uma luta que se reveste de celebração e de orgulho a partir de iniciativas nas áreas de literatura, gastronomia, moda e empreendedorismo. O Estadão sugere três eventos deste final de semana, em regiões distintas da cidade, para você escolher a forma de entrar no clima das comemorações do Mês da Consciência Negra:
Feira Literária no Ibirapuera
Dentro do Parque do Ibirapuera, você terá contato com grandes nomes da literatura negra brasileira por meio de oficinas, debates, contação de histórias, teatro infantil, sarau, lançamentos, venda de livros e discotecagem na I Feira Literária Afro-Brasileira Carolina Maria de Jesus no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (MAB). Tudo isso na marquise do museu. E o melhor: as atividades são gratuitas!
“O evento busca disseminar a literatura negra brasileira com espaço de venda para editoras e escritores independentes e principalmente celebrar as narrativas negras através da arte da palavra escrita, falada e interpretada”, explica Zélia Peixoto, coordenadora de Produção e Programação do MAB.
Janaina Melo, bibliotecária do museu, explica que uma pesquisa detalhada convidou produtores literários das antigas e novas gerações para atrair público de todas as idades. Uma das mesas de discussão mais aguardadas foi intitulada “Quilombhoje e as Narrativas dos Cadernos Negros”, com Esmeralda Ribeiro e Luiz Silva, o Cut, os fundadores dos Cadernos Negros, referência na história da literatura negra no País.
A primeira edição do evento não poderia deixar de homenagear Carolina Maria de Jesus, escritora, poetisa, cantora e compositora e que também batiza a biblioteca da instituição. Vera Eunice, filha de Carolina, vai participar de uma mesa de debates com a escritora Fernanda Miranda sobre a importância para a literatura brasileira e mundial. Outro destaque é a participação do coletivo de escritoras pretas Carolinianas, que lança um volume com o mesmo nome que tem como inspiração o legado de Carolina.
Para Janaina, a história da autora, assim como de tantas outras escritoras negras, sofre constantemente um grande apagamento histórico. “Muitas pessoas só conhecem a trajetória e produção literária de Carolina por terceiras pessoas, nunca é pelo ciclo de ensino”, afirma.
Zélia observa a importância do evento como forma de combate ao racismo no mercado editorial. Nesse contexto, o mercado independente marca presença, com a participação de editoras importantes que vão apresentar seus catálogos e novidades, como a Livraria Africanidades, e também autores independentes que vão vender suas obras e interagir com o público. Entre eles está o Poeta CJ, que atua na cultura slam, declamação de versos em espaços públicos inspirada pelo rap.
“Comemorar a existência de uma escritora tão brilhante e toda a sua atuação em questões sociais do Brasil é também combater o racismo estrutural que está presente inclusive em grandes editoras, festivais e prêmios literários”, completa Zélia.
“Esse primeiro festival de literatura é ainda mais importante porque trata da questão das narrativas negras do nosso País. O Museu Afro é um museu histórico da nossa secretaria, um museu importante, localizado estrategicamente no Parque do Ibirapuera, portanto, acessível a todas as pessoas”, diz Marília Marton, secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.
Gastronomia no Mercadão
A 9.ª edição do Festival de Gastronomia e Cultura do Mercado Municipal Paulistano de São Paulo, o popular Mercadão, vai homenagear o continente africano. São dois dias dedicados às comidas típicas, artesanatos e atrações turísticas de países como Congo, Angola, Somália, Nigéria, Quênia e África do Sul.
Na gastronomia, os destaques são os pratos veganos e vegetarianos do restaurante Congolinaria; a cozinha ancestral da chef Dani Pimenta, como o pudim de dendê e a moamba de galinha; o abará do Ojo bahiano além dos bolos pufpuf e da cocada da Marcia Doces. O Centro Cultural Casa de Angola vai demonstrar ainda o Calulu à moda da Angola (peixe, carne seca, mufete e feijão com óleo de dendê).
Para beber, os visitantes podem conhecer os sucos Sobolo (hibisco com abacaxi e gengibre), Tangawisi (gengribre, abacaxi e limão) e o Bissap (flor de hibisco com manga).
O festival é organizado pela concessionária Mercado SP, que administra o Mercadão, em parceria com a Prefeitura de São Paulo com apoio da Instituição Afroturismo e o Centro Cultural Casa de Angola. “A influência dos países africanos sobre nós é mais presente do que muitos imaginam. Celebrar essa cultura, trazendo a sua essência é também uma forma de reconhecer pessoas, e as comidas, bebidas e sons que nos definem como brasileiros. O Mercado de São Paulo é um local de união e encontro dos povos, das mais variadas etnias e culturas”, diz Aldo Bonametti, CEO da Mercado SP S.A.
Desfile de moda na Zona Leste
Para incentivar o afroempreendedorismo, a economia local e a cultura preta periférica, a 2.ª edição do evento “Cria na Vila Moda Estética Favela” pretende atrair duas mil pessoas para o Jardim Lapena, zona leste da cidade. Na primeira edição, realizada em 2022, 700 pessoas participaram das atividades.
Moradoras e artesãos vão expor produtos que valorizam a cultura afro-brasileira, como artesanato, roupas étnicas e antiguidades, em uma programação que reúne ainda sarau e espaço gastronômico. Um dos momentos mais esperados do evento é o desfile de moda com roupas feitas pelas artesãs do bairro apresentadas por modelos locais. Tudo inspirado na moda afro.
A articulação com as expositoras locais e parceiros e a mobilização do público foram lideradas pela artista Tayane Caroline, de 29 anos. Conhecida como Negra Thay, ela é ativista pelas causas sociais da região como integrante do Comitê de Artistas do Território do Jardim Lapena, responsável pela iniciativa ao lado do Coletivo Marginaliaria, com apoio da Fundação Tide Setubal.
Proprietária de um salão de beleza no Jardim Lapena, a ativista conta que o festival busca oferecer a oportunidade do cuidado à comunidade a partir da moda e da beleza. “É um evento realizado com as empreendedoras do território com o intuito de expor o seu trabalho, fomentar a economia local e criativa, além de potencializar a autoestima e o autocuidado dos moradores que vão à feira”, explica.
“Nossa ideia é quebrar tabus, é revelar a diversidade da nossa população, da nossa cultura. É uma ruptura do padrão tradicional dos desfiles de modas”, justifica Negra Thay.
Este conteúdo foi produzido em parceria com o Museu Afro Brasil, a Instituição Afroturismo e o Coletivo de Artistas do Território do Jardim Lapena
Serviço
I Feira Literária Afro-Brasileira Carolina Maria de Jesus
Local: Museu Afro Brasil Av. Pedro Álvares Cabral | Parque Ibirapuera | Portão 10
Fone: 55 11 3320 8900
Datas: Sábado, 11 de novembro: das 10h às 18h
Domingo, 12 de novembro: das 11h às 18h
Festival de Gastronomia e Cultura – Edição África
Local: Mercado Municipal Paulistano – Mercadão
Rua da Cantareira, 306 – Centro Histórico de São Paulo
Data: 11 e 12 de novembro
Horário: das 10 às 16h – Entrada gratuita
2ª Edição do Cria na Vila Feira Estética
Endereço: Galpão ZL (R. Serra da Juruoca, 112 – Jardim Lapena, São Paulo)
Data: 12/11
Horário: 12h às 20h – Entrada franca