Líderes da América Latina se manifestam após renúncia de Evo Morales
Apesar de a maioria de líderes e políticos concordar com a necessidade de novas eleições, não há consenso sobre se houve ou não um golpe de Estado no país
- Data: 11/11/2019 15:11
- Alterado: 11/11/2019 15:11
- Autor: Redação
- Fonte: Agência Brasil
Crédito:Reprodução
Horas antes de renunciar, o líder boliviano havia reconhecido o resultado da auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA), que determinou que houve irregularidades nas eleições do dia 20 de outubro. Ele solicitou que fossem realizadas novas eleições, com a renovação total do Tribunal Supremo Eleitoral.
No entanto, a declaração de Evo Morales não foi suficiente para acalmar os ânimos e as manifestações violentas continuaram por todo o país.
“Renuncio para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo, sequestrando e maltratando meus ministros, líderes sindicais e suas famílias e para que não continuem prejudicando comerciantes, sindicatos, profissionais independentes e transportadores que têm o direito de trabalhar”, assim Evo Morales anunciou sua renúncia no Twitter.
Morales ainda é presidente da Bolívia
Apesar de o presidente da Bolívia, Evo Morales, ter anunciado a sua renúncia ontem (10), sua carta ainda precisa ser oficialmente recebida e acatada pelo Congresso para que ele deixe de ser o mandatário do país.
Ontem, também anunciaram suas renúncias Álvaro García Linera, vice-presidente do país, Víctor Borda, presidente da Câmara de Deputados, e Adriana Salvatierra, presidente do Senado.
Como o Legislativo ainda está sem uma liderança, devido às renúncias dos presidentes da Câmara e do Senado, a renúncia de Morales ainda não foi acatada. Cabe agora ao Legislativo escolher um novo presidente para o Senado, para que ele possa receber a renúncia de Morales e dar início ao processo de novas eleições.
Reações
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em seu twitter na noite de ontem (10) que as denúncias de fraudes nas eleições culminaram na renúncia de Evo Morales. “A lição que fica para nós é a necessidade, em nome da democracia e transparência, contagem de votos que possam ser auditados. O VOTO IMPRESSO é sinal de clareza para o Brasil!”, disse Bolsonaro.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, em nota, manifestou preocupação com as irregularidades apontadas pela OEA e defendeu a necessidade de um novo processo eleitoral. “O Brasil estima que o novo sufrágio deve ser dotado de todas as condições para assegurar sua absoluta transparência e legitimidade. Nesse sentido, o novo sufrágio deve ser presidido por autoridades reconhecidas por sua honorabilidade e credibilidade para garantir o soberano desejo dos bolivianos, e contar com observação internacional em todas as etapas do processo”, diz a nota.
No Equador, nota divulgada pelo ministério das Relações Exteriores, enfatiza que a auditoria da OEA não deixou dúvidas: “as eleições presidenciais de 20 de outubro sofreram graves erros, manipulação informática e de transparência e, portanto, seus resultados carecem de legitimidade”. A nota diz ainda que o governo equatoriano confia que “a vocação pacífica e democrática do povo boliviano contribuirá para a restauração completa do sistema democrático no âmbito da Constituição e da lei, com a organização de novas eleições livres, transparentes, convocadas por um tribunal eleitoral renovado e acompanhadas da participação de países amigos, OEA e outros mecanismos internacionais”.
O governo peruano segue na mesma linha, pedindo a realização de novas eleições, em um processo “com as devidas garantias de transparência e acompanhamento da Organização dos Estados Americanos e de outras instâncias internacionais”.
O governo do Chile expressou preocupação com a interrupção do processo eleitoral e com a crise pela qual a sociedade boliviana está passando. E apelou “por uma rápida solução pacífica e democrática, no âmbito da Constituição e das leis do Estado Plurinacional da Bolívia”.
Na vizinha Argentina, o presidente eleito Alberto Fernández, que tomará posse dentro de um mês, também classificou a situação como golpe de Estado. Ele escreveu no twitter: “Na Bolívia foi consumado um golpe de estado como resultado de ações conjuntas de civis violentos, pessoal policial isolado e passividade do exército. É um golpe perpetrado contra o Presidente @evoespueblo, que pedia um novo processo eleitoral”.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina publicou nota na qual afirma que diante da renúncia de Morales, o governo argentino apela aos atores políticos e sociais pela preservação da paz e do diálogo. E conclui que novas eleições “com o acompanhamento de países da região, bem como de organizações internacionais e observadores imparciais, é a melhor maneira de superar, com total transparência e espírito democrático, a atual crise que afeta ao povo irmão boliviano”.
No Uruguai, o governo considerou que houve golpe na Bolívia. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o colapso do Estado de Direito na Bolívia forçou o presidente Evo Morales a sair do poder e mergulhou o país no caos e na violência. “O Uruguai considera que não há argumento que possa justificar esses atos, em particular, tendo Morales anunciado algumas horas antes sua intenção de convocar novas eleições, com base no relatório produzido pela missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos”.