Lentidão do Ministério da Saúde provoca corrida de governadores e prefeitos por vacina

Parte dos gestores recorre à gestão Doria, de São Paulo, para obter doses da Coronavac, enquanto outros já preveem negociação direta com a Pfizer

  • Data: 08/12/2020 10:12
  • Alterado: 08/12/2020 10:12
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Lentidão do Ministério da Saúde provoca corrida de governadores e prefeitos por vacina

Governadores e prefeitos têm se mobilizado por conta própria para conseguir imunizantes

Crédito:Reprodução

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Diante da demora do governo federal de fechar acordos de compra ou antecipar a campanha de vacinação contra a covid-19, prevista para começar em março pelo Ministério da Saúde, governadores e prefeitos têm se mobilizado por conta própria para conseguir imunizantes. Parte dos gestores recorre à gestão João Doria (PSDB), de São Paulo, para obter doses da Coronavac, desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O plano paulista é iniciar a imunização em 25 de janeiro. Outros governos já preveem negociação direta com a Pfizer, cuja vacina teve 95% de eficácia, se fracassar o negócio com a União.  Nessa segunda, 7, o ministério disse negociar 70 milhões de doses com a farmacêutica americana, com entrega para 2021.

O governo Bolsonaro tem apostado na vacina da Universidade de Oxford, que tem parceria com a Fiocruz (100,4 milhões de doses). Mas os cientistas admitiram erros e a necessidade de ampliar testes para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro. A pasta espera ainda doses para 10% da população pela Covax (42,5 milhões de doses), consórcio liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda sem data.

O governo tem resistido à compra de outras vacinas, como a da Pfizer, que deu prazo até esta semana para ter resposta. Para especialistas, governos locais podem ter programas próprios de imunização, desde que haja aval da Anvisa. Doria disse que serão oferecidas 4 milhões de doses a outros Estados para profissionais de saúde. A Coronavac, porém, ainda não teve resultados de testes sobre eficácia divulgados e depende de registro da Anvisa.

Segundo Doria, oito unidades da federação já manifestaram interesse pela Coronavac. O governador Camilo Santana (PT), do Ceará, escreveu nas redes sociais que conversa com Doria desde novembro. João Azevêdo (Cidadania), da Paraíba, disse ter liberado sua equipe para negociar com São Paulo. “É uma ação paralela ao plano do Ministério da Saúde, para nos anteciparmos e começarmos a vacinação o quanto antes”, disse, também nas redes.

Já o secretário da Saúde do Maranhão, Carlos Eduardo Lula, confirmou à reportagem que deve receber doses. “O Maranhão, com certeza, já fez tratativas com São Paulo”, disse. Ele não informou o total de doses nem os primeiros grupos vacinados. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou nesta segunda que fará viagem a São Paulo (SP) para assinar protocolo de intenções com o Instituto Butantã, órgão paulista que é parceiro da Sinovac no desenvolvimento da vacina.

O prefeito Rafael Greca (DEM), de Curitiba, celebrou em vídeo um acordo que garante “reparte de vacinas para os profissionais de Saúde” da cidade no começo do ano. O consórcio de municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, que reúne 16 cidades, marcou encontro esta semana em São Paulo. “Esse movimento de descentralização da compra de vacinas não é comum, mas é válido. Não está claro o plano de aquisição de vacinas do governo federal”, disse Natan Katz, secretário de saúde adjunto de Porto Alegre. Adversário político de Doria, Bolsonaro teme que a Coronavac dê força ao tucano na eleição de 2022.

Espírito Santo já calcula verba para comprar imunizante da Pfizer

Outros Estados se preparam para uma negociação direta com a farmacêutica Pfizer se a conversa não avançar com o ministério. O Espírito Santo já calculou investir entre R$ 370 milhões e R$ 400 milhões em 6 milhões de doses do imunizante, que será usado a partir deste mês na Europa e no México.

Esse total de doses seria suficiente para imunizar todos os capixabas (menos o público infanto-juvenil), começando pelos grupos de risco, que somam um milhão. “Estabelecemos negociação com a Pfizer para o Estado. Não avançamos por causa da prerrogativa do ministério”, afirmou Nésio Medeiros, secretário de Saúde. “Se não for aceita pelo governo federal, a proposta da Pfizer talvez possa interessar aos governos estaduais.”

A Bahia faz cotações de cem freezers especiais para guardar a vacina da Pfizer, que precisa ficar a -70ºC. “Se a apresentação comercial for semelhante às vacinas da influenza (gripe), considerando a dose de 0,5 ml, cada frasco com 10ml teria 20 doses. Cada freezer armazenaria 1,5 mil frascos, em um total de 30 mil doses cada”, disse o secretário de Saúde, Fábio Villas-Boas. Mato Grosso também não descarta a compra direta.

A Pfizer diz ter solução para armazenar uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada e gelo seco. A vacina duraria 15 dias. A necessidade de baixíssimas temperaturas é o principal argumento para a resistência do ministério.

Outros Estados esperam definição do Ministério da Saúde

Mas negociações isoladas não são a aposta de todos os governos. Procurados, Rio, Pernambuco e Tocantins disseram aguardar definição federal. O ministro Eduardo Pazuello deve se reunir nesta terça-feira, 8, com governadores para tratar de vacinas – alguns participarão por vídeo.

“Não vemos necessidade de aquisições pontuais de vacina. Tão logo seja aprovada pela Anvisa, a vacina será distribuída em todos os estados”, diz André Longo, secretário de Pernambuco. “A Secretaria de Estado da Saúde informa que aguarda orientações do Ministério da Saúde quanto à vacina contra a covid-19 que será incluída no Programa Nacional de Imunizações bem como os públicos alvos e grupos prioritários”, diz nota do governo de Tocantins. O Estado do Rio enviou nota idêntica. “Cabe ao Ministério da Saúde a aquisição dos imunobiológicos que compõem todo o calendário vacinal e as campanhas de vacinação”.

O Paraná desenvolveu seu próprio acordo para produção de vacinas ainda em agosto com o governo da Rússia. Os paranaenses vão testar, produzir e distribuir a vacina após a validação da Anvisa. Os resultados da fase 3 dos testes ainda não foram divulgados. O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), laboratório público oficial, informa que tem sido procurado por companhias farmacêuticas para projetos conjuntos, “mas em função de acordos de confidencialidade não pode realizar a divulgação dos termos dos contatos”.

Paralelamente às discussões sobre aquisição da vacina, vários Estados já montam a infraestrutura para distribuição à população. Santa Catarina está levantando as Unidades Básicas de Saúde (UBS) que têm equipamentos com capacidade abaixo dos -40ºC, e reforçando o treinamento dos vacinadores. No fim de novembro, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), divulgou o estoque 7,5 milhões de seringas descartáveis para distribuição aos municípios. Os capixabas já compraram outros sete milhões. “Se as vacinas chegarem em janeiro, temos condições de começar a vacinar imediatamente”, diz o secretário capixaba Nésio Medeiros, que pretende vacinar um milhão de pessoas por mês.

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