Lenda do country John Prine morreu por complicações do coronavírus
Cantor influenciou Bob Dylan, Johnny Cash e até Bill Murray
- Data: 08/04/2020 07:04
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:
Descoberto por Kris Kristofferson, lançou seu primeiro disco de estúdio em 1971 e o álbum homônimo foi celebrado como um dos melhores daquele ano pelo público e pela crítica.
O produtor musical Hal Willner, que também morreu nesta terça aos 64 anos de coronavírus, chegou a pedir que as pessoas mandassem amor para o músico John Prine, em sua última postagem na rede social.
Johnny Cash em sua autobiografia escreveu: “Eu não ouço muita música na fazenda, a não ser que comece a entrar no modo de composição e precise procurar por inspiração. Aí eu coloco algo dos compositores que eu admirei e usei todos esses anos, Rodney Crowell, John Prine, Guy Clark e o saudoso Steve Goodman formam o meu ‘Big Four’”.
Conhecido por contar causos da sua vida, ele chamou a atenção de gigantes como Bob Dylan, que disse em 2009 que John era um dos seus compositores favoritos, destacando a canção “Sam Stone”.
“Tem um buraco no braço do papai para onde todo o dinheiro vai. Acho que Jesus morreu por nada”.
Essa é parte da letra de Sam Stone, um dos clássicos de John Prine. Enquanto muitos exaltavam os soldados que lutavam no Vietnã, ele decidiu mostrar a realidade de quem voltava da guerra. Um veterano que começa a roubar para sustentar o vício em heroína, a única coisa que consegue anestesiar as angústias criadas durante o conflito do outro lado do mundo. É uma verdade dura dita por quem fazia parte de uma comunidade extremamente conservadora – o country.
John Prine sobreviveu a um câncer severo no pescoço que refundou sua carreira com uma voz totalmente diferente, mas, aos 73 anos, não resistiu a complicações causadas pela infecção do coronavírus.
É difícil explicar como um ex-carteiro pode ter influenciado gente do calibre de Bob Dylan, um prêmio Nobel de Literatura, e Johnny Cash. A música é assim, muitas vezes as canções mais urgentes saem dos lugares menos esperados.
As redes sociais começam a ser inundadas por mensagens de gente que amava o cantor: John Cusack, Michael Moore, Stephen King. Aqui um vídeo (antigo) de Bill Murray sobre como a antologia Great Days, indicada por Hunter Thompson, ajudou ele a superar uma fossa profunda.
O último disco dele, The Tree of Forgiveness, traz uma voz marcante, muito rouca, de quem sobreviveu a um câncer grave. Ele teve que reconquistar a confiança e aprender a cantar novamente. As letras são cheias de sabedoria de alguém que já viu tudo. Em uma entrevista depois do lançamento do álbum, ele contou que precisou sair de casa e se hospedar em um hotel para mudar a rotina e ter a disciplina para compor. É uma pena que ele tenha feito check-in no andar de cima durante essa pandemia, ele ainda tinha algumas coisas para ensinar ao mundo.