Kobra finaliza pintura ao vivo durante concerto em homenagem a Villa-Lobos
Artista brasileiro participa de um concerto em homenagem aos 135 anos do nascimento do músico Heitor Villa-Lobos (1887-1959) no Teatro Municipal SP
- Data: 03/03/2022 15:03
- Alterado: 17/08/2023 08:08
- Autor: Redação
- Fonte: Teatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo
Crédito:Sylvia Masini
Reconhecido mundialmente, o artista brasileiro Eduardo Kobra fará algo inédito em suas mais de três décadas de carreira: no próximo sábado (5), ele participa de um concerto em homenagem aos 135 anos do nascimento do músico Heitor Villa-Lobos (1887-1959) no Teatro Municipal de São Paulo.
Enquanto a Orquestra Sinfônica Municipal, regida pelo maestro Roberto Minczuk, executa as famosas ‘Bachianas’, Kobra finalizará, ao vivo nas laterais e no fundo do palco, três painéis que também aludem à genialidade do compositor brasileiro. O espetáculo, chamado de ‘Villa Total’, será dividido em duas partes, ambas no dia 5 – a primeira começa às 16h, a outras às 21h30.
“Será uma experiência única e fiquei entusiasmado com a ideia desde que recebi o convite do maestro, ainda no ano passado. Foram semanas de estudos, em que mergulhei na obra e na história de Villa-Lobos e planejamos as imagens que melhor corresponderiam ao momento”, comenta Kobra. “Espero que o público goste de acompanhar essas, digamos, pinceladas finais, ao mesmo tempo em que a obra de Villa-Lobos será executada por essa importantíssima orquestra brasileira.”
Significados
Trata-se de uma participação cheia de significados. Os painéis laterais trazem, respectivamente, as figuras de Villa-Lobos e do compositor germânico Johann Sebastian Bach (1685-1750). Bach era o compositor de predileção de Villa-Lobos — que se apropriou muito de sua técnica para produzir uma música instrumental considerada moderna. Não à toa, o conjunto mais famoso de Villa-Lobos acabou batizado de ‘Bachianas Brasileiras’.
Nos painéis de Kobra, as linhas de uma partitura musical se confundem com os cabelos de ambos os compositores. “Acabou criando um efeito interessante, por causa do penteado de cada um deles. No final, tem-se a impressão visual de que Bach, gênio do barroco musical, tinha uma partitura mais rebuscada e com aparência de organizada. E Villa-Lobos, um dos participantes da Semana de Arte Moderna, ganhou uma representação de partitura mais caótica. Considerando a evolução da história da arte como um todo, achei que ficou uma ideia bem-resolvida”, comenta o artista Kobra.
O painel principal será instalado no fundo do palco. Ali, Kobra criará uma releitura do Cristo Redentor como maestro, tendo as icônicas calçadas paulistanas de fundo. “Mais do que um símbolo carioca, é o principal cartão-postal do Brasil. E a Semana de Arte Moderna aconteceu há 100 anos, exatamente em São Paulo, exatamente nesse Teatro Municipal. Com a participação de Villa-Lobos, também um carioca”, diz o artista.
O símbolo turístico-cultural brasileiro, reconhecido mundialmente, funciona então como metáfora para o marco fundador da cultura nacional, como a Semana de 22 costuma ser avaliada. É o monumento máximo do Brasil regendo o futuro cultural. Ao mesmo tempo, é um símbolo do Rio em São Paulo, dando também essa ideia de que não existe um centro apenas do fazer arte — é a mistura que resulta na grandeza do país.
“Acredito que desta maneira conseguimos enaltecer a genialidade de Villa-Lobos e, ao mesmo tempo, situá-lo como um dos principais participantes da Semana de Arte Moderna que aconteceu há 100 anos”, pontua Kobra.
Uma outra camada de leitura ainda permite ver o Cristo Redentor como um elo a mais de ligação entre Bach e Villa-Lobos. O primeiro era um cristão fervoroso, seguia o protestantismo de linha luterana e teve, entre suas principais composições, missas latinas e motetos sobre passagens bíblicas. Já Villa-Lobos, que nasceu e morreu no Rio de Janeiro, foi a proeminente figura carioca entre os modernistas de 22 — e, portanto, pode muito bem ser representado pelo símbolo máximo da paisagem de lá.
“E, é preciso frisar, principalmente nesses tempos de guerra e violências pelo mundo: o Cristo Redentor é, acima de tudo, um símbolo de paz. Quando o vislumbro regendo, desejo que essa regência também seja a regência de uma paz mundial”, afirma.
Além de tudo, há ainda um outro significado — que também dialoga profundamente com os ideais difundidos desde cem anos atrás pelos defensores da arte moderna. Kobra nasceu na periferia paulistana, teve um passado como pichador e se tornou um dos principais expoentes da chamada street art.
“Estar pintando dentro do Municipal tem um peso enorme. O peso de uma instituição de mais de 110 anos, historicamente ligada às manifestações artísticas mais clássicas, que abre as suas portas e permite que alguém que pinta nas ruas, e orgulhosamente nas ruas do mundo todo, faça sua arte em seu palco“, diz Kobra.