Jogos Paralímpicos de Paris terão doutoranda da USP no para-remo e ex-aluna técnica da natação
Evento começa nesta quarta-feira (28) com a maior delegação paralímpica convocada para uma edição fora do País
- Data: 28/08/2024 09:08
- Alterado: 28/08/2024 09:08
- Autor: Redação
- Fonte: Agência SP
Alina Dumas, doutoranda da Faculdade de Medicina da USP e atleta paralímpica
Crédito:Agência SP
A partir desta quarta-feira (28), será dada a largada para a Paralimpíada de 2024. Neste ano, o Brasil contará com a maior delegação paralímpica convocada em todas as edições dos jogos. Serão 280 atletas brasileiros nos Jogos Paralímpicos de Paris, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (sendo 18 do atletismo e um do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.
Entre eles está Alina Dumas, atleta da Seleção Paralímpica Brasileira de Para-Remo, que também é doutoranda da Faculdade de Medicina (FM) da USP. Atualmente é a voga da equipe, que é a remadora que comanda o ritmo do barco com quatro atletas, todos com limitação motora, mas que utilizam tronco, pernas e braços.
A atleta tenta conciliar o estudo e sua pesquisa na área de medicina à sua paixão pelo remo. “Estou gostando muito de estudar, fazendo um projeto relacionado ao remo que achei muito interessante, e pretendo continuar com essa linha de pesquisa, na parte da saúde e metabolismo ósseo”, comenta.
Ela esteve em fase de treinamento para a competição no mês de junho na Raia Olímpica da USP, local em que fez também exercícios de fortalecimento, já que os seus companheiros de equipe estão treinando em localidades diferentes. “O objetivo foi evitar as lesões e focar nos detalhes que precisavam ser melhorados”, destacou Alina.
Argentina de nascimento, ela é naturalizada brasileira e sua história no esporte começou com a natação. O interesse pelo remo veio após assistir à modalidade em Londres em 2012, mas foi durante a sua graduação no Canadá, que, de fato, Alina começou a remar. Quando veio ao Brasil para continuar seus estudos, passou a remar ainda no remo convencional pelo Esporte Clube Pinheiros. Porém, em 2020, a atleta realizou uma série de cirurgias de reconstrução ligamentar no tornozelo e, devido a uma rejeição do corpo ao procedimento, Alina desenvolveu uma fibrose que passou a limitar a mobilidade do seu tornozelo esquerdo.
A partir daí, seu técnico e um colega do para-remo recomendaram que Alina fizesse a classificação do para-remo por conta dessa limitação. A atleta participou de duas classificações, uma em março e outra em junho, e acabou conquistando a ida a Paris 2024 na categoria e classe PR3 4+ – barco com quatro remadores e um timoneiro.
De atleta a técnica na natação
“A USP proporciona muitas coisas para nós e estando ali dentro tem que aproveitar o máximo possível”, conta Gabriele Bonfim, técnica da Seleção Paralímpica Brasileira de Natação e da equipe Catadão, que reúne atléticas da USP. Ela também é ex-aluna da Universidade e cursou Educação Física e Saúde na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each). Gabriele, que foi atleta profissional de natação, ingressou no curso com o objetivo de se tornar técnica do esporte. “No Brasil é muito difícil conseguir ser atleta profissional e também fazer um curso em uma faculdade, muitos acabam tendo que escolher. Mas eu consegui organizar a rotina e fui atleta por quase todos os anos da faculdade”, afirma.
A técnica ingressou no movimento paralímpico em 2014, por meio de estágios ainda durante a faculdade. Ao todo, Gabriele já participou de três ciclos paralímpicos – compostos de campeonatos mundiais, nacionais e Parapan-Americanos. A técnica conta que este será particularmente especial, uma vez que uma atleta especificamente do seu programa de treinamento estará em Paris. “Tem sido um ciclo bem árduo de trabalho, mas sempre é muito gratificante quando vamos para o evento e temos os resultados que planejamos”, pontua Gabriele.
Em Paris, ela acompanhará a delegação e a atleta Lídia Vieira da Cruz, que compete na modalidade e participará de categorias individuais e em equipe, ao longo de sete dias de prova. Além de técnica, Gabriele também atua como tapper – profissional que, por meio de um bastão com ponta de espuma, sinaliza aos nadadores com algum tipo de deficiência visual a proximidade das bordas para que ele possa realizar a virada ou a chegada no término da prova.
A delegação da natação embarcou para os jogos para uma fase de aclimatação em uma cidade do interior da França e os atletas estreiam nas piscinas a partir de quinta-feira, dia 29 de agosto, numa série de dez dias.
Aumento de visibilidade
Na história dos Jogos Paralímpicos, o Brasil já conquistou 373 medalhas, sendo 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze: está a 27 medalhas do seu 400º pódio no evento. A expectativa este ano é que, com o grande número de atletas, a delegação consiga também um número significativo de medalhas para o País.
A organização dos jogos tem o objetivo de aumentar a visibilidade e quantidade de espectadores para as Paralimpíadas. A expectativa do IPC (Comitê Paralímpico Internacional) é de que mais de 3 milhões de pessoas acompanhem os jogos pela televisão ao longo dos 11 dias de programação, com quase 600 eventos. Na própria cerimônia de encerramento, Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador da Olimpíada e da Paralimpíada de 2024, reafirmou que os jogos e todas as celebrações ainda não acabaram e fez um convite a todos a acompanharem os Jogos Paralímpicos.
Devido à dimensão global das Paralimpíadas, assim como as Olimpíadas, a edição de 2024 dá visibilidade à questão de gênero e a equidade. Mas se entre os atletas olímpicos a meta de equidade foi atingida, no contexto das Paralimpíadas as mulheres ainda são minoria. Na delegação brasileira, há 177 mulheres que irão competir em Paris. Essa já é a maior convocação feminina para a disputa por medalhas nos Jogos.