Jogo da ´Boneca Momo´ pode estar relacionado à morte de mais uma criança

Segunda a Revista Crescer, Momo aparece em vídeos de slime do YouTube Kids e ensina as crianças a se suicidarem. Discussão é reaquecida com nova tentativa de suicídio

  • Data: 18/03/2019 14:03
  • Alterado: 18/03/2019 14:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Jogo da ´Boneca Momo´ pode estar relacionado à morte de mais uma criança

Crédito:Reprodução YouTube

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Relato de mãe informa que sua filha teve acesso ao boneco assustador enquanto assistia a alguns de seus vídeos favoritos no YouTube Kids. O que deveria ser apenas um vídeo educativo de criança brincando de Slime era, na verdade, um verdadeiro filme de terror. Imagens “fofas” do aplicativo são interrompidas e surge o assustador personagem Momo, com cenas que ensinam, passo a passo, como as crianças devem fazer para, literalmente, cortar os pulsos.

Chamada de Momo, a boneca reacende o debate sobre a segurança de crianças e adolescentes online, após preocupações com o suposto desafio da Baleia Azul no ano passado. A boneca Momo é apontada em correntes de internet como um espírito que envia mensagens de terror, especialmente por um número japonês de WhatsApp. As discussões sobre a boneca cresceram nas redes sociais e em canais de YouTube a partir de meados de julho de 2018.

Isso deu origem a boatos de que criminosos teriam criado perfis falsos da Momo para abordar crianças e adolescentes pela internet, a fim de extrair informações, extorquir e manipular. O caso de maior repercussão atribuído supostamente à boneca é o de Artur Luis Barros dos Santos, de 9 anos, que foi encontrado enforcado no quintal de casa no Recife em 15 de agosto. Embora ainda esteja em investigação, há poucos indícios de que a morte do menino tenha sido causada por um perfil ligado à boneca – de acordo com Yêda Barbosa, advogada da família. A única ligação com a Momo é que o garoto havia mostrado rapidamente uma foto da boneca para a mãe, a professora Jany Nascimento. Após a morte do filho, ela soube por uma sobrinha de que existia um desafio de enforcamento compartilhado por perfis da boneca.

Especialista em crimes cibernéticos, Yêda acredita que o menino tenha morrido acidentalmente ao tentar cumprir um desafio de sufocamento divulgado pela internet, mas sem relação com a boneca. “Encontramos dados importantes que nos fazem crer”, aponta. De acordo com ela, Artur era de uma família de classe média, fazia natação e badminton e não apresentava nenhum sinal de depressão. “Não tinha motivos para suicídio”, afirma.

ORIGEM DA BONECA MOMO
A Momo é divulgada com a imagem de uma escultura japonesa de uma mulher-ave exibida na Vanilla Gallery, de Tóquio, em 2016. Ela começou a ser mais compartilhada a partir de julho, entrando em declínio no fim do mês, de acordo com dados do Google Trends. No Brasil, voltou a ser comentada após a divulgação da morte do menino pernambucano.

Na internet, ganhou repercussão em especial no YouTube, onde canais postam supostas conversas com a boneca como se fossem reais. Há, ainda, aqueles que criaram vídeos cômicos sobre o assunto. Por outro lado, pais têm compartilhado correntes que misturam informações falsas e verdadeiras sobre a Momo.

O jogo “Momo do Whatsapp” começa quando a criança ou adolescente adiciona a boneca “Momo” a algum dos seus grupos do aplicativo. A personagem é o avatar de uma mulher parecida com uma ave de olhos esbugalhados. Ela irá instruir os participantes do grupo a cumprirem certos desafios, entre os quais o último é cometer suicídio.

Caso os participantes se recusarem a participar, eles são ameaçados com uma maldição ou “feitiço maligno”. Durante o ano passado, foram registradas várias tentativas de suicídios por jovens e adolescentes influenciados pelo jogo.

CUIDADOS COM CRIANÇAS NA INTERNET
A situação tem reacendido debates sobre segurança de crianças e adolescentes na internet. A ONG Safernet chegou a emitir a nota com dicas para as famílias após ser procurada por pais e educadores. “Precisamos ter uma cautela muito grande para lidar com esse tipo de tema, porque pode despertar a curiosidade dos jovens, que entram em um circuito e buscam um conteúdo que nem sabiam que existia”, ressalta o diretor de Prevenção e Atendimento, Rodrigo Nejm.

No caso do Momo, por exemplo, ele diz que o conteúdo pode ser veiculado por alguns motivos. O mais simples deles é o de “zoeira” ou brincadeira, realizado especialmente entre adolescentes, mas há também aqueles que utilizam informações disponíveis na internet (a partir de pesquisas em redes sociais) para extorquir a criança ou adolescente.

Nejm lembra que, principalmente pelas redes sociais, é possível encontrar informações pessoais que podem ser utilizadas para dar a impressão de que o criminoso conhece a criança. “Alguns se aproveitam da onda do momento, que agora é o Momo, que já foi a Baleia Azul, para roubar conteúdo, dados. Uma vez aceita a conversa, já é possível ver o número, a foto e eventualmente até o nome completo”, ressalta.

Professor de Ciência e Computação da Mackenzie, Vivaldo Bretenitz afirma que o “perigo se inicia” realmente quando a criança ou adolescente estabelece uma conversa com a pessoa desconhecida. Dentro disso, é preciso estar atento a links que possam ser utilizados para extrair dados da vítima. “Fica mais complicado, porque estabelece uma conexão com o dispositivo.”

Além disso, a Safernet ressalta que a participação dos pais é importante. “Quando acontece alguma coisa, a criança ou adolescente sabe que fez besteira e tem medo de contar, por medo de levar bronca, ficar sem celular”, diz Nejm. Outra dica é não ridicularizar as crianças quando afirmam estar amedrontadas ou em sofrimento.

 “A internet é a maior praça pública do planeta. Como um espaço público, tem pessoas mal-intencionadas, não é 100% adequado para uma criança. Ela pode saber mexer, mas, dependendo da idade, não tem discernimento para diferenciar o que é lenda urbana.”

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  • Data: 18/03/2019 02:03
  • Alterado:18/03/2019 14:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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