Itaú Cultural realiza 6ª edição da sua Mostra de Dança
As reflexões se estendem, ainda, a conversas após as apresentações e a duas oficinas abertas ao público em geral
- Data: 20/10/2023 13:10
- Alterado: 20/10/2023 13:10
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Angelim Vermelho
Crédito:Paulo Cesar
O Itaú Cultural realiza de 26 de outubro a 5 de novembro (sempre de quinta-feira a domingo) a sexta edição da Mostra de Dança, cuja temática atualiza este gênero na contemporaneidade reverberando o corpo-memória. Inspirada pelo conceito de tempo espiralar, criado pela ensaísta Leda Maria Martins para captar temporalidades não-lineares, misturando passado, presente e futuro, a programação volta-se às ancestralidades e à escuta de corpos plurais, reunindo convidados do Amazonas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Chile para 13 apresentações, que acontecem no palco e na calçada em frente ao IC, dentro do projeto Arte na Rua.
Estão programados, ainda, encontros com especialistas da dança, sempre após a última apresentação da noite, e dois momentos de prática em um exercício de traduzir essa memória em movimento.
Os ingressos são gratuitos e disponibilizados semanalmente a partir da quarta-feira anterior às apresentações. As reservas devem ser feitas pela plataforma INTI (acesso pelo site www.itaucultural.org.br).
A Mostra de Dança começa no dia 26 (quinta-feira), às 20h, com dupla programação na Sala Itaú Cultural. A intérprete e coreógrafa paulista Eliana de Santana, diretora do grupo E² Cia de Teatro e Dança, abre a noite com o espetáculo Tudo Que é Imaginário Existe e Tem. O título norteia o conceito do espetáculo e se inspira em frase dita pela catadora de lixo Estamira Gomes de Sousa, conhecida por sua fala profética registrada no filme-documentário Estamira (2004), de Marcos Prado.
Neste solo, Eliana aprofunda a pesquisa da palavra, escrita ou cantada, como referência para as diversas possibilidades de construção no corpo ou na cena. Assim, transforma em movimentos e gestos a força das palavras de Estamira, um legado deixado por ela como testemunho de sua visão de mundo.
O segundo espetáculo é DeCor, da mineira Denise Stutz, radicada no Rio de Janeiro. A artista traz em seu corpo a memória e as relações da sua identidade na dança, na cena e no movimento. Segundo ela, este é o ponto de partida para se permitir brincar com o espaço e o tempo, fazendo da dança um jogo de imaginação. A artista transforma o espectador em parceiro dessa ação e o convida a ter um olhar de contemplação, imagens e pensamentos.
Após as apresentações, como acontecerá em todos os dias da mostra, a noite encerra com a conversa Pulsações, encontro para refletir sobre as reverberações de cada dança. Reunindo o público e os artistas, tem mediação de um convidado especial. Neste dia é o artista, educador e pesquisador em artes da cena Kleber Lourenço.
Na sexta-feira, 27, a mostra também apresenta dois espetáculos seguidos, a partir das 20h. Aqui, o corpo trans e o corpo não-binário são o centro. Artista baiana travestigênere, como ela se identifica, Alice Casagrand apresenta Entre o Corte da Navalha e o Sangue da Rosa. A obra questiona o olhar hipersexualizado e não-digno de afeto sobre os corpos travestis. O debate é relevante no Brasil – país que mais mata pessoas trans e, paradoxalmente, o que mais consome pornô trans.
Na sequência, o palco é do solo Bruta, com os chilenos da Compañía Amateur. Interpretado pelo performer Habib De la Jara, explora os limites corporais de um ser não-hegemônico. A obra, realizada em coprodução com a Fundación Santiago Off, busca a relação limite-corpo, desde o excesso físico, mental e fantasioso, para confrontar os espectadores com esses conceitos diante de um corpo brutal, puro e desenfreado.
A conversa Pulsações da noite recebe como mediadora Gal Martins, artista e pensadora em dança, criadora e diretora artística da Cia Sansacroma.
No sábado, 28, também às 20h, a Mostra de Dança tem sessão única e apresenta Sempre Mais que Um, com direção do paulista Marcus Moreno. A obra questiona como produzir um espaço de afeto coletivo. Nesta busca por respostas que possam ser construídas pela fisicalidade, os corpos de cinco intérpretes materializam imagens e são diluídos com o espaço em uma busca permanente por atualizar o momento presente. A proposta é pensar o “eu” do agora é o “eu” de muitos, atravessado por matérias, memórias, ancestralidades. “O eu é o outro, e é capaz de acionar distintas constelações a cada novo encontro”, observa ele.
Após a apresentação, o artista Kleber Lourenço volta à programação para mediar a conversa de reflexão sobre o espetáculo.
A primeira semana da programação fecha no dia 29, domingo, às 19h, com Corpos Turvos, primeira obra da trilogia em dança-tragédia criada pelo Coletivo CIDA, do Rio Grande do Norte. A peça coreográfica explora, por meio da dança, temáticas relacionadas à estigmatização, desumanização, extermínio e invisibilidade que afetam as pessoas negras, a comunidade LGBTQIAPN+, as pessoas com deficiência, as mulheres, os povos originários e aqueles que convivem com o HIV ou AIDS.
Este é o ponto de partida para trazer à tona a discussão sobre os corpos que frequentemente são reduzidos a simples marcadores sociais. Assim, a obra declara a urgência da sobrevivência, pede por empatia, grita por socorro para que esses corpos deixem de ser números. Na sequência, Gal Martins faz novamente a mediação do encontro Pulsações.
Memória, abandono e ancestralidades
A segunda semana da sexta edição da Mostra de Dança do Itaú Cultural começa no feriado de 2 de novembro (quinta-feira), às 19h, recebendo a coreógrafa Mariana Muniz, pernambucana residente em São Paulo, com D’Existir. Este trabalho cênico em dança/teatro tem como referência poética o texto Mal Visto Mal Dito, de Samuel Beckett. Mariana construiu uma dramaturgia que sustenta uma confusão voluntária entre jogo ficcional, sua memória de artista e a articulação precisa de gestos e paragens. Trata-se de uma viagem imaginária pelo tempo, de um corpo que se questiona e se revê em sua trajetória cênica. Ao final da apresentação a ação formativa Pulsações tem o professor e pesquisador Rodrigo Monteiro como mediador na conversa com a artista e o público sobre o espetáculo.
Na sexta-feira, 3, às 20h, o coreógrafo paulista Marcos Abranches exacerba no corpo a solidão, o fracasso, a tristeza e a desesperança frente às atrocidades da vida, por meio do solo Canto dos Malditos. Ele leva para a cena seus conflitos e questões sobre o homem e a sua inconsistência, sobre a precariedade das relações que não se completam, sobre o amor e o abandono, o canto de todos os malditos.
A desestética do movimento na apresentação é sentida pelo abandono e pela rejeição, entendendo que o alívio está no amparo do amor. O espetáculo é o tema central do Pulsações desta noite, em novo encontro mediado por Rodrigo Monteiro.
Em mais uma noite com dupla sessão, a programação no sábado, dia 4, tem início às 20h, com Movendo o Solo de Terrenos Submersos, do artista da dança Neemias Santana, da Bahia. A apresentação envolve consciência, memória, linguagem e banzo, a nostalgia sentida pelos negros trazidos forçadamente da África. Para tanto, o artista organiza um rito para emergir em seu corpo o registro de danças que o constituem e se desenvolve a partir da mescla de danças afro diaspóricas, como o samba de caboclo, ilu, pagode baiano, funk carioca, rumba, krump e ijexá.
A ancestralidade também conduz CorpoCatimbó, que o multiartista e pesquisador cearense Zé Viana Junior apresenta em seguida. O espetáculo parte do desejo de ser “corpo-fumaça” e abrir portais nas frestas encantadas da Jurema Sagrada, incorporando espirais energéticas das entidades próprias deste ritual – mestres, mestras, caboclos, pretos velhos e outros –, em busca de uma poética catimbozeira. É um corpo ancestral na encruzilhada, saravando a potência desse encontro/reencontro entre a cena e o encantamento ritual. As apresentações são tema da conversa que acontece ao final, guiada mais uma vez pelo artista da dança e do teatro Kleber Lourenço.
A coreógrafa amazonense Francis Baiardi fecha a mostra no dia 5, domingo, às 19h, com Angelim Vermelho. A obra fala do corpo atravessado por vozes que ecoam de forma pulsante, como o clamor da mãe terra pela sua vida, em meio às violações, invasões e destruições. Em cena, ela mergulha no passado e no presente dos sobreviventes, que se transfiguram e vivem como mata, som, paisagem, pedra e ar. São vidas pulsantes, cruzadas pelos corpos que se transformaram em cinzas, lama e valas. Gal Martins conduz o último encontro do Pulsações, agora sobre Angelim Vermelho.
Rua e oficinas
A programação se estende para duas apresentações na calçada em frente ao IC, na Avenida Paulista, e a duas oficinas. Ambas seguem a temática do corpo-memória.
No domingo, 29 de outubro, às 15h, dentro do Arte na Rua, que o Itaú Cultural realiza toda semana ao ar livre, é apresentada a instalação/performance SI-PÓ, com o grupo amazonense Corpocontemporâneo21. A obra concebida e dirigida por Odacy Oliveira e Valdemir Oliveira aborda as relações, inquietações, sentimentos e afetações dos corpos no e com os espaços naturais, como a floresta e as árvores, e com os espaços urbanos, onde elas estão ausentes. Os corpos propõem um não-tempo, desacelerando o olhar para momentos de contemplação e “embrenhamento” nos sentidos da relação do homem com a floresta.
No domingo seguinte, 5 de novembro, é vez de Roda de Djembe, com a paulista Cia. Fankamaobi. A partir desta roda – reunião ritualística e cotidiana de comunhão dos povos da Guiné e de países vizinhos, para celebrações com casamento e festejos de colheita ou pesca –, a proposta é promover uma espécie de ritual em um encontro com cantos e breves coreografias de ritmos mandigue. O público também é convidado a dançar e trocar de forma improvisada com o grupo, que direciona este encontro.
Da plateia para a prática, no dia 27 de outubro (sexta-feira), às 17h, a coreógrafa Denise Stutz conduz a oficina Memória em movimento. A atividade é voltada à experimentação do corpo que se move a serviço da imaginação e dos sentidos, impulsionado por imagens, associações e memórias. Os jogos corporais estabelecem relações e ampliam a percepção do que rodeia: espaço, tempo e outros elementos. Envolve as etapas de aquecimento, improvisação e processo de criação.
Na sexta-feira seguinte, dia 3 de novembro, no mesmo horário, o artista baiano Neemias Santana está à frente da oficina Terrenos Submersos. No encontro, ele busca as memórias, linguagens e nostalgias trazidas ancestralmente em seu corpo – apresentadas no espetáculo Movendo o Solo de Terrenos Submersos – para trabalhar com o público a percepção e a escuta para acordar as danças-memórias no corpo.
Assim, ele questiona quais novas narrativas são possíveis de elaborar a partir do que o corpo. Nesse processo, são levantadas as lembranças e as possíveis memórias inventadas, por meio de exercícios de improvisação/investigação criativa em dança.
SERVIÇO
6ª Mostra de Dança Itaú Cultural
De 26 de outubro a 5 de novembro de 2023
Programação presencial no Itaú Cultural
Entrada gratuita.
As reservas de ingressos para as programações presenciais – com exceção das atividades formativas – abrem na semana anterior às sessões, pela plataforma INTI. O acesso pode ser feito pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br
Fila de espera em programações com ingressos esgotados:
Os ingressos reservados valem até 10 minutos antes do início da sessão. Após esse horário, os ingressos que não tiverem o check-in feito na entrada do auditório, perdem a validade e serão disponibilizados para a fila de espera organizada presencialmente.