Itaú Cultural homenageia vida e obra do jornalista Vladimir Herzog
46ª edição do programa Ocupação tem início em agosto e vai até outubro
- Data: 10/08/2019 12:08
- Alterado: 10/08/2019 12:08
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Crédito:Divulgação
A Ocupação Vladimir Herzog se estende por todo o Piso -2 do Itaú Cultural a partir de 14 de agosto (quarta-feira) e permanece em cartaz até 20 de outubro. Durante a pesquisa realizada para desenhar a exposição, a curadoria formada pelas equipes de Comunicação e Audiovisual e Literatura do instituto, com cocuradoria do arquiteto e produtor cultural Luis Ludmer, teve a atenção tomada pela potente veia artística do jornalista. Encontraram, por exemplo, fotografias com enquadramentos que demonstravam um olhar particular de Vlado para as coisas, lugares e pessoas. Também, uma peça de teatro em áudio em que ele é um dos atores e suas respostas com desenhos esquemáticos e análises de filmes para uma prova de ingresso em um Curso de Cinema com o documentarista sueco Arne Sucksdorff (1917-2001). Estas aulas resultaram na realização do primeiro e único minidocumentário de Herzog, Marimbás, em 1960.
Foram mapeadas, ainda, as atividades que ele realizava na Cinemateca Brasileira e sua participação na Caravana Farkas – série de documentários de curta e média-metragem com teor humanista. Idealizada e coordenada pelo fotógrafo Thomaz Farkas, nos anos de 1960, ela foi considerada um marco do cinema documental nacional. O jornalista participou de dois desses filmes, Subterrâneos do Futebol e Viramundo, que serão exibidos no dia 20, dentro do Terças de Cinema, cuja programação ocupará todo o mês de agosto com filmes da Caravana.
“Quando foi morto, ele estava pronto”, confirmou Clarice, sua mulher, sobre a carreira de Vlado como cineasta. Naquele momento, além de implantar, com outros jornalistas, um novo projeto jornalístico para a TV Cultura, ele trabalhava na pesquisa e elaboração do roteiro de um filme sobre Canudos e Antônio Conselheiro.
Vida, obra, morte
Esta é apenas uma das atividades menos conhecidas de Herzog apresentada nesta Ocupação no Itaú Cultural. Entre fotos, filmes, cartas escritas por ele; reportagens, depoimentos e audiovisuais, a exposição joga luz também à vida e ao trabalho do jornalista e editor exigente, que sempre acrescentava informações de utilidade pública e demonstrava preocupação social em seus textos.
A mostra entrelaça e dialoga com todo o percurso da vida e obra de Herzog, nascido em 27 de junho de 1937, na Iugoslávia, em Osijek, hoje Croácia. Aos 10 anos, ele chegou em São Paulo com a sua família para escapar do antissemitismo. Ele se naturalizou brasileiro, formou-se em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), acabou se tornando um renomado jornalista, editor, professor e se casou com Clarice, com quem teve os filhos Ivo e André. Aqui foi morto e acabou sendo conhecido nacional e internacionalmente como símbolo de luta por justiça e pelos direitos humanos devido ao chamado Caso Herzog: a sua morte aos 38 anos, em 1975, na sede do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOICodi), durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), forjada como suicídio. Hoje, ele permanece presente em livros, trabalhos artísticos, escolas, logradouros e premiações.
Também há muitas cartas na Ocupação, como as mais de 20 que ele trocou com o amigo Tamás Szmrecsányi, quando trabalhava na BBC e vivia em Londres. Ali, Vlado descreve o dia a dia na cidade fria, divagações, viagens e descobertas da vida no exterior. Escreve também sobre a sua preocupação e dúvidas em voltar ao Brasil e garantir segurança para ele, sua mulher e filhos.
Nos núcleos focados na história de sua família e no Caso Herzog, o visitante encontra gravações de duas missivas especiais. A primeira, na voz do escritor Milton Hatoum, a pedido do Itaú Cultural, foi dirigida a Vlado pelo pai, Zigmund Herzog, em 1968, e conta a história da família durante a Segunda Guerra Mundial. A outra, gravada pela atriz Eva Vilma em 2009, foi escrita pela mãe do jornalista, em 1978, para o juiz Márcio José de Moraes.
Some-se a tudo isso, projetos de roteiros, a projeção de Marimbás e fotografias – tanto feitas por ele entre a família, amigos, viagens, quanto tiradas dele próprio desde pequeno ao lado dos bisavôs, avôs, pais até a sua vida adulta. Parte das histórias capturadas por Vlado podem ser vistas em um retroprojetor, aparelho que ele tinha e costumava usar – o original da família também está na exposição.
Encontram-se na mostra, ainda, matérias suas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo, no final da década de 1950, e parte de sua farta produção na revista Visão, importante publicação brasileira dos anos 60 e 70, na qual começou como colaborador e chegou a editor chefe da seção de cultura. Uma das matérias de maior impacto junto aos leitores, reconhecida até hoje por jornalistas como o seu maior feito, é A crise da cultura brasileira. Na reportagem conhecida como “vazio cultural”, ele e o jornalista Zuenir Ventura traçaram um panorama sobre o momento político, econômico e cultural vivido no país naquele período da história brasileira.
Outro texto jornalístico assinado por Vladimir Herzog presente na mostra – e na publicação realizada pelo instituto para esta Ocupação – é o artigo Carta aos Cariocas, veiculado na seção de cinema do Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro. Nele, o autor compara a produção cinematográfica naquela cidade com a de São Paulo. Para Vlado, os cineastas do Rio produziam filmes para o povo; os paulistanos, para a elite.
A sua passagem pela TV Cultura, onde foi editor de redação dos jornais Hora da Notícia e Homens de Imprensa, está igualmente registrada e documentada na exposição. Em sua segunda incursão pelo canal, ele foi convidado a dirigir o departamento de jornalismo da emissora e tinha um projeto bem delineado sobre o que gostaria de fazer. Passado um mês, foi morto no DOICodi, depois de se apresentar voluntariamente para prestar esclarecimentos sobre as suas atividades, não conseguindo concluir esse projeto. Nem o de fazer filmes.
Acessibilidade
Como na maioria da programação apresentada pelo Itaú Cultural, o uso de mecanismos de acessibilidade também se faz presente nesta exposição, que traz inovações no formato das audiodescrições. São 17 faixas produzidas como se fossem reportagens, criando, assim, uma narrativa mais atrativa para o público cego e de baixa visão. Os vídeos que têm tradução em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, foram gravados com uma estética de jornal de época, usando como referência o Hora da Notícia, um dos quais Vlado dirigiu. Além do piso tátil, também há objetos táteis, como a reprodução de uma página de jornal da época e uma máquina de escrever como eram usadas naquele período.
SERVIÇO:
Ocupação Vladimir Herzog
Abertura: 14 de agosto às 20h Visitação: de 15 de agosto a 20 de outubro
De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h (permanência até as 20h30) Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Classificação indicativa: 12 anos Piso -2 Itaú Cultural Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1777