Inflação de fevereiro dispara e pressiona juros e consumo
André Charone faz uma análise sobre o atual momento econômico.
- Data: 06/03/2025 00:03
- Alterado: 06/03/2025 00:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
A inflação de fevereiro veio como um soco no estômago do consumidor. Após um início de ano relativamente estável, com uma variação de apenas 0,11% em janeiro, o IPCA-15 disparou para 1,23% no mês seguinte, configurando o pior fevereiro desde 2016. O que está acontecendo? O governo perdeu as rédeas do controle econômico ou nunca as teve de fato? O consultor financeiro e mestre em negócios internacionais, Andre Charone, traz uma visão crítica sobre os impactos e as possíveis soluções para esse cenário preocupante.
O efeito cascata: mais do que números, uma realidade amarga
Para o brasileiro médio, essa alta significa menos dinheiro no bolso, perda de poder de compra e mais dificuldade para fechar as contas no fim do mês. A inflação não é apenas um índice estatístico, mas sim um reflexo direto do encarecimento de itens básicos, como alimentação, energia e educação, impactando todas as camadas da sociedade, especialmente as mais vulneráveis.
O principal vilão da vez foi a energia elétrica, que subiu alarmantes 16,33% após o fim do chamado Bônus Itaipu. Em janeiro, essa redução artificial nas tarifas ajudou a conter a inflação na média, mas, como era previsível, o benefício foi apenas temporário. Outro setor que pesou foi a educação, que registrou alta de 4,78%, refletindo os reajustes escolares do início do ano letivo. Esse efeito cascata se espalha e afeta toda a economia, com aumento nos custos para empresas e uma retração no consumo das famílias.
“A população já sente essa alta no dia a dia. É o comerciante que precisa repassar custos, o pai de família que vê a fatura da escola dos filhos pesar mais, o consumidor que percebe que seu salário não acompanha os aumentos. O governo insiste em medidas de curto prazo, mas sem mudanças estruturais, a inflação continuará corroendo o poder de compra”, pontua André Charone.
O impacto na economia e o dilema do Banco Central
O cenário fica ainda mais preocupante quando olhamos para o acumulado dos últimos 12 meses: 4,96%, já acima do teto da meta do Banco Central. Esse aumento na inflação gera um dilema para a política monetária. O Banco Central pode ser forçado a interromper os cortes na taxa Selic, atualmente em tendência de queda. Se isso acontecer, o impacto será sentido diretamente pelo setor produtivo, com maior encarecimento do crédito e uma consequente desaceleração econômica.
“O grande risco é ficarmos presos em um ciclo vicioso: inflação elevada, juros altos e crescimento travado. O Banco Central pode acabar sem margem de manobra e, mais uma vez, veremos um embate entre o governo e o mercado, em vez de um plano econômico eficiente para conter a situação”, alerta Charone.
O crédito mais caro impacta diretamente a vida do consumidor e das empresas. “O empresário que pretendia investir ou expandir o negócio pode desistir. O consumidor que pensava em financiar um imóvel ou veículo pode recuar. No final, essa inflação persistente trava a economia e gera um efeito dominó de estagnação”, acrescenta o especialista.
Perspectivas e as soluções que não aparecem
Com o mercado já revisando as projeções para cima, prevendo que a inflação pode fechar 2025 em 5,65% ou mais, fica a pergunta: quais serão as ações concretas do governo para mitigar essa escalada? A política econômica atual parece apostar no consumo como motor de crescimento, mas sem ajustes estruturais, isso se torna insustentável no longo prazo.
“A questão central é: quais medidas serão tomadas para garantir um crescimento sustentável? Reduzir impostos sobre setores estratégicos, incentivar a produtividade e melhorar a infraestrutura logística poderiam aliviar custos e conter a escalada de preços. Mas o que vemos, até agora, são apenas promessas”, critica Charone.
A correção desse rumo exige mais do que discursos otimistas. É necessário um plano consistente que ataque os reais vilões da inflação: a falta de produtividade, os gargalos logísticos, os custos trabalhistas excessivos e a elevada carga tributária. Enquanto esses problemas não forem enfrentados, a inflação continuará corroendo o poder de compra da população, e o monstro seguirá solto.
“O governo ainda tem tempo para agir, mas o relógio está correndo. Se nada for feito, o que nos espera em 2025 é mais um ano de crescimento pífio e um custo de vida cada vez mais insustentável para milhões de brasileiros. A conta sempre chega, e quem paga é a população”, finaliza Charone.