Infecções de ouvido em crianças: prevenir é melhor que remediar!
Artigo de Larissa Fabbri Mendes, médica, otorrinolaringologista, Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringoologia e Membro da IAPO
- Data: 06/06/2023 12:06
- Alterado: 06/06/2023 12:06
- Autor: Redação
- Fonte: Dra. Larissa Fabbri Mendes
Crédito:Reprodução
Quando falamos de infecção de ouvido em crianças precisamos primeiro saber se a infecção está “antes” do tímpano, chamada de otite externa (OE), ou se a infecção está “atrás do tímpano”, chamada de otite média aguda. Pela alta prevalência, impacto na qualidade de vida e potencial de complicações hoje falaremos da Otite Media Aguda (OMA).
A OMA é uma das doenças que mais afeta bebês e crianças: quase todas as as crianças experimentarão pelo menos 1 episódio de OMA, e ao redor de 1/3 delas terão 2 ou mais episódios nos primeiros 3 anos de vida. Isso acontece devido a anatomia do ouvido – nos primeiros anos de vida a tuba auditiva (canal que liga o nariz ao ouvido) é mais horizontal, o que favorece subida de secreção do nariz pro ouvido e dificulta a drenagem espontânea de secreção do ouvido para o nariz.
Em geral o quadro causa grande dor ao paciente, devido à pressão que a secreção exerce sobre a membrana timpânica. Pode ou não vir acompanhado de febre e/ ou secreção vazando pelo ouvido. É causado por vírus ou bactérias, sendo algumas vezes necessária introdução de antibióticos via oral.
Nos últimos anos graças a diversos estudos foi possível observar fatores que aumentavam a incidência e seriam portanto fatores de risco para ocorrência de OMA. Entre esses fatores alguns são modificáveis – podendo ser de grande relevância seu conhecimento. Podemos citar:
1- Frequentar creches ou escola:
Hoje em dia frequentar a escola por lei é obrigatório a partir dos 4 anos de idade. Apesar disso por diversos motivos, muitas famílias tem a necessidade ou optam por colocar a criança na escola antes dos 4 anos. Sabe-se que isso aumenta o risco de OMAS e deve ser considerado sempre que houver outra opção para a criança ou família.
2- Uso de chupeta:
O uso de chupeta é algo naturalizado em nossa sociedade – desde criança observamos bonecas com chupetas e frequentemente a figura “bebê” é automaticamente associada a chupeta. Não é atoa que grande parte dos enxovais de bebê, mesmo antes de seu nascimento, já tem a tal da chupeta no meio. Além de alterações na arcada dentária, oclusão e crescimento craniofacial, a chupeta também aumenta a incidência de OMAs. Um hábito “colocado” / “ofertado” por um adulto não deve ser retirado de forma abrupta da criança. Hoje em dia existem formas de ajudar a criança a deixar a chupeta, como ensinam alguns profissionais da saúde do Movimento Neurocompativel®.
3- Tomar mamadeira deitado:
Devido a anatomia do ouvido, como mencionado anteriormente, em crianças a tuba auditiva é mais horizontal- o que favorece que secreção ou líquido suba do nariz para o ouvido. A força que é feita para mamar mamadeira muitas vezes não veda adequadamente a passagem da garganta para parte posterior do nariz e se a criança estiver deitada esse leite pode subir para o ouvido.
4- Exposição ao tabagismo passivo:
A fumaça de cigarro é um grande irritante para a mucosa respiratória, favorecendo quadros de otite média aguda.
Sabemos que o aleitamento materno é fator protetor para as infecções de ouvido. Mesmo na posição deitada / horizontal, a força que é feita durante a amamentação faz com que o leite materno não suba para o ouvido devido ao adequado fechamento velofaríngeo. Além disso, caso “escape” um pouco de leite e este suba para o ouvido, o leite materno é rico em Imunoglobulinas, que dificultam que haja um processo infeccioso.
É importante reforçar a importância dos cuidados nasais durante os quadros de rinite e resfriado, que podem anteceder uma OMA e também a técnica da lavagem nasal, que deve ser realizada corretamente, nunca forçando ou colocando muita pressão, para que a secreção nasal ou o soro não acabem sendo “empurrados” para o ouvido.
Por último precisamos reforçar o papel preventivo das vacinas e nos casos da OMA a vacina da Gripe e a Pneumocóccica tem grande importância. A vacina da Gripe previne contra alguns sorotipos de Influenza que podem causar Otites Médias Agudas Virais. Já a vacina Pneumocóccica previne contra alguns sorotipos de Pneumococo que podem causar Otites Médias Agudas Bacterianas. Há algumas diferenças dessas vacinas na rede pública e privada, em geral as do SUS no caso dessas duas vacinas, cobrem um número menor de sorotipos.