Impacto da IA nas Eleições: Medo Exagerado ou Realidade Contida?

O ano de 2023 foi repleto de debates sobre o possível efeito adverso da inteligência artificial (IA) nas eleições programadas para 2024. Contudo, os resultados não refletiram as previsões alarmistas que predominavam.

Em um estudo intitulado “Uma Retrospectiva sobre o Ano Eleitoral de 2024 sob uma Perspectiva Digital”, a pesquisadora Licinia Güttel, vinculada ao Oxford Internet Institute (OII), examina a utilização da IA em contextos eleitorais e conclui que seu impacto foi muito mais contido do que o antecipado por muitos especialistas e pela mídia.

No início de 2024, havia um temor disseminado de que a IA seria uma ferramenta para manipulação massiva do eleitorado, propagações de desinformação e influências diretas nos resultados das eleições.

Entretanto, segundo Güttel, essas narrativas exageradas ignoraram a complexidade intrínseca dos processos eleitorais, caindo no que ela descreve como “determinismo tecnológico”, uma visão simplista que subestima outros fatores envolvidos.

Impacto Limitado da IA nas Campanhas Eleitorais

A pesquisa conduzida por Güttel, que abrange diversas eleições globalmente, aponta que a influência da IA nas campanhas foi restrita. Em alguns casos isolados, foram identificados usos de deepfakes na África do Sul e avatares digitais na Indonésia. Contudo, a ampla difusão de desinformação através da IA não se concretizou como muitos esperavam.

Esses achados reforçam análises anteriores que já destacavam as dificuldades em manipular o comportamento eleitoral em larga escala.

A análise da pesquisadora se estende além da IA, contemplando outras tecnologias digitais que impactaram as eleições de 2024.

Influência das Redes Sociais: O Caso TikTok

Dentre os aspectos abordados está a crescente popularidade do TikTok entre políticos na Indonésia como um meio eficaz para atingir o eleitorado jovem. Além disso, menciona-se o banimento da plataforma na Índia e a utilização por partidos de extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu e no Reino Unido.

No contexto dos Estados Unidos, a relevância do TikTok também foi notável. O ex-presidente Donald Trump entrou em cena para tentar preservar a plataforma, argumentando que sua presença foi crucial para sua vitória eleitoral, especialmente diante de uma lei aprovada que prevê seu banimento caso não seja adquirida por uma empresa fora da China até abril.

A Desinformação em Diferentes Contextos

A especialista enfatiza a necessidade de uma abordagem cautelosa ao avaliar o impacto das tecnologias digitais nas eleições, levando em conta as especificidades de cada país. Ela adverte sobre os perigos de superestimar a influência de fenômenos digitais e subestimar fatores importantes como o sistema político local, a liberdade na internet e o comportamento dos eleitores.

Por fim, Güttel ressalta que a rápida evolução tecnológica exige vigilância contínua e o desenvolvimento de mecanismos adequados para assegurar eleições justas e transparentes no futuro.