“I’m back” diz Eike Batista

Em palestra na cidade de Florianópolis, afirma que pretende criar dez unicórnios, mas não revela estratégia. Empresário garantiu que 'está de volta'. Acompanhe a entrevista

  • Data: 07/07/2019 10:07
  • Alterado: 07/07/2019 10:07
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
“I’m back” diz Eike Batista

Crédito:Divulgação

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“I’m back” (estou de volta, em inglês). Era o que dizia um vídeo apresentado por Eike Batista neste sábado, 6, em Florianópolis. Foi a primeira vez em que o empresário participou de um evento como palestrante. Em seu retorno, além de dar palestras, Eike pretende criar dez unicórnios, nome usado para designar startups cujo preço de mercado bate a casa de US$ 1 bilhão.

Eike, porém, revela pouco da estratégia para chegar lá. Diz que serão empresas de tecnologia e de mineração, área em que “sempre” teve “sucesso”. Não conta como está a captação de recursos, mas insiste que está tudo caminhando como deveria. “Eu tenho tudo. Sei identificar oportunidades únicas. Monto unicórnios e atrair capital sempre foi fácil pra mim.”

Antes de participar do evento Empreende Brazil Conference, Eike conversou com o Estado. Afirmou ter errado apenas na escolha dos executivos com os quais trabalhou no Grupo X e que suas empresas, após terem sido vendidas, se tornaram “legados extraordinários para o Brasil”.

Condenado a 30 anos de prisão após ser acusado de pagar propina ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, Eike, que recorre em liberdade, fez questão de destacar que o “réu confesso” disse não ter havido “toma lá da cá” com ele.

O sr. falou há um ano que voltaria. Sua volta é como palestrante?
Estou de volta. Tinha de passar um certo período (afastado). Foi necessário até porque tive de deixar as empresas em pé. Nenhuma das empresas faliu. Botei todo meu patrimônio dentro das empresas para que elas não quebrassem. Para que não acontecesse o que aconteceu com as empreiteiras, que demitiram milhares de brasileiros. Eu preferi botar meu patrimônio para acertar tudo. Fico muito feliz porque isso aconteceu. Meus projetos continuaram. Projeto desse porte, de US$ 1 bilhão, você não pode parar no meio do caminho. Se você parar, não tem mais rentabilidade. Vendi (minha parte) barato. Mas busquei sócios novos, que continuaram os projetos, que hoje são todos legados extraordinários para o Brasil.

Mas o sr. voltou para trabalhar como empresário, palestrante ou influenciador (há mais de um ano, ele tem um conta nas redes sociais com dicas de empreendedorismo)?
Eu sou tudo. Eu toco a banda inteira. Eu vou palestrar, mas eu já desenhei mais de dez empresas de US$ 1 bilhão. (Agora), desenhei minhas próximas dez.

Quais são?
São na área de mineração, onde sempre tive sucesso. Meus projetos de mineração sempre foram sucesso no mundo inteiro, não só no Brasil, mas também no Chile e nos Estados Unidos. Voltei para essa área. Estou mexendo na área de nanotecnologia, química e de materiais, onde tem o grafeno (material produzido a partir do grafite), que é um material do futuro. Nanografeno vai revolucionar tudo que a gente tem.

Quantas pessoas trabalham com o sr. hoje?
O suficiente.

Já tem investidores?
Eu tenho tudo. Sei identificar oportunidades únicas. Monto unicórnios e atrair capital sempre foi fácil pra mim.

Depois de tudo que aconteceu com o Grupo X, a facilidade para atrair investimento não é mais a mesma, é?
Você está enganada. Ao contrário. Eu paguei todos os empréstimos do BNDES. Isso é importante porque a mídia em geral sempre foi muito rasa em relação a isso e não reportou (corretamente). Por exemplo, sabia que todas as dívidas do BNDES foram quitadas? A mídia me ‘linkou’ como sendo o empresário do PT. Nunca teve dinheiro público envolvido (nos negócios), porque, se desse problema, tinha os bancos privados (como garantia) e depois todo meu patrimônio. Isso ninguém fala.

Mas o sr. já atraiu quanto em investimento para os novos projetos?
O suficiente.

Quanto é o suficiente?
O suficiente.

Quem está aportando?
A definição de unicórnios é empresa que tem potencial de mais de US$ 1 bilhão. Eu criei mais de dez e tenho dez no meu curral de novas. Então estou criando dez unicórnios.

Ainda está com o projeto de lançar a pasta de dente que regenera o esmalte do dente?
Sim. É um deles.

Em que pé está?
É um produto derivado da nanotecnologia da hidroxiapatita (tipo de fosfato de cálcio), que também vem dessa empresa de nanomateriais. Está adiantado. A pasta se chama Elysium.

O sr. falou que colocou teu patrimônio nas empresas. O que o sr. tem hoje?
O suficiente.

O suficiente para quê?
O suficiente… Eu hoje dou consultorias e tenho opções de adquirir, pela minha capacidade intelectual… Uma coisa é um aplicativo que você desenvolve, você bota pouco dinheiro. Eu sou um homem de ideias. 

Essa é sua primeira palestra?
Sim. Comecei agora. Eu tenho uma legião de jovens que me seguem, que sabem o que eu fiz e faço. Na mídia, (dizem que) meu porto está afundando, dizem as coisas mais ridículas. Aquele conceito tropical de que tem de estar pronto amanhã. Projetos de bilhão demoram anos para ficar prontos. Graças a Deus, todos os meus ficaram prontos.

Qual teu objetivo com as palestras?
Nada. Estou de volta. Eu trouxe US$ 50 bilhões para o Brasil em projetos estruturantes. Simples assim. Vou mostrar a maior parte deles e tem os novos (que serão apresentados).

Vai dar dicas com base mais nos erros ou acertos?
Tudo. O aprendizado e minha maior decepção foram a experiência com pessoas. É meio cômico vocês acharem que é tudo Eike Batista. Cinco empesas gigantes (do Grupo X) na Bolsa e só tem Eike Batista, não tem mais ninguém (que errou)? Impressionante.

O sr. falou dos fãs, mas houve muitas críticas nas redes sociais do Empreende Brazil Conference devido sua participação. Houve quem dissesse que o evento não era mais sério e que venderia o ingresso, muito por causa da sua condenação por envolvimento no esquema do ex-governador Sergio Cabral.
Por acaso, vou abordar esse assunto aqui (na palestra). Quero só te lembrar, você que é da mídia, que o réu confesso Cabral disse no depoimento: ‘claramente com Eike Batista não houve toma lá da cá’.

Mas como vê essa questão de críticas. Como avalia que está sua imagem?
Você nunca é unanimidade. Eu não quero ser unanimidade. O mundo é dividido. Se fizeram uma imagem minha do que eu não sou, o que vou fazer? Foi feita, foi construída assim…

Foi construída pela mídia ou por erros seus também? Várias empresas suas entraram em recuperação judicial…
Uma empresa minha teve problema, a do petróleo. Na verdade, eu tive problema com executivos, que causaram essa história. Aí se criou uma corrida bancária. É o que você sofre quando está no mercado de capitais. Aí colocaram um fator a mais, a mídia (colocou): uma foto minha com o governador (Sérgio Cabral). Na verdade, (tenho fotos com) governadores, porque investi bilhões no Maranhão, no Ceará, em Minas Gerais. Todos os Estados queriam meus projetos, inclusive as pessoas achavam que eu era louco. Achavam: ‘o Batista aí está fazendo uma loucura, deixa ele investir dinheiro, vai sobrar impostos…’ Essa falta de entender que projetos às vezes demoram cinco, sete, dez anos para amadurecer. Claro que tenho fotos com tudo que é governador. Uma foto com o presidente Lula já me fez um filhote do PT. Desculpa, mas é maldoso, é fácil.

Mas o sr. acha que o que aconteceu…
O que aconteceu?

As empresas entraram em recuperação judicial e o sr. foi preso.
Erros na empresa, não. O que houve na OGX (empresa de petróleo do Grupo X) é que a expectativa do petróleo não se confirmou. Eu mesmo fui o que mais me prejudiquei. Eu perdi tudo na OGX. Entreguei inclusive todo meu patrimônio para resolver tudo com os credores. Eu sou o maior fã da Lava Jato. Meu País, meus filhos… A gente tem de deixar um País bacana para essa garotada. Agora, eu nunca tive um contrato com o governo. Nunca prestei nem serviço, nenhum contrato. Onde inventaram essa história do Cabral? De onde tiraram essa história?

Tem também a questão de o sr. ter emprestado aviões para o ex-governador Sérgio Cabral.
Pelo amor de Deus. Quando você tem um avião, um governador liga pra você, ele sabe que (o avião) está parado, ele pede emprestado: ‘Deixa usar seu avião’? Eu cedia. Aí houve um infeliz acidente (a queda de helicóptero em que a namorada do filho de Sérgio Cabral morreu) e (com essa desculpa) nunca mais emprestei.

O sr. acha que não errou então no seu passado?
Eu falhei na escolha das pessoas (executivos do Grupo X), (sem) caráter e honestidade. Ninguém tem essa bola de cristal. Você tem de montar estruturas na companhia para fiscalizar (os funcionários) O auditor também não tem bola de cristal. O seu conselho não tem bola de cristal. Se você pega quatro ou cinco executivos que se juntam para fazer uma certa coisa (errada), você entra num buraco.

O sr. foi recentemente multado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)…
Engraçado né, não tem nada criminal, só administrativo. Desculpa, questões administrativas que estou recorrendo de todas elas. Mas não tem nada criminal. Isso é importantíssimo.

Sim, mas houve uma condenação por uso de informação privilegiada.
Eu confio na Justiça, confio nas instâncias superiores e essa é uma das razões para eu adorar o Brasil. Vocês ajudam isso, vocês, jornalistas querem a verdade. O bom jornalismo relata a realidade. A verdade no fundo sai. O Brasil hoje está dividido. Eu sou apolítico.

Mas como o sr. responde essa questão?
Estou recorrendo. Me dê o direito de me achar inocente em tudo.

O sr. está proibido de fazer parte de conselhos de empresas de capital aberto…
Eu não preciso do mercado de capitais. Eu posso ser acionista capitalista de uma empresa, como sou ainda e tenho conselho de pessoas. Nas minhas empresas, muita gente ganhou comprando e vendendo (ações). Eu mesmo poderia ter saído das minhas empresas em 2011, botando US$ 20 bilhões no bolso. Aí iam dizer que foi a administração (que errou). Mas me era vendido algo muito maior, então você vai ficando. Você quer administrar o negócio para criar outro nível de valor.

Como foi seu tempo na prisão?
Sempre um aprendizado. O que me entristeceu muito foi ver aqueles jovens que, por delitos não importantes, recebem uma condenação de anos e ali viram potenciais filiados de uma facção. Eu vi ali, isso me assusta muito, como brasileiro humanista. Eu gosto de pessoas. Para mim, aquilo me machucou. Deviam achar outras soluções. Vou dar uma ideia boa: que façam cinco familiares assinarem a responsabilidade por um jovem de 21 anos. Se cadeias reeducassem e os jovens tivessem chance de eles se reinserirem na sociedade… Mas elas não são assim. Você já passou 90 dias na cadeia?

Não.
Então eu recomendo você passar para escrever melhor sobre o assunto. Recomendo não escrever não conhecendo (o assunto).

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  • Data: 07/07/2019 10:07
  • Alterado:07/07/2019 10:07
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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