IBGE em crise: técnicos contestam prefácio político em ‘Brasil em Números 2024’
Técnicos do IBGE protestam contra prefácio político em "Brasil em Números 2024"; preocupações sobre neutralidade e integridade da instituição aumentam.
- Data: 29/01/2025 00:01
- Alterado: 29/01/2025 00:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Nos bastidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), circula uma carta redigida por técnicos da instituição que questiona a inclusão de um prefácio considerado político na recente publicação “Brasil em Números 2024”, que foi lançada no dia 28 de janeiro. A direção do IBGE, sob a liderança do economista Márcio Pochmann, é acusada de aprovar um texto que contém propaganda do governo de Pernambuco.
O prefácio em questão é assinado pela governadora Raquel Lyra, do PSDB, e enfatiza a relevância das estatísticas do IBGE, ao mesmo tempo em que estabelece vínculos com as iniciativas implementadas pelo estado. Um trecho destacado menciona dados do relatório anterior, revelando que o Nordeste enfrenta o segundo maior déficit habitacional do país e apresenta um número significativo de residências sem acesso à água potável.
“O Governo do Estado de Pernambuco tem adotado medidas para enfrentar esse déficit por meio do Programa Morar Bem, que é considerado a maior política habitacional da história do estado”, afirma o texto. O programa inclui ações como o ‘Reforma no Lar’, destinado a realizar melhorias em moradias situadas em áreas vulneráveis.
A carta dos servidores, assinada por Ana Raquel Gomes da Silva e Leonardo Ferreira Martins, expressa uma preocupação coletiva sobre a situação atual dentro da instituição. Os técnicos afirmam que a inclusão desse prefácio contraria as boas práticas institucionais e carece de preocupação com o caráter político da mensagem, o que representaria um desvio inédito nas publicações do IBGE.
Os servidores ressaltam que conteúdos desse tipo não são compatíveis com a neutralidade técnica necessária na produção editorial do IBGE, especialmente em uma publicação com abrangência nacional. A manifestação dos técnicos conclui afirmando que tal inserção pode comprometer a integridade das metodologias utilizadas pelo instituto e sua reputação histórica.
Além disso, o documento também indica que tentativas anteriores de alertar sobre a inadequação da inclusão política não foram levadas em consideração pela administração atual. “Restou-nos apenas este espaço para manifestar nossa preocupação sobre os riscos à impessoalidade e à autonomia técnica”, afirmam.
Embora o periódico “Brasil em Números” inclua uma nota esclarecendo que as opiniões expressas são de responsabilidade dos autores, os técnicos argumentam que isso não justifica a inserção de conteúdo político. O IBGE e o governo de Pernambuco foram contatados para comentar sobre a situação, mas não forneceram respostas até o fechamento desta reportagem.
O lançamento deste ano ocorreu no Instituto Ricardo Brennand, em Recife, e foi feito em parceria com o governo estadual e outras instituições como a Sudene e o Banco do Nordeste. Observadores dentro do IBGE demonstraram surpresa com o conteúdo do prefácio, uma vez que publicações anteriores costumavam incluir análises acadêmicas e estatísticas relevantes.
A crise interna no IBGE se agravou após a saída de quatro diretores neste mês, motivada por divergências relacionadas à gestão de Pochmann. Funcionários têm se manifestado sobre a falta de diálogo na formulação de novos projetos, incluindo a criação da fundação IBGE+, uma estrutura criticada por permitir captação de recursos privados.
A administração atual respondeu às críticas destacando as restrições orçamentárias enfrentadas pelo instituto e alegou que as contestações sobre a nova fundação são parte de uma campanha de desinformação.