‘Há forte conotação política no movimento dos PMs’, diz governador da Paraíba
Na sexta-feira, 21, o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), ficou até as primeira horas da madrugada em uma negociação com os representantes dos servidores da segurança pública
- Data: 24/02/2020 10:02
- Alterado: 24/02/2020 10:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
O governador disse que deputados estaduais
Crédito:Reprodução
Pressionado pela ameaça de um motim, Azevêdo apresentou a terceira contraproposta, que previa aumento de 5% além da inflação, mas não houve acordo.
A negociação ocorre dois dias depois de o senador Cid Gomes (PDT-CE) ter sido baleado ao investir com uma retroescavadeira contra policiais militares amotinados em Sobral (CE),
O governador disse ao jornal O Estado de S. Paulo que deputados estaduais saídos da polícia, eleitos na esteira do bolsonarismo e que já anunciaram suas pré-candidaturas à prefeitura de João Pessoa, infiltraram-se no movimento com objetivo político-eleitoral.
Segundo ele, se cedesse às reivindicações dos PMs, o Estado ficaria sem dinheiro para a folha de pagamento e seria obrigado a descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e a interromper serviços e obras.
Há motivação política na decisão dos policiais?
Lamentavelmente, sim. Mesmo a gente abrindo o canal permanente de negociação com as diversas entidades que compõem a segurança pública, muitas vezes, participando pessoalmente das reuniões, observamos a infiltração de agentes políticos, notadamente de dois deputados estaduais policiais que fazem oposição radical desde o primeiro dia de nossa gestão. E que já anunciaram suas pré-candidaturas a prefeito de João Pessoa.
Quais seriam as consequências orçamentárias caso o governo aceitasse integralmente as reivindicações dos policiais?
Se atendêssemos às reivindicações, a médio prazo o Estado entraria em colapso financeiro e não teria condições de pagar sequer a folha dos servidores em dia. Não cumpriríamos a Lei de Responsabilidade Fiscal, deixaríamos de prestar os serviços públicos e ainda teríamos de paralisar todas as obras. Hoje, a Paraíba tem uma gestão fiscal equilibrada, paga rigorosamente em dia e tem o conceito Rating B, segundo avaliação do Tesouro Nacional.
A decisão de Minas de, mesmo com dívidas, dar aumento de 41,7% aos PMs, encoraja a categoria nos demais Estados a pedir aumentos além da inflação?
Não quero criticar nenhum colega governador, pois cada um tem os seus problemas para administrar. Mas as entidades aqui sempre citam o caso de Minas Gerais, sim.
No Fórum de Governadores ou outros espaços de diálogo entre os mandatários estaduais foi manifestada preocupação de que casos como o do Ceará e Minas possam se alastrar pelo Brasil?
O problema da segurança sempre entra nos debates nacionais. Aqui na Paraíba foi a categoria que teve os maiores reajustes nos últimos 10 anos. Na gestão atual, iniciada em janeiro de 2019, já incorporando a proposta deste ano, temos um reajuste médio de até 15%. A proposta do governo da Paraíba inovou porque reajustou os inativos em 5%, que não tinham reajuste desde 2015, quando tiveram apenas 1%. Além disso, o governo, para beneficiar os aposentados, reformados e pensionistas, vai incorporar 30% da bolsa recebida apenas pelos ativos. Nenhum governo ousou tanto. É preciso ressaltar que o governo do Estado deu um aumento linear para todos os servidores ativos e inativos de 5%, quando a arrecadação do ICMS cresceu nominalmente apenas 4,32% em 2019. O País em plena recessão com um crescimento do PIB de apenas 0 89% neste ano.
A postura do presidente Bolsonaro em relação aos policiais tem influência sobre a categoria?
O que observamos na Paraíba, assim como em outros Estados, é a forte conotação política e até eleitoreira verificada nesses movimentos. Porque uma coisa é a reivindicação legítima de uma categoria que arrisca suas vidas para proteger a sociedade, mas outra é a radicalização exacerbada de pessoas que apostam no caos, no quanto pior, melhor para atingir seus objetivos políticos e eleitorais já este ano.
Quais as demandas dos governadores para a União em relação à segurança pública? Há alguma demanda em gestação nos fóruns de governadores?
É preciso que a responsabilidade pela segurança seja compartilhada entre os Estados e o governo federal.