Há 9 anos atrás, Luciano do Valle nos deixava!

O narrador deixou um grande legado para o jornalismo esportivo brasileiro como alguém que promoveu e incentivou novas modalidades esportivas para o público brasileiro

  • Data: 19/04/2023 14:04
  • Alterado: 31/08/2023 22:08
  • Autor: Gabriel de Jesus
  • Fonte: ABCdoABC
Há 9 anos atrás, Luciano do Valle nos deixava!

Crédito:Reprodução

Você está em:














Há exatos nove anos, o narrador esportivo, apresentador e empresário Luciano do Valle nos deixava aos 66 anos, em 19 de abril de 2014, a caminho de Uberlândia-MG para transmitir Atlético Mineiro x Corinthians, pela primeira rodada daquele ano. Do Valle juntamente com Galvão Bueno e Sílvio Luiz é considerado o melhor narrador esportivo da televisão brasileira.

Dono de uma voz e um estilo inconfundível, Luciano foi responsável por promover esportes que era desconhecida pelo público brasileiro. Nascido em 04 de julho de 1947, o locutor iniciou sua carreira na Rádio Brasil de Campinas, cidade onde nasceu, e desde lá já era destaque nas transmissões de futebol. Com enorme sucesso no interior em 1968 foi contratado pela Rádio Gazeta de São Paulo, onde participou da cobertura do título mundial da Seleção Brasileira na Copa de 70, no México. Ainda na Gazeta, Luciano se notabilizou por narrar outras modalidades como vôlei e basquete.

O prestígio de Luciano do Valle o levou a ser contratado pela Globo ainda no início da década de 70, onde passou a fazer transmissões de televisão. Narrou, nos primórdios de sua trajetória na emissora, diferentes modalidades, tal como substituiu João Saldanha no programa “Dois minutos com João Saldanha”. Após cobrir os Jogos Pan-Americanos de Cali (1971), os Jogos Olímpicos de Munique (1974) e a Copa do Mundo na Alemanha Ocidental (1974), se tornou o principal narrador da emissora, no período em substituição à Geraldo José de Almeida.

Luciano permaneceu na emissora carioca como principal narrador até 1983, saindo após a Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha e que contou com grande audiência para o canal. Pela Globo também narrou por muito tempo os eventos relacionados à Fórmula 1, dando destaque para importantes vitórias de nomes como Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Participou também da equipe que cobriu os Jogos Olímpicos de 1976 (Montreal) e 1980 (Moscou).

Com o objetivo de tocar novos projetos, agora no âmbito empresarial, o narrador saiu da Rede Globo e prosseguiu seu caminho, primeiramente foi para a Rede Record, onde além do trabalho na imprensa, passou a ser um grande difusor cultural de modalidades esportivas, notadamente a partir das empresas que criou, que eram a “Promoção” e a “Luqui”. A partir desse momento, utilizou seu nome para difundir outras muitas modalidades do campo esportivo, como foi o caso do vôlei.

Criou em julho de 1983 o “Grande Desafio de Vôlei”, com transmissão na Record de uma grande partida entre os selecionados de vôlei do Brasil e da URSS direto do Estádio do Maracanã. Esse jogo foi marcante para a história da modalidade no país, tendo contado com altos índices de audiência e com um público que ultrapassou os 90 mil espectadores presentes no Maracanã, Rio de Janeiro. Uma data extremamente simbólica. Essa visibilidade na mídia acabou por ampliar os projetos da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), angariando patrocínios e iniciando um vitorioso ciclo que ficaria marcado pelas gerações de Prata (nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984) e Ouro (nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992).

No mesmo ano de 1983, Luciano do Valle saiu da Record e rumou à Bandeirantes, onde ficaria por mais de duas décadas e, sempre, difundindo diferentes modalidades esportivas para além do futebol, que por sinal nunca deixou de narrar e cobrir. Essa característica explicita a singularidade da biografia do narrador: o desejo de difundir as diferentes modalidades esportivas via imprensa para todo o Brasil, trazendo práticas (como por exemplo a sinuca) para a TV aberta, o que foi não só uma inovação, como também uma mudança de patamar do esporte na televisão brasileira.

Foi a partir desse período que a Band, muito devido esse projeto encabeçado por Luciano do Valle, passou a ser conhecida como o “Canal do Esporte”, notadamente pelas mais de 10 horas de programação seguida abordando as mais variadas facetas do esporte no “Show do Esporte”, programa desenvolvido pelo próprio Luciano a partir da década de 1980 aos domingos. Além da já citada sinuca, do futebol e do vôlei, tiveram destaque na programação o basquete, o automobilismo, o boxe e muitos outros esportes do circuito olímpico. Conseguiu também inserir atrações internacionais, como o basquete da NBA, o futebol americano, a Fórmula Indy e campeonatos internacionais de futebol, com destaque para o italiano. Uma verdadeira revolução esportiva na televisão brasileira.

Atletas de diversas modalidades, como a rainha Hortência e Magic Paula no basquete; Maguila no boxe; Fittipaldi no automobilismo; Rui Chapéu na sinuca; entre muitos outros, foram levados à notoriedade nacional a partir dos trabalhos e divulgações estabelecidas por Luciano do Valle e sua equipe.

No âmbito do futebol, continuou sendo o principal narrador da Band nos eventos centrais e nas Copas do Mundo, tal como participou das transmissões e organizações de campeonatos de Master, chegando inclusive a ser técnico da Seleção Brasileira Masters na famosa Copa Pelé. Nesses projetos, incentivou a participação de ex-atletas que jogavam as competições após o término de suas respectivas carreiras como profissionais, com destaque para Roberto Rivellino, que se inseriu na mídia pós-carreira muito pelos torneios de masters que atuou.

Luciano foi também um grande incentivador do futebol feminino e cobriu, entre 1986 e 2010, todas as Copas do Mundo de futebol masculino, com exceção da ocorrida em 2002 no Japão e na Coreia do Sul, que marcou a conquista do pentacampeonato do Brasil.

Em 2003, devido uma diminuição da agenda esportiva na programação da Band, Luciano rumou mais uma vez à Record, onde ficou até 2005 e narrou importantes momentos, notadamente ligados ao futebol paulista. Chegou a narrar uma partida pelo SBT, na semifinal do Campeonato Paulista de 2003 entre Corinthians e Palmeiras, em um convite recebido após vencer o Troféu Imprensa daquele ano, premiação concedida anualmente pela emissora de Silvio Santos.

Retornou à Band em 2006 e, mesmo com uma atuação empresarial de difusão dos esportes ocorrendo em menor proporção, continuou narrando as principais competições de futebol pela emissora, tal como a Fórmula Indy e os esportes olímpicos em geral. Também teve participações profissionais no canal BandSports e, na TV aberta, participou das transmissões e coberturas do carnaval pela Band.

Mesmo com uma atuação profissional mais reduzida, não deixou de homenagear os esportes olímpicos e modalidades esportivas no geral. Um exemplo ocorreu em 2010, quando fez questão de referendar Manoel Tubino, um dos grandes nomes dos estudos acadêmicos brasileiros na área de Educação Física, após participar como convidado do 25º Congresso Internacional de Educação Física da FIEP (Fédération Internationale d’Education Physique), ocorrido em Foz do Iguaçu/PR. 

Em diferentes momentos, incluiu suas esposas (foram seis no total) em seus trabalhos, como quando criou um programa com Flávia do Valle nos anos 2000, intitulado “Tudo em Dia”, que foi ao ar pela TV Guararapes (afiliada da Band em Pernambuco) e, posteriormente, na Band do Rio Grande do Sul; ou quando iniciou seus projetos de transmissão da Fórmula Indy nos anos 1980 e enviou sua então esposa, Silvia Vinhas, como correspondente nos Estados Unidos. Vinhas também cobriu, trabalhando nas equipes lideradas por Luciano do Valle na Band, os Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles e o Mundial de Basquete feminino de 1988 na Malásia.

Em 2012, um momento difícil: um AVC acabou atrapalhando sua fala, tendo que ficar um longo período em sessões de fisioterapia para voltar minimamente a ter uma atuação profissional próximo do que era antes, podendo assim continuar seguindo com sua trajetória. Passou por diversos problemas no seu retorno às transmissões, tendo ficado de fora da cobertura dos Jogos Olímpicos de 2012, pois além do AVC passou por uma cirurgia da bexiga no referido período.

Seu último trabalho foi a cobertura e narração de jogos no Campeonato Paulista de 2014, tendo como última participação a transmissão na final entre Santos e Ituano, que culminou com o título do clube de Itu. Quando chegou à Uberlândia, em 16 de abril de 2014 para participar da cobertura de Atlético-MG x Corinthians pela 1ª rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano, acabou sofrendo um mal súbito que se iniciou ainda no voo Congonhas – Uberlândia, tendo culminado na sua morte quando já era atendido no Hospital Santa Genovena. Luciano faleceu aos 66 anos e deixou um grande legado para o jornalismo esportivo brasileiro como um todo, tal como nos projetos que se relacionam à difusão de diferentes modalidades esportivas a partir da imprensa.

Compartilhar:
1
Crédito:Reprodução

  • Data: 19/04/2023 02:04
  • Alterado:31/08/2023 22:08
  • Autor: Gabriel de Jesus
  • Fonte: ABCdoABC









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados