Grupo da Etec de Americana cria bioconcreto capaz de se autorregenerar
Projeto desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) por alunas da Escola Técnica Estadual é uma inovação sustentável, que pode reduzir custos de manutenção
- Data: 13/03/2023 10:03
- Alterado: 13/03/2023 10:03
- Autor: Redação
- Fonte: CPS
Maria Clara
Crédito:Divulgação
A fim de combater rachaduras, consideradas um dos principais desafios das edificações, e oferecer ao mercado uma solução inovadora, sustentável e econômica, alunas da Escola Técnica Estadual (Etec) Polivalente de Americana criaram um bioconcreto autorregenerativo usando a bactéria Bacillus subtilis. O projeto, desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Ensino Médio Integrado ao Técnico em Edificações, ultrapassou as barreiras da escola e chegou à final da 21ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que acontece entre os dias 20 e 24.
A construção civil é um setor importante da nossa economia, em constante desenvolvimento. Para atendê-lo, as alunas Lívia Colossal Rodrigues Sciascio, Letícia Percio Miguel e Maria Clara Leme Trindade, fizeram inúmeras pesquisas, analisaram vertentes e encontram em um estudo sobre bioconcreto, do cientista Henk Jonkers, a junção de todos os fatores que elas gostariam de abordar no TCC. “Chegamos ao terceiro ano certas de que queríamos trabalhar em um projeto que não agredisse o meio ambiente e que tivesse potencial para revolucionar a área da construção civil”, explica Lívia.
Fórmula viva
A solução encontrada pelas estudantes consiste na criação de um concreto que leva em sua composição bactérias encapsuladas com seu alimento, o lactato de cálcio. As Bacillus subtilis sobrevivem adormecidas nas edificações por até 200 anos. Quando trincos ou rachaduras aparecem, esses microrganismos ficam expostos à umidade e oxigenação, o que faz com que essas bactérias “despertem”. É nesse momento que elas encontram o alimento e, durante o processo de digestão, produzem carbonato de cálcio, substância que “cicatriza” a fissura.
A escolha do tipo de microrganismo usado no estudo é o grande diferencial. Lívia conta que as primeiras pesquisas sobre o bioconcreto usaram bactérias vulcânicas, que seriam inviáveis para o projeto e para o mercado nacional, em razão do alto custo e processo de importação. “Estudamos quais outros tipos de bactérias produziam o carbonato de cálcio e, a partir de então, fomos em busca da que contasse com maior disponibilidade e facilidade de compra no Brasil.”
O concreto é um dos principais materiais usados nas construções. Diferentemente do composto tradicional, o material apresentado pelas alunas tem maior vida útil e uma considerável redução de custos com manutenções devido ao processo de autorrecuperação. Apesar disso, não é um produto barato. As alunas estimam que o custo seja 60% maior em relação ao concreto convencional. “Apesar da diferença, precisamos levar em conta os benefícios a longo prazo e o fato de que podemos reduzir bastante o valor com uma produção em grande escala.”
Futuro próspero
Os estudos das estudantes foram bastante promissores. Os protótipos apresentaram o resultado esperado e foi possível observar o processo de regeneração a olho nu. “Agora a expectativa é seguir com os estudos para poder oferecer o produto ao mercado, sabemos que esse projeto fora do meio acadêmico pode ajudar na evolução do futuro da construção civil”, explica Lívia. Ela pretende trabalhar o tema quando ingressar no curso de arquitetura. O mesmo pensa Letícia Percio, que ingressou na faculdade de Engenharia Civil. Além disso, elas buscam programas e parcerias que possam conectá-las a investidores.
A professora Denise Alvares Bittar, comenta com orgulho a evolução trabalho, que teve muito empenho das estudantes. “As meninas foram além das pesquisas, fizeram o ensaio prático no laboratório e agora ainda têm esse reconhecimento da classificação na final da Febrace, (Feira de projetos organizada pela Universidade de São Paulo). É uma emoção que não cabe no peito.”
Rumo à Febrace
Morando a cerca de 130 quilômetros da Capital, as estudantes criaram uma vaquinha para ajudar nos custos de hospedagem, transporte e alimentação que as jovens terão durante a Febrace.