Grace Passô é a próxima convidada do Camarim em Cena
Em conversa com a crítica teatral Beth Néspoli, a atriz, diretora e dramaturga dá uma volta pelo seu passado, relembra a ligação que tinha com a literatura quando era criança
- Data: 10/08/2020 14:08
- Alterado: 10/08/2020 14:08
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Grace Passô
Crédito:Agência Ophélia
A atriz, diretora e dramaturga Grace Passô é a próxima convidada da quarta temporada da versão online do Camarim em Cena. Com mediação da crítica teatral Beth Néspoli, o episódio sobe no site www.itaucultural.org.br no sábado, 15 de agosto, às 14h. As duas conversam sobre diversos assuntos como a infância de Grace, os livros e autores que despertaram nela o interesse pela leitura e escrita, os grupos de teatro pelos quais passou, os temas abordados em suas obras. Este é o último bloco de encontros do programa, que, em agosto, abriu com Laura Cardoso e Fernando Sampaio, e conta, ainda, com a participação do diretor José Celso Martinez Corrêa e, para encerrar, da atriz Andrea Beltrão.
Pensando no camarim como um espaço de passagem, de preparação para o que está por vir em seguida, Grace relembra a infância e a família e a importância que as vivências com ela tiveram para chegar no lugar que ocupa hoje. “A minha família sempre teve uma sensibilidade muito grande para as artes, apesar de ninguém ser artista”, explica. “Sempre se ouviu música na minha casa e, por parte das minhas irmãs, sempre houve uma relação muito viva com a literatura”, fala. “Tive a sorte de ter irmãs que liam para mim, me contavam histórias. Existia um empenho muito grande da minha família de me fazer ser familiar a alguns nomes da literatura, como também da pintura.”
Conta que não tinha o hábito de fazer anotações em diários quando criança e que, antes de aprender a escrever, olhava para as letras e achava impossível um dia conseguir. Porém, foi perto dos 15 anos que teve contato com o livro Primeiras Histórias, de Guimarães Rosa, e tudo mudou. “Alguma coisa aconteceu comigo”, revela. “Eu me encantei e me senti confortável dentro de uma linguagem que me parecia inventada. Consegui acessar memórias muito profundas, passei a ter mais liberdade no ato de escrever”, diz. “De alguma forma, foi um farol pra mim no jeito que eu me relaciono com a linguagem artística de um modo em geral.” Grace também cita Carolina de Jesus e Clarice Lispector como grandes influências, inclusive responsáveis pela expansão da sua percepção como mulher no mundo.
Com textos publicados, até mesmo em outros idiomas – francês, espanhol, inglês, polonês e mandarim –, a dramaturga reflete sobre os signos que se repetem em sua obra, a exemplo da procura da figura paterna ou um pai sempre falado, que não se vê, como acontece nas peças Amores Surdos e Por Elise, devido à perda precoce de seu pai após cinco dias de nascida. “Quando você trabalha com a arte, algumas coisas começam a ser recorrentes no que faz”, afirma. “Não tem uma peça que eu escreva que não tenha um animal, por exemplo, e alguns signos têm esse poder de dar a dimensão do inominável com mais nitidez. Talvez, eu tenha escolhido inconscientemente os animais por isso.”
Sobre passar a abordar mais visivelmente em suas obras temas relacionados à negritude e ao feminismo, acredita que a linguagem sempre é resultado de questões existenciais mais profundas em ação na sociedade. “Não quer dizer que somente agora tenha o desejo de fazer uma escrita feminista, eu sou e sempre fui uma mulher feminista. Como a minha escrita não seria?”, conclui. Grace explica que a diferença é o tomar de consciência dessas questões, que foi um processo também passado por ela. “Só fui entender, talvez, de uma forma mais consciente, que comecei a escrever justamente para conseguir me enxergar nas coisas que eu fazia, convivendo com mulheres em reuniões de militância negra”, conta.
“A arte que a gente vai fazendo, vai tendo as pegadas da nossa transformação enquanto cidadã, enquanto sujeito político, enquanto uma pessoa que está nesse mundo pensando”, fala. “Tenho a intenção de ser uma pessoa que trabalha com arte e que está em contato radical com a realidade, que a minha arte de alguma forma represente com nitidez o que é essa sujeita que sou eu, em movimento na sociedade.”
ERVIÇO:
Camarim em Cena com Grace Passô
Mediação: Beth Néspoli
Dia 15 de agosto (sábado), a partir das 14h
No site www.itaucultural.org.br
Próximos episódios da quarta temporada:
22 de agosto – José Celso Martinez Corrêa. Mediação: Nelson de Sá
29 de agosto – Andrea Beltrão. Mediação: Maria Eugênia de Menezes