França dispara contra Dória

“O choro dele é sintético”, afirma o ex-governador de São Paulo Marcio França sobre o atual governador, João Dória

  • Data: 30/09/2021 11:09
  • Alterado: 30/09/2021 11:09
  • Autor: Andréa Brock
  • Fonte: ABCdoABC
França dispara contra Dória

Crédito:Arquivo Pessoal

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Crítico ferrenho do governador João Dória, filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), o ex-governador São Paulo (2018/19), Márcio França fez duras críticas ao governo do Estado e, em especial, ao governador Dória. Disse que o Estado empobreceu muito mais do que deveria na pandemia, que Dória é cara-de-pau, insensível e vive num mundo à parte. Sobre sua possível dobrada com Geraldo Alckmin para as eleições do ano que vem, França disse que quer ser governador, mas que não tem dificuldades em selar um acordo com Alckmin. Criticou o aumento de impostos e a extinção da Univesp, Universidade Virtual de São Paulo, programa que criou em 2018 quando assumiu a cadeira de governador para que Alckmin disputasse as eleições presidenciais. Saiba mais na entrevista exclusiva que o ex-governador concedeu à jornalista Andréa Brock, do Portal ABC do ABC.

Portal ABC do ABC: Você disputou o segundo turno em 2018 com Dória e obteve 48,25% dos votos. Dória obteve 51,75% Foi um adversário difícil para o governador Dória. O que na sua opinião faltou para que você ganhasse as eleições?
MF: A diferença ficou em torno de 1%, porque no segundo turno cada voto que você tira do adversário conta dois, você tira de um lado e cai para o outro. Eu tive 10,5 milhões de votos e ele 10,9 milhões, algo em torno disso. Havia ali uma eleição que era ao mesmo tempo uma eleição de presidente da República, e ele (Dória), como ele tem uma cara de pau enorme, ele grudou naquela história de Bolso-Dória, e eu dizia para todo mundo que ele não tinha nada de Bolsonaro, que ele iria ficar ao lado de Bolsonaro somente até a eleição. Eu dizia que ele era o bolso dele. No debate eu dizia que se houvesse uma oportunidade do Lula ser solto da cadeia, ele também se agarraria ao Lula. Ele é uma pessoa que se aproveita das oportunidades independente se aquilo está certo ou errado. Eu não consigo ser assim. Eu prefiro deitar minha cabeça no travesseiro todas as noites sabendo que o que eu disse é a verdade. Ele (Dória) falou por exemplo na época da campanha que faria do salário dos policiais de São Paulo o maior salário do país e iludiu muitos policiais de São Paulo que votaram nele. Eu dizia pra todo mundo: ele não vai fazer isso, é mentira. Ele (Dória) dizia que não iria mexer na Previdência Pública e alterou a previdência dos aposentados de São Paulo que tiveram uma diminuição de seus salários, pois ele aumentou a quota da previdência. Ele dizia que não aumentaria impostos, mas aumentou todos os impostos de comida, de ferro, construção civil, injeção. Ele só não aumentou um imposto: o de combustível de avião, esse ele abaixou 50% porque na cabeça dele todo mundo anda de avião. Ele vive num outro mundo, o mundo de Dória. Esses dias atrás eu estive num restaurante do Bom Prato e durante a pandemia as pessoas foram levadas a irem no Bom Prato,que é um restaurante simples, com refeição de qualidade a 1 real e quando eu era governador eu tinha esticado para servir sopa de noite. Ele já tinha cortado a sopa. Agora ele cortou o marmitex. Na pandemia as pessoas iam lá e pegavam a comida em marmitas para não se aglomerarem, mas ele proibiu os marmitex porque disse que gasta muito. aí força todo mundo a se aglomerar no restaurante. Não é possível que o Estado de São Paulo tenha que economizar em marmitex para gente que come a 1 real. Ele cortou as isenções dos impostos de automóveis para as pessoas com deficiência. Muitos deficientes precisam de seus carros adaptados porque nem todos os ônibus são adaptados. Então não tem jeito, se a pessoa é insensível, ela não percebe isso tudo. Ele fala muito do governo que acelera. Ele acelera muito, mas não engata nada na marcha. Faz barulho e não sai do lugar. O Governo de São Paulo está parado há quase um ano porque ele está disputando uma prévia para ser candidato a presidente da República pelo PSDB. Então como ele está disputando com o governador do Rio Grande do Sul, está todo mundo viajando pra lá e pra cá. E o que a população de São Paulo tem a ver com isso? A população de São Paulo quer que o governo cuide dos interesses dos paulistanos. Ele reajustou todos os pedágios e implantou outros. Se você ligar a televisão vai ver a quantidade de publicidade que tem dele. Ele tirou 68 milhões de reais da Educação e colocou na Publicidade. Essas são as prioridades dele e a maneira dele enxergar a vida. Nós achamos que essa maneira esta errada. Em especial na pandemia as pessoas passaram muito apertado. O sujeito comum está com dificuldades para comprar gás de cozinha, carne. Na Forbes, que é a maior revista do mundo, no ano passado, o Brasil aumentou 100 vezes o número de bilionários, porque na pandemia quem era rico ficou mais rico e quem tinha menos ficou achatado miserável ou muito pobre. Dória não deve ser candidato em São Paulo. Provavelmente o vice dele será o candidato dele. Uma pessoa muito parecida com ele. Nós vamos dizer esse é o candidato do Dória e nós somos contra o Dória, Ai vamos deixar que o eleitor decida.

Portal ABC do ABC: Como foi a experiência de governar São Paulo entre 2018 e 2019 e na sua opinião o que falta para São Paulo nesse momento?
MF: Muita gente perdeu muito em São Paulo. Não faz sentido São Paulo que é um Estado rico e poderoso não ter ajudado essas pessoas. Se o governo federal coloca 200 reais para as pessoas, São Paulo deveria colocar mais 200 reais, isso melhoraria a vida das pessoas. Mas São Paulo não fez nenhuma redução de impostos. Pelo contrário, o ICMS da conta de água, luz, só aumentou. Ou seja, a insensibilidade aqui em São Paulo bateu todos os recordes. Com relação ao tempo que eu fiquei, a gente implantou algumas ações que eu acho que podem ser feitas com mais amplitude. Uma delas um programa chamado Alistamento Civil que contempla jovens de 18 anos que irão se alistar nas forças armadas e nós alistamos eles no serviço civil: eles trabalham no governo do Estado por 4 horas diárias, ganham um salário, são obrigados a voltar e estudar e fazer um curso técnico. Chegamos a ter 23 mil jovens fazendo isso em 8 meses e a meta era atingir 200 mil jovens em 2021, ou seja, todos os jovens em situação de vulnerabilidade no Estado de São Paulo. Ou seja, estariam todos esses jovens empregados esse ano de pandemia. Era a primeira oportunidade, o primeiro emprego e a primeira coisa que o Dória fez foi cortar esse programa. O outro programa é a Univesp, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Tivemos logo no início 300 polos com 50 mil alunos logo no início. Nossa ideia é que todos os jovens que fizessem ensino médio no Estado saíssem com uma bolsa de faculdade ou curso técnico nesse formato de EAD, ou seja, ensino a distância. Cheguei a conversar com o Dória sobre esse curso. Pedi para ele ampliar, poderia mudar de nome, colocar o nome que quisesse, mas o que ele me disse que não concordava com o ensino à distância. Parece que a gente estava advinhando porque veio a pandemia e praticamente todo mundo fez ensino à distância. Em 2 anos de pandemia teria dado para formar quantas pessoas? Lembrando que uma pessoa formada pela Univesp teria um diploma com assinatura Univesp barra USP ou Unicamp. O custo era insignificante para o Estado.

Portal ABC do ABC: No ato pró Alckmin realizado no sábado passado, dia 25, você afirmou que metade do país gosta do Lula e a outra metade do Bolsonaro. Mas que somente um homem pode unir o Brasil: João Dória, pois 100% das pessoas não gostam dele. Queria que você me falasse sobre essa sua declaração.
MF: Claro que os números não são exatos e eu nem sei quanto tem exatamente Bolsonaro e Lula, mas a gente percebe que o país tem uma certa divisão. Eu fiz uma brincadeira, mas eu tenho andado procurando os eleitores do Dória, que estão satisfeitos com o seu governo. Eu brinco que quando eu encontro essas pessoas eu quero gravar com elas para as minhas redes sociais porque elas são muito raras. É muito difícil eu encontrar alguém que diz que votou no Dória e que o governo dele está bom. E justamente ele que surfou na história da vacina. Veja bem embora a vacina não seja de São Paulo, mas o Butantan é um instituto de São Paulo. Era para ele estar bem. Mas ele tem alguma coisa seja na fala ou no jeito que sempre fica parecendo falso, na minha visão. Esses dias ele falou que passou muita fome, que teve muita dificuldade, que tinha que fazer comida com lenha. Você olha pra cara dele e não parece que é verdade. Eu posso estar equivocado, mas o jeito me parece que ele está fazendo somente para convencer a gente. Esses dias ele foi tomar a vacina e chorou. Um choro meio esquisito, uma coisa meio sintética, eu enxergo isso nele. Eu acho isso tudo uma pena porque o Estado de São Paulo é um estado muito grande e muito influente. Quando a gente acerta a mão em São Paulo, a gente acerta indiretamente no Brasil. Quando a gente erra a mão em São Paulo, a gente erra junto o Brasil. São Paulo sempre conduziu o Brasil. A medida que ele não é uma pessoa preparada para o exercício dessa função, e agora ele demonstrou isso na prática, ele acabou fazendo com que nós acertássemos o ponteiro do nosso relógio com o ponteiro brasileiro. Ele passou o tempo todo brigando com Bolsonaro e na prática as pessoas querem saber quem vai solucionar os seus problemas.

Portal ABC do ABC: Na sua opinião São Paulo empobreceu mais do que poderia na pandemia?
MF: Sem dúvidas. A capital hoje tem mais de 60 mil pessoas morando nas ruas. Famílias inteiras. Não é mais o que bebe, o que usa drogas. São famílias inteiras que foram despejadas e não têm para onde ir. E a Prefeitura e o Estado fingem que não estão vendo.

Portal ABC do ABC: Você já foi vice de Alckmin, secretário estadual de governo em sua gestão. Podemos dizer que vocês são aliados. O eleitor paulistano pode esperar essa dobrada nas eleições do ano que vem?
MF: O governado Alckmin foi quem me convidou para ser vice. Eu sou muito leal nas minhas relações. Como ele fez esse convite, eu fui vice e por isso fui governador, naturalmente eu tenho por ele uma grande consideração. Ele é um homem muito experiente, foi governador por 4 vezes. Ele não decidiu ainda se ele quer ser candidato porque eu não sei se ele ainda tem animação para mais uma disputa, mais um governo. O que ele me disse foi “Marcio, eu não tenho certeza se vou se não vou. Mas eu te apoio. Você quer ser candidato a governador?” Eu disse que sim. Então ele disse que me apoia e se por acaso lá na frente ele entender que gostaria ou se ele tiver a intenção de disputar o governo ou o Senado eu não teria dificuldade de fazer um acordo com ele. Eu penso que de uma certa forma ele tem um constrangimento com a situação porque ele é do PSDB atualmente então ele terá que sair do PSDB, ir para um outro partido para depois se candidatar porque o Dória já falou que não coloca o Alckmin em lugar nenhum embora ele tenha sido 100% criado com o apoio e ajuda do Alckmin, ele se virou contra o Alckmin e hoje ele trabalha para que o Alckmin não seja nada.

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