Forças Armadas não serão “fator de instabilidade no País”, afirma Sérgio Etchegoyen
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) diz que Forças não deixarão de ser instituições de Estado e ideias de golpe vão gerar “frustração”
- Data: 31/03/2021 08:03
- Alterado: 31/03/2021 08:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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“Independentemente de quem estiver no comando, elas nunca vão deixar de ser instituição de Estado.” Disse conhecer os generais do Alto Comando do Exército. “Sei do que estou falando.” E concluiu que, se algum setor do governo estiver pensando em golpe, “a frustração será grande”.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Etchegoyen expôs um sentimento comum a outros generais ouvidos pelo Estadão. Nos últimos dois dias, a reportagem ouviu oito oficiais-generais do Exército e da Força Aérea e dois coronéis da ativa e da reserva sobre o momento atual. De forma unânime, todos rejeitaram qualquer “aventura”.
“Pode ser que uma dessas dimensões (do governo) imagine uma coisa dessas, mas seria uma ingenuidade e uma falta de percepção e conhecimento imperdoáveis. Seria mais um general Assis Brasil com o dispositivo militar, garantindo ao Jango que não ia acontecer nada”, afirmou o ex-ministro do GSI, na véspera do 31 de março, dia em que o então presidente João Goulart foi deposto em 1964.
Assis Brasil era o chefe da Casa Militar de Jango. Ele manteria uma rede de apoios militares que defenderia o governo. Tal dispositivo não impediu a derrubada de Goulart, a quem os militares acusavam de tentar dar um golpe. Etchegoyen conhece essa história. Seu pai, o general Leo Etchegoyen, estava no Rio em 31 de março de 1964, ao lado do então coronel-aviador João Paulo Moreira Burnier. Ambos se uniram ao governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um dos líderes civis da conspiração.
AVENTURA
Para um tenente-brigadeiro, os militares pagaram um preço muito alto na “última aventura” (o golpe de 1964) e têm a “Argentina ao lado para saber o que é retaliação”. O brigadeiro afirmou que a geração formada nos anos 1980 é avessa a “aventuras”. Um general chamou a atenção para o fato de o Alto Comando, assim como os generais de divisão, terem a mesma visão contrária ao uso político da Força. Um dos que têm repetido que “não há a menor possibilidade de aventuras com a participação do atual Alto Comando” é Francisco de Brito, atualmente na reserva. Não só ele. O ex-ministro da secretaria de Governo Carlos Alberto Santos Cruz também repetiu na terça-feira, 30, que as Forças Armadas não entrarão em nenhuma “aventura”.
Para o ex-ministro Etchegoyen, “em todas as rupturas que tivemos, houve apoio popular”. “Não se faz uma aventura desse jeito. Nós teríamos um repúdio internacional. O Brasil viraria um pária definitivo.” Para ele, há muitas pessoas que, de tempos em tempos, pegam um “lençolzinho verde-oliva para sair à rua, assustando as crianças”. “Esse governo tem faces distintas. Tem uma face de infraestrutura, executiva e competente, uma face política desastrosa e uma desconhecida, a guerrilha digital.”
No fim, Etchegoyen disse não ver ameaças da parte do presidente Jair Bolsonaro. “Isso vem muito mais de atos de outras frentes. O presidente tem sido impedido de governar em muitas coisas que são competência exclusiva dele. E são coisas que não começaram hoje.”