Filho de John Lennon e Yoko Ono disputa Oscar com curta inspirado em canção dos pais

Aos 91 anos completados neste mês, Ono tem deixado o filho de 48 anos mais à vontade para cuidar do legado da família.

  • Data: 02/03/2024 10:03
  • Alterado: 02/03/2024 10:03
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Fernanda Ezabella
Filho de John Lennon e Yoko Ono disputa Oscar com curta inspirado em canção dos pais

Crédito:Mario Anzuoni/REUTERS

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“A guerra acabou, se você quiser”. A mensagem pacifista criada por John Lennon e Yoko Ono embala um curta-metragem de animação indicado ao Oscar, criado com ajuda do filho do casal, o músico Sean Lennon. Não que sua mãe seja fã de desenhos animados.

“Talvez ela tivesse dúvidas sobre o que eu estava fazendo, mas não controlou muito. Agora com a indicação ao Oscar, me sinto justificado”, disse Lennon a este jornal. “Ela gostou do filme, ainda que, honestamente, animação não é a dela. Ela gosta mais de filmes sérios, filmes dos anos 1960, não entende bem essa coisa de cartum.”

Aos 91 anos completados neste mês, Ono tem deixado o filho de 48 anos mais à vontade para cuidar do legado da família. “Ela está me deixando tentar coisas novas, experimentar e correr riscos. Me sinto grato”, disse.

O curta “War is Over!” traz a música “Happy Xmas (War Is Over)”, lançada em 1971 com o propósito de ser repetida à exaustão nas festas de final de ano. No meio do refrão fofo de “feliz Natal” e “feliz Ano Novo”, a mensagem pacifista surge sutil, em coro: “a guerra acabou, se você quiser”, slogan da campanha do casal contra a Guerra do Vietnã.

“Na época, meus pais foram muito criticados porque achavam que a mensagem era muito simplista e ingênua […] Tanto tempo se passou e ela continua relevante”, disse Lennon.

“E é a pura verdade: se todos quisessem parar de lutar, a guerra terminaria. Há algo de brilhante nesta mensagem, é quase um meme. Mas, por ser enganosamente simples, as pessoas olham com cinismo.”

“War is Over!” acompanha dois soldados em lados opostos que jogam xadrez à distância no meio da guerra. Os dois não se conhecem e se comunicam com a ajuda de um pombo correio, que leva e trás num papelzinho os movimentos das peças de cada jogador.

Lennon lembra de como sua mãe costumava ganhar todas as partidas de xadrez quando era garoto. Até que ele comprou um livro, estudou, e virou a mesa. Ela não acreditava. “Quando contei do livro, minha mãe brincou que eu estava trapaceando. Ela me motivou a estudar”, lembrou Lennon, que joga xadrez com frequência no Chess.com.

O projeto do curta começou em 2021, quando a gravadora Universal resolveu fazer um videoclipe para celebrar os 50 anos da música “Happy Xmas (War Is Over)”. Porém, depois de ver o tratamento de uns dez diretores, Lennon decidiu ir atrás de algo diferente.

Um amigo em comum o apresentou a Dave Mullins, ex-diretor da Pixar, e de cara os dois jogadores de xadrez se deram bem e bolaram uma história para o curta de 12 minutos.

Mullins, indicado ao Oscar pelo curta “Lou”, de 2017, contou que era importante ter no filme um jogo de xadrez de verdade. Com ajuda do historiador Edward Winters, o curta reproduz uma partida de 1950 em 65 jogadas que termina de maneira inesperada, entre E. Bogoljubow e A.H. Trott.

“Os nerds de xadrez vão gostar”, garantiu Mullins, cofundador do estúdio ElectroLeague com o produtor Brad Booker, em Los Angeles.

Já a sugestão do pombo-correio, chamado Icarus, veio de Lennon, que afirmou ser “um grande fã de pássaros”. “Tenho um pequeno fetiche por pássaros. Eles são tão espertos”, disse Lennon.

“Quando eu era mais jovem, quase tinha medo deles. Até minha amiga Amanda Feilding me apresentar a seu papagaio e seu pombo. Percebi como são criaturas lindas e profundas”, continuou. “No filme, o pombo também nos deu a possibilidade de ter cenas aéreas lindas.”

Pombos-correios foram usados na Primeira Guerra Mundial, embora o filme se passe numa realidade alternativa sem referências a uniformes ou medalhas de qualquer país. O motivo é fazer do curta um comentário sobre guerras em geral e não um conflito em específico.

A animação foi feita por profissionais da ElectroLeague e da Weta, estúdio de Peter Jackson, depois de Lennon procurar o diretor para “pedir conselhos” sobre a empreitada. Os dois haviam trabalhado juntos na série documental “Get Back”, e Jackson, conhecido adorador de Beatles e histórias de guerra, se interessou de imediato.

Várias técnicas foram usadas, como pinturas, desenho a mão e “performance capture”, quando atores encenam o roteiro e as cenas são transformadas em desenhos posteriormente. As filmagens aconteceram no estúdio de James Cameron, onde ele vem rodando os filmes de “Avatar”.

A equipe ficou tão focada na história que praticamente esqueceu a música. Encontrar o lugar certo para tocá-la foi um dos maiores desafios da produção, e o terceiro ato acabou sendo reescrito por conta disso. A trilha sonora é de Thomas Newman, que cria a tensão perfeita para a chegada do canção de John Lennon e Yoko Ono.

“Foi assustador, na verdade. Nada estava funcionando”, disse Lennon. “No final, encontramos um lugar perfeito, ainda que a música não toque inteira e continue nos créditos. Honestamente, nem sabíamos se poderíamos fazer assim. Afinal, originalmente queriam um videoclipe.”

Lennon não gosta de especular o que seu pai, assassinado em 1980, estaria fazendo nos dias de hoje em protesto contra as guerras atuais. “É um exercício fútil, não tem como acertar e eu não tenho a menor ideia”, disse.

“Seja lá o que você esperava dele, ele sempre mudava e te surpreendia. Meu pai estava sempre evoluindo e expandindo sua mente”, continuou. “Então, seja lá o que John Lennon fosse nos anos 1970, quais opiniões tinha aos 30 anos, certamente não seriam as mesmas de hoje.”

Em Los Angeles para promover o curta na temporada de prêmios, Lennon também acaba de lançar um álbum novo, “Asterisms”, que ele classificou de música “experimental” e conta com um brasileiro nos teclados, João Nogueira.

Fã de música brasileira, Lennon diz que se orgulha de ter levado Arnaldo Baptista para tocar com ele “Panis Et Circenses”, do grupo Os Mutantes, no Free Jazz Festival, no Rio, em 2000. “Nunca vou esquecer, milhares de pessoas gritando ‘Mutantes, Mutantes’. Foi a primeira vez que ele fez um show desde sua passagem por um manicômio. E ele continuou se apresentando depois”, disse.

“Tenho muito orgulho de ter feito isso. E é uma das grandes memórias da minha vida.”

WAR IS OVER! INSPIRED BY THE MUSIC OF JOHN & YOKO

– Quando Sem previsão

– Classificação Não divulgada

– Direção Dave Mullins

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  • Data: 02/03/2024 10:03
  • Alterado:02/03/2024 10:03
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