Fichtelberg Revela Crise da Neve e Desafios do Aquecimento Global
Atração turística em crise com falta de neve e aquecimento global afeta esqui.
- Data: 04/01/2025 12:01
- Alterado: 04/01/2025 12:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Reprodução/Pixabay
A montanha Fichtelberg, situada na fronteira entre a Alemanha e a República Tcheca, tem se tornado um importante destino turístico, especialmente voltado para os esportes de inverno. Contudo, no último domingo (29), a região foi tomada por uma grande afluência de visitantes, resultando em congestionamentos que transformaram uma viagem de 15 minutos entre as estações de esqui em mais de duas horas. Os estacionamentos estavam lotados, refletindo a alta demanda dos turistas.
As redes sociais rapidamente se encheram de postagens sobre a correria nas estações. Infelizmente, os teleféricos e os equipamentos para fabricação de neve estavam inativos, não devido a falhas técnicas, mas sim às condições climáticas favoráveis. Um dia ensolarado com temperatura amena de 5°C na montanha contrastava com o frio intenso registrado no vale, onde as temperaturas estavam abaixo de zero.
Esse fenômeno destaca uma preocupação crescente: a presença da neve está se tornando cada vez menos comum na Europa. Uma análise recente realizada pela ONG Climate Central, envolvendo dados de 123 países do hemisfério Norte, revelou que 44 deles registraram um aumento significativo em dias quentes durante o inverno nos últimos dez anos. Na Alemanha, esse número alcançou 18 dias, enquanto a Lituânia enfrentou um aumento de 23 dias acima de 0°C. A formação de neve depende essencialmente de temperaturas negativas e da umidade presente no ar.
Os efeitos do aquecimento global, resultante principalmente da queima de combustíveis fósseis e das emissões de metano, incluem o derretimento das geleiras e a diminuição da quantidade de neve nas montanhas. Embora menos evidentes, essas alterações têm profundas consequências para o meio ambiente. A neve representa um importante reservatório de água; quando as temperaturas permanecem acima do congelamento, a neve derrete rapidamente ou se transforma em chuva antes mesmo de atingir o solo. Cada aumento de 1°C na temperatura pode resultar em um acréscimo de 7% na umidade do ar, levando a mais chuvas em detrimento da neve.
Dados apontam que os Alpes perderam cerca de 34% das nevascas entre 1920 e 2020, com uma intensificação dessa perda desde os anos 1980. As altitudes inferiores a 2.000 metros são as mais afetadas pela redução da cobertura nevosa.
A Jennerbahn passou por uma reestruturação significativa com investimentos que totalizaram 57 milhões de euros (cerca de R$ 366 milhões) em novos teleféricos em 2019, visando atrair mais visitantes. No entanto, essa estratégia falhou em face da ausência prolongada de neve e dos efeitos adversos da pandemia.
A situação não é única para a Alemanha; resorts tradicionais na França como Alpe du Grand Serre e Grand Puy também encerraram suas atividades este ano devido à falta de condições adequadas para esquiar. Na Espanha, o Clube Alpino Sierra Guadarrama desativou suas operações após décadas atuando no setor. De acordo com estudos da Universidade de Grenoble, desde os anos 1980 já foram registrados cerca de 180 fechamentos dessas instalações na Europa.
Embora as mudanças climáticas possam parecer distantes para turistas oriundos de países tropicais, atividades como esqui se tornaram populares nas últimas três décadas na Europa. Agora, essa realidade começa a se reverter à medida que muitas estações enfrentam dificuldades financeiras devido ao aumento dos custos operacionais e à manutenção dos equipamentos necessários para artificializar a neve.
A pressão econômica também se torna evidente nas estações localizadas em áreas mais elevadas que estão se adaptando ao segmento luxuoso do mercado; um passe diário para esquiar em Aspen, Colorado pode custar até US$ 179 (R$ 1.105), enquanto na França esse valor gira em torno de US$ 79 (R$ 488).
Em outubro deste ano, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a Federação Internacional de Esqui e Snowboard (FIS) firmaram uma parceria com o intuito de aumentar a conscientização sobre os desafios iminentes enfrentados pelos esportes invernais devido às mudanças climáticas. A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, enfatizou: “Cancelamentos de férias e eventos esportivos são apenas uma fração visível do impacto das mudanças climáticas”.
Saulo alertou ainda que “o recuo das geleiras e a diminuição da cobertura nevosa estão gerando impactos significativos nos ecossistemas locais e nas economias regionais”. As consequências disso tendem a ser cada vez mais severas conforme as transformações climáticas prosseguem.”