Famílias paulistanas buscam qualidade de vida no interior e fogem dos altos custos de SP

Famílias paulistanas buscam qualidade de vida em cidades do interior, com custos 30% menores e novas oportunidades.

  • Data: 01/01/2025 12:01
  • Alterado: 01/01/2025 12:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress
Famílias paulistanas buscam qualidade de vida no interior e fogem dos altos custos de SP

Crédito:Governo de SP

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O pedagogo e consultor Álvaro Doria, 46 anos, expressou surpresa ao perceber sua condição financeira após a mudança para Indaiatuba, município localizado a cerca de 100 km da capital paulista. Desde sua chegada em 2021, ele notou que o custo de vida na cidade é pelo menos 30% inferior ao da metrópole, levando em conta despesas com moradia, educação dos filhos, alimentação e transporte.

A escolha de Indaiatuba foi feita de forma inesperada. “Fizemos uma pesquisa no Google sobre cidades adequadas para morar nas proximidades de São Paulo e Indaiatuba apareceu entre as opções”, revelou Doria. Ele e sua esposa, a psicóloga Ingrid Ferreira, 48 anos, buscavam uma vida mais tranquila e acessível para si e seus dois filhos, hoje com 13 e 10 anos. A decisão de se mudar foi apressada pela pandemia que impactou a vida cotidiana.

A situação profissional de Ingrid também influenciou na mudança. Após a venda da empresa onde atuava como diretora, ela foi desligada, o que intensificou o desejo por uma vida com melhor qualidade e menores custos.

Ingrid compartilhou suas impressões sobre a nova rotina: “Não preciso mais sair com uma hora e meia de antecedência para consultas médicas. As crianças têm a possibilidade de ir à escola a pé e encontram diversas opções de lazer gratuitas na cidade, como escolinhas de futebol. Além disso, os serviços públicos de saúde são satisfatórios”.

Atualmente, Ingrid atua como consultora em recursos humanos e visita São Paulo com frequência. Por outro lado, Doria se aventurou no setor da construção civil, embora continue realizando treinamentos em empresas localizadas em outras regiões.

A renda familiar diminuiu um pouco em comparação ao período em que residiam na capital, porém eles conseguiram manter um padrão de vida semelhante no interior.

Assim como a família Doria-Ferreira, muitos outros paulistanos estão deixando a cidade nos últimos anos. Dados da Fundação Seade indicam que a população da capital paulista caiu pela primeira vez em um século desde seu pico de 11,5 milhões de habitantes em 2019. Entre 2019 e 2023, a redução foi de 0,7%, evidenciando um movimento migratório significativo.

Dentre os fatores que motivam essa migração estão as mudanças demográficas — como a diminuição da taxa de natalidade e o aumento do número de óbitos — além do crescimento do custo de vida na cidade. Um levantamento da consultoria Mercer aponta que São Paulo subiu 28 posições no ranking das cidades mais caras do mundo para se viver, ocupando agora a 124ª posição entre 226 cidades analisadas para o ano de 2024.

A capital é reconhecida como a cidade mais cara do Brasil, superando Rio de Janeiro (150ª posição), Brasília (179ª), Manaus (182ª) e Belo Horizonte (185ª). Inaê Machado, líder da área de mobilidade da Mercer na América Latina, atribui essa elevação ao aumento da inflação e à valorização do dólar.

De acordo com Fábio Andrade, economista especializado em políticas públicas, o declínio populacional é resultado de uma combinação complexa: o envelhecimento da população progressivo, queda na taxa de natalidade e a busca por melhores condições de vida longe dos altos custos urbanos.

Andrade observa que muitas famílias estão optando por residir nas áreas periféricas da capital até Campinas (88 km distante), beneficiadas frequentemente pela flexibilidade do trabalho remoto. Dessa forma, conseguem manter os salários paulistanos enquanto desfrutam de um custo reduzido com habitação e mensalidades escolares.

Contudo, esse movimento pode provocar um aumento nos preços nos municípios vizinhos. O casal João Soares e Rosa Muniz percebeu esse fenômeno ao se mudar para Atibaia durante a pandemia em 2020. Rosa contou: “Queríamos um espaço que servisse como nossa casa e estúdio de ioga; no entanto, percebemos que os preços estavam elevados e acabamos indo para um bairro mais afastado”. Com o influxo contínuo de novos moradores vindos da capital, o valor dos aluguéis aumentou consideravelmente.

João e Rosa pagam atualmente R$ 4.500 por um sobrado com piscina em Atibaia — uma quantia equivalente ao aluguel de um apartamento pequeno em bairros como Saúde ou Perdizes em São Paulo. Anteriormente, eles desembolsavam cerca de R$ 7.000 por dois estúdios na capital.

Rosa ressaltou que mesmo diante dos novos desafios financeiros, os gastos gerais também diminuíram: “A renda não é mais a mesma que tínhamos em São Paulo; no entanto, nossos custos também foram reduzidos”.

Com relação à educação dos filhos — Yam, 16 anos; Théo, 14 anos — ambos se beneficiaram das novas oportunidades escolares locais. O mais velho frequenta uma escola pública modelo acessível via bicicleta; já Théo está matriculado em uma escola particular integral com mensalidade inferior à média encontrada na capital

A taxa de natalidade caiu acentuadamente nos últimos anos: entre 2000 e 2023 houve uma queda alarmante de 44%, enquanto as taxas gerais de mortalidade subiram cerca de 17%. Em consequência dessas transformações demográficas negativas combinadas com as mudanças sociais atuais vivenciadas pelos moradores paulistanos é provável que esse movimento migratório continue nos próximos anos.

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  • Data: 01/01/2025 12:01
  • Alterado:01/01/2025 12:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress









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