Estudo de SP investiga a presença de microplásticos em camarões no litoral
Projeto apoiado pela Fapesp analisa tanto os riscos ecológicos dessa poluição quanto os possíveis impactos para a saúde humana
- Data: 25/01/2025 13:01
- Alterado: 25/01/2025 13:01
- Autor: Redação
- Fonte: Agência SP
No campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um estudo de campo está sendo conduzido para investigar a presença de microplásticos em grandes crustáceos, com foco específico nos camarões-de-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri). O objetivo da pesquisa é examinar os riscos ecológicos associados a essa forma de poluição, além de avaliar as possíveis implicações para a saúde humana decorrentes do consumo desses crustáceos pela população.
A pesquisa, que conta com o apoio da Fapesp dentro do Programa Biota, está sendo realizada em duas regiões distintas: a Baixada Santista, caracterizada por intensa atividade industrial e portuária, e Cananéia, que apresenta um ambiente mais preservado e com menor intervenção humana no litoral sul paulista.
Os resultados preliminares da investigação são alarmantes. A análise inicial indicou que entre 80% e 90% dos camarões examinados apresentaram microplásticos em seus tratos gastrointestinais. Embora a quantidade dessas partículas varie conforme a localidade, a alta taxa de contaminação suscita preocupações sobre os efeitos a longo prazo para os consumidores e para o meio ambiente.
Daphine Herrera, pós-doutoranda envolvida no projeto e bolsista da Fapesp, comentou sobre a pesquisa: “Nossa proposta é analisar como os camarões de ecossistemas tão distintos reagem à exposição a microplásticos. Sendo detritívoros — alimentando-se de material orgânico no fundo do mar — esses crustáceos estão sujeitos a altas concentrações de microplásticos presentes nos sedimentos marinhos, o que facilita o estudo da bioacumulação dessas partículas em seus organismos”.
Microplásticos são definidos como fragmentos plásticos menores que 5 milímetros e representam 92,4% dos detritos plásticos encontrados nos oceanos. Sua presença é uma preocupação crescente devido às graves consequências que podem trazer tanto para a vida marinha quanto para a saúde humana, considerando que muitos frutos do mar são consumidos pela população.
O Laboratório de Biologia de Camarões Marinhos e de Água Doce da Unesp busca compreender melhor os níveis de contaminação por microplásticos nos camarões-de-sete-barbas coletados ao longo da costa paulista. O primeiro estágio do estudo consiste na análise do trato gastrointestinal dos crustáceos, onde os microplásticos são inicialmente detectáveis.
Outro aspecto crucial da pesquisa é investigar se a contaminação por microplásticos impacta também na qualidade nutricional dos camarões. Essa análise será parte da próxima fase do projeto e visa verificar se os microplásticos estão se acumulando em outros tecidos além do trato gastrointestinal, particularmente na musculatura, que é a parte mais consumida pelos seres humanos.
“Estamos apenas começando a entender a extensão desse problema, mas os dados já indicam que a situação é alarmante“, afirmou Herrera. “Este estudo representa um passo significativo para aprofundar nosso conhecimento sobre os efeitos da poluição marinha no Brasil e suas potenciais repercussões para a saúde pública, especialmente em um país onde o consumo de frutos do mar é bastante elevado”.
A pesquisa abrange crustáceos decápodes, incluindo camarões, siris, lagostas e caranguejos. O projeto analisa diversos aspectos desses organismos, como seu ciclo de vida, padrões biogeográficos, reprodução e status taxonômico. Além disso, busca investigar a história evolutiva das espécies focadas em ecossistemas vitais para sua preservação, como manguezais e estuários.
A integração dos dados gerados nesse estudo tem o potencial de contribuir significativamente para questões ambientais e sociais relevantes, incluindo conservação de espécies e ecossistemas e avaliação da qualidade dos produtos disponíveis ao consumidor.