Espécie ameaçada de extinção, pato-mergulhão se reproduz na Chapada dos Veadeiros

As aves embaixadoras das águas brasileiras utilizaram ninho pelo terceiro ano consecutivo, o que renova a esperança de pesquisadores em relação à sustentabilidade populacional da espécie

  • Data: 11/12/2020 14:12
  • Alterado: 11/12/2020 14:12
  • Autor: Redação
  • Fonte: Grupo Boticário
Espécie ameaçada de extinção, pato-mergulhão se reproduz na Chapada dos Veadeiros

Espécie ameaçada de extinção

Crédito:André Dibb

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Nove ovos de patos-mergulhão foram encontrados na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Este é o terceiro ano consecutivo que um casal da espécie se reproduz no ninho localizado na região do Rio Tocantinzinho. O que parece um fato extremamente corriqueiro é, na verdade, uma grande conquista para as pesquisas em conservação. A espécie está entre as criticamente ameaçadas e em perigo de extinção na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e a do Ministério do Meio Ambiente.

Para tentar proteger a espécie, uma rede formada por ONGs, organizações governamentais, universidades e instituições – que integram o Plano de Ação Nacional (PAN) do Pato-Mergulhão, coordenado pelo CEMAVE/ICMBIO –, promove pesquisas, faz buscas em campo e contribui com a criação de políticas públicas e ações prioritárias para salvaguardar a espécie e seu habitat. Segundo especialistas, estima-se que no mundo restam apenas entre 215 e 250 aves livres na natureza, sendo que a espécie só é encontrada hoje no Brasil.

Pesquisadores do projeto “Evitando a extinção do Pato-mergulhão no Corredor Veadeiros Pouso Alto Kalunga”, responsáveis pela descoberta dos nove ovos encontrados na APA Estadual Pouso Alto, comemoram e fazem novas expedições para mapear potenciais áreas com a presença da ave.

Até onde se pôde apurar, esta é a primeira vez que se registra uma postura de nove ovos do pato-mergulhão. Destes, oito eclodiram e três filhotes sobreviveram. “As primeiras duas semanas de vida dos filhotes do pato-mergulhão são extremamente críticas. A mortalidade por causas naturais é elevada. Se conseguirmos reduzir este índice, teoricamente, podemos aumentar o nível populacional com maior rapidez”, explica a especialista em conservação de aves aquáticas e coordenadora do projeto, Gislaine Disconzi.

O terceiro ninho mundialmente conhecido da espécie foi localizado na Chapada dos Veadeiros em 2005, no Rio dos Couros. De lá para cá, foram detectados outros nove ninhos. A grande notícia desta vez é a utilização do ninho por mais de uma estação, com sucesso”, explica o coordenador, pela Fundação Pró-Natureza (Funatura), do Programa PAN Pato-Mergulhão e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Paulo Antas.

Bioindicador da qualidade das águas

Embaixador das águas brasileiras, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) vive e se reproduz somente em ambientes conservados, perto de águas de rios muito limpos e encachoeirados. Sendo o único pato brasileiro alimentando-se exclusivamente de peixes e larvas de insetos aquáticos, depende da boa visibilidade embaixo d’água para mergulhar e pescar, daí a origem do nome. A boa condição de sobrevivência da ave é, portanto, um indicador biológico da qualidade das águas.

A crescente poluição que atinge os cursos d’água no Brasil, as mudanças causadas por projetos hidrelétricos e o assoreamento dos rios são fatores que impactam a sobrevivência da espécie. A pequena população de pato-mergulhão vive em um ambiente muito restrito. Para os pesquisadores, as descobertas mapeadas indicam um bom estado de conservação e equilíbrio do ecossistema na região da Chapada dos Veadeiros.

Os principais rios de ocorrência da espécie continuarão a ser monitorados. De acordo com Gislaine, a ideia agora é continuar a analisar a qualidade físico-química da água para avaliar quais os limites aceitáveis para a conservação do pato-mergulhão. O objetivo é avaliar o impacto nas águas de atividades como a agricultura, a pecuária, a urbanização e o turismo. O projeto conduzido por ela e pelo Instituto Amada Terra de Inclusão Social (IAT) tem financiamento do CEPF Cerrado.

Outra ação desenvolvida a favor da ave é o Programa Pato-Mergulhão, coordenado pela Funatura. Além de prospectar potenciais áreas com a presença do pato-mergulhão, a iniciativa, que conta com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pretende atualizar o censo populacional da espécie nos rios com histórico recente de presença, mas sem avaliações nos últimos 10 ou 20 anos; e indicar novos locais para uma futura reintrodução da espécie na natureza, a partir do sucesso reprodutivo da população mantida em cativeiro. “A má qualidade da água em rios tem comprometido a sobrevivência do pato-mergulhão. Precisamos urgentemente identificar e proteger localidades em que a espécie tem chances de habitar para que ela resista e se multiplique”, afirma o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz.

Descoberta também em Minas Gerais

Outro destaque para a espécie foi a descoberta, em setembro deste ano, pelo Instituto Terra Brasilis, de uma família de seis patos-mergulhão juvenis, na bacia do Rio Araguari, ao norte do Parque Estadual da Serra da Canastra, no sul de Minas Gerais. Essa região, em conjunto com a bacia do Alto Rio Paranaíba, também em Minas Gerais, abriga a maior população atual de patos-mergulhão, cerca de 150 exemplares. “Encontrar seis indivíduos que já passaram pela fase crítica inicial é uma contribuição muito importante para a preservação da espécie”, comemora Antas.

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Crédito:André Dibb
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Crédito:André Dibb Espécie ameaçada de extinção

  • Data: 11/12/2020 02:12
  • Alterado:11/12/2020 14:12
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