Especialistas alertam para falta de prevenção em tragédias como a de Los Angeles
Incêndios florestais devastadores e cortes no orçamento do Corpo de Bombeiros geram polêmica e desabrigados.
- Data: 10/01/2025 00:01
- Alterado: 10/01/2025 00:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Ringo chiu/ Reuters
A cidade de Los Angeles enfrenta uma grave crise de incêndios florestais, que já resultou em pelo menos cinco mortes e deixou mais de 100 mil pessoas desabrigadas. Especialistas em mudanças climáticas destacam que a falta de investimentos em medidas preventivas é um dos principais fatores que contribuem para a escalada da situação.
As críticas à gestão da prefeita Karen Bass se intensificaram após a redução do orçamento destinado ao Corpo de Bombeiros, que sofreu um corte significativo de cerca de US$ 17,5 milhões para o ano fiscal de 2025. De acordo com dados divulgados por Kenneth Mejia, responsável pelo orçamento da cidade, a verba total para o departamento caiu de US$ 837,2 milhões para US$ 819,6 milhões. A chefe do Corpo de Bombeiros, Kristin Crowley, expressou sua preocupação com essa diminuição, ressaltando que “a redução limitou severamente a capacidade do departamento de se preparar e responder a emergências em grande escala, incluindo incêndios florestais”.
Em resposta às críticas, Bass defendeu sua administração, afirmando que os cortes orçamentários não impactaram as operações do Corpo de Bombeiros. Recentemente, o presidente Joe Biden declarou situação de grande desastre na Califórnia e anunciou o envio de recursos federais, incluindo aviões-tanque e helicópteros, para ajudar as áreas afetadas.
A prefeita também tem enfrentado questionamentos por parte dos cidadãos sobre sua ausência durante os primeiros momentos críticos dos incêndios. Durante a emergência, ela estava em Gana participando de uma delegação oficial enviada por Biden. Bass retornou aos Estados Unidos no dia seguinte ao início das chamas descontroladas.
O professor Chris Field, da Universidade de Stanford e especialista em riscos ambientais, afirma que as queimadas na Califórnia fazem parte de um padrão alarmante observado na última década. Ele enfatiza que, embora as equipes sejam bem treinadas, é fundamental aumentar os investimentos em prevenção diante da intensificação das tragédias naturais.
Field alerta para a escassez de recursos e infraestrutura disponíveis para lidar com esses incidentes. “A quantidade atual de aeronaves e equipes não é suficiente. É imperativo realizar um investimento muito maior em detecção e supressão de incêndios”, enfatiza.
A análise do especialista revela que o gerenciamento inadequado das áreas suscetíveis a incêndios também agrava o problema. Segundo Field, “a Califórnia não tem se saído bem na gestão das áreas propensas a incêndios, o que sobrecarrega os esforços preventivos”. O desafio reside na dificuldade política de justificar investimentos em medidas preventivas que muitas vezes não são visíveis à população até que ocorra uma tragédia.
Patrick Gonzalez, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e doutor em mudanças climáticas, complementa essa perspectiva ao destacar que as florestas californianas possuem um regime natural de incêndio e que a ação humana tem exacerbado esse risco. Ele defende que “medidas de prevenção são eficazes na redução dos riscos e são menos custosas do que o combate aos incêndios após sua ocorrência”.
Além disso, Gonzalez critica políticas anteriores que suprimiram todos os incêndios naturais, permitindo assim o acúmulo excessivo de vegetação morta e outros combustíveis. Outro ponto levantado por ele é a permissividade das autoridades locais em permitir construções em áreas vulneráveis a incêndios: “As agências governamentais implementam programas para incentivar a limpeza da vegetação ao redor das propriedades, mas o problema raiz reside nas permissões concedidas para construção nessas zonas arriscadas”.