Ernesto Araújo acusa Bolsonaro de espalhar “desinformação russa”
Araújo argumentou que Bolsonaro validou a narrativa russa ao se referir a Volodmir Zelenski, presidente do país invadido, como "comediante"
- Data: 02/03/2022 15:03
- Alterado: 02/03/2022 15:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Roque de Sá / Agência Senado
O ex-chanceler Ernesto Araújo fez críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) diante da guerra na Ucrânia e afirmou que o mandatário está reproduzindo “desinformação russa” em suas falas. Em vídeo publicado nesta terça-feira, 1º, em seu canal no YouTube, o ex-ministro das Relações Exteriores disse que a posição de suposta “neutralidade” defendida pelo chefe do Executivo transmite, na verdade, uma preferência pelo país de Vladimir Putin.
“Me parece que a posição correta do Brasil, compatível com nossos valores morais e interesses materiais, seria um apoio à Ucrânia, junto com as grandes democracias ocidentais”, afirmou Araújo. O ex-chanceler também criticou a visita de Bolsonaro à Rússia no momento em que a tensão entre os países europeus já estava em escalada, o que, segundo o ex-ministro, contradiz a posição neutra que o presidente diz defender.
Araújo argumentou que Bolsonaro validou a narrativa russa ao se referir a Volodmir Zelenski, presidente do país invadido, como “comediante”. “A ilação que o presidente está fazendo é que o povo ucraniano entregou o seu destino a alguém que não tinha capacidade de conduzi-lo e agora está sofrendo as consequências disso. Isso é pura propaganda russa”, disse Araújo, acrescentando não considerar demérito o fato de o líder ucraniano ser um ex-comediante.
Antigo aliado de Bolsonaro, o ex-chanceler tem feito críticas constantes ao chefe do Executivo. Recentemente, Araújo acusou o mandatário de estar favorecendo uma política “pró-China” por meio de sua aliança com o Centrão. Segundo ele, o bloco teria passado a pautar a gestão federal conforme os interesses do país asiático.
As críticas de Araújo ecoam um racha na base de apoiadores do governo sobre como o Brasil deve se posicionar perante a invasão da Ucrânia. Como mostrou o Estadão, o conflito movimentou diferentes campos da política brasileira e expôs, curiosamente, posicionamentos confluentes entre parte dos aliados de Bolsonaro e grupos de oposição, principalmente na defesa de Vladimir Putin. Outra fatia dos bolsonaristas, à qual se encaixa Araújo, optou por condenar a ofensiva russa e defender o país atacado, evidenciando uma divisão na bolha ideológica do entorno do presidente.
Liderada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (Patriota-RJ), uma ala dos defensores do governo tem usado o confronto para enaltecer o ex-presidente americano Donald Trump.