Empregada doméstica de 82 anos é resgatada após 27 anos de trabalho escravo em SP
Idosa foi resgatada depois que uma denúncia anônima mobilizou as equipes do MPT, do Ministério do Trabalho e Previdência Social e da Polícia Militar
- Data: 08/12/2022 17:12
- Alterado: 08/12/2022 17:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
Uma mulher de 82 anos, negra e analfabeta, foi resgatada depois de permanecer 27 anos trabalhando para a mesma família em condições análogas à escravidão, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A operação de resgate, realizada no final de outubro, foi divulgada nesta quarta-feira, 7, depois que a Justiça determinou o bloqueio dos bens dos empregadores, um empresário e uma médica, no valor de R$ 815 mil.
Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), a idosa permaneceu todo esse tempo sem receber salários e sem gozar de férias ou folgas. No inquérito civil que apura o caso, ficou demonstrado que a patroa enganava a vítima, dizendo estar “guardando o dinheiro” devido à empregada para juntar o suficiente para a compra de uma casa para ela.
A idosa foi resgatada depois que uma denúncia anônima mobilizou as equipes do MPT, do Ministério do Trabalho e Previdência Social e da Polícia Militar. A vítima foi encontrada no endereço dos patrões, em condições precárias de acomodação e de trabalho. Apesar da idade, a mulher fazia todos os trabalhos domésticos da casa.
Indagada sobre os salários, ela disse que “não conhecia dinheiro” e que os patrões enviavam cerca de R$ 100 todos os meses para seu irmão, que reside na cidade de Jardinópolis. Embora fosse beneficiária de uma pensão da Previdência Social devido à idade avançada, a empregada não tinha acesso ao cartão de saque, que ficava em posse da patroa. Os empregadores não apresentaram recibos ou qualquer prova de pagamentos feitos à doméstica.
Segundo a auditora fiscal do trabalho Jamile Freitas Virginio, a empregadora alegou que usava o dinheiro para comprar os gêneros de primeira necessidade destinados à empregada. “Salário, ela nunca recebeu. Ela tinha o grande sonho de ter uma recompensa por todos esses anos de trabalho e ela expressava essa crença muito forte de que receberia uma casa da empregadora”, disse.
A vítima contou que começou a trabalhar como doméstica ainda criança, na casa de outra família, sendo “cedida” para os atuais empregadores após o falecimento da antiga patroa. “Sem estudos, sem amigos ou relacionamentos amorosos, ela se submeteu a tal situação de trabalho por ser extremamente vulnerável. Mulher, negra, de origem humilde, analfabeta, ela mais uma vez evidencia a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade”, afirmou a auditora.
Já o procurador Henrique Correia lamentou que tantos anos tenham se passado sem que a situação de exploração fosse descoberta pela comunidade que rodeava a família. “Além da ausência de remuneração, não havia controle de ponto, nem folgas semanais, sem qualquer controle do quanto recebia, com qual periodicidade, ou se recebia efetivamente algo.”