Edson Natale lança “A música no Brasil que você toca”
A gravação do primeiro LP do Amapá, a primeira mulher latino-americana a tocar na Filarmônica de Berlim, entre tantas outras histórias, são contadas no livro
- Data: 01/09/2023 10:09
- Alterado: 01/09/2023 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
A gravação do primeiro LP do Amapá
Crédito:Divulgação
O que um detetive em Recife da década de 1970, um flautista, que recepciona a Coluna Prestes em sua chegada à primeira capital do Piauí, em 1926, e uma reportagem publicada pela Revista do Rádio no início da década de 1950, questionando se uma mulher deveria ou não tocar trombone, têm em comum? É com algumas dessas perguntas e histórias que Edson Natale apresenta seu novo livro, “A música no Brasil que você toca”, dia 11 de setembro, às 20h, no Bar Balcão. O livro traz 11 histórias que o músico e gestor cultural reuniu ao longo de 30 anos de andanças pelo Brasil. O lançamento é feito pelas editoras zarpaZanza e Paraquedas.
“Este livro é resultado de muitas andanças por todo o Brasil. Quando percebi estava colecionando e anotando as histórias que ouvia ou vivenciava, e também os recortes, folhetos e livros que juntei, ganhei ou comprei nos sebos, até me dar conta de ter juntado algumas pastas com um material riquíssimo da música brasileira, diversa e de todos os lugares. Comecei a tentar dar forma a uma narrativa através da qual pudesse compartilhar essas histórias com as pessoas e algumas finalmente couberam neste livro; outras ainda aguardam novos mergulhos que se juntarão a outras viagens e encontros…”, afirma Natale.
A primeira mulher latino-americana a reger a Orquestra Filarmônica de Berlim é uma brasileira chamada Joanídia Sodré. Natale conta a sua história no livro, começando pelo seu nascimento em Porto Alegre, em 1903. Joanídia também foi uma feminista, tendo participado do 1º Congresso Internacional Feminista, aos 19 anos. No segundo ano deste mesmo congresso, Joanídia participou como regente, conduzindo um concerto formado apenas por peças de compositoras, as francesas Cécile Chaminade e Augusta Homès, a inglesa Ethel Smyth e a brasileira Branca Bilhar. Ela também escreveu o hino da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.
Primeiro disco da história do Amapá
Histórias como de Hernani Vitor Guedes, conhecido como ‘farmacêutico da rabeca’, um jovem paraense que levava medicamentos, ervas, (e música) para habitantes da Ilha de Marajó. Em 1971, decide gravar um disco, com a ajuda de parentes e vizinhos num estúdio improvisado. Logo depois, a fita matriz foi levada a Recife para que os LPs fossem prensados na Fábrica de Discos Rozenblit. A fita foi levada por um avião da Força Aérea Brasileira, único transporte possível na época, já que não haviam voos comerciais que incluíssem o Amapá em suas rotas. Com os compromissos que tinha no dia, o emissário da fita teve sua mala roubada e com ela, a fita original. Quando a notícia chegou no Macapá, os músicos de sua banda ficaram desolados. Conseguiram, por intermédio de um amigo farmacêutico do Recife, contratar um detetive para tentar ajudá-los a encontrar a fita furtada. Meses depois ela foi encontrada num sebo do Recife, e seguiu, enfim, seu caminho até a Rozenblit. Essa gravadora foi bastante importante para a música brasileira, tendo gravado nomes como Tom Zé, Capiba, Zé Ramalho, entre outros, e realizou também o sonho do farmacêutico da rabeca, que teve o disco da banda Os Mocambos gravado. Este foi o primeiro disco do Amapá a ser gravado.
O livro também conta a história de Pena Schmidt, produtor musical responsável por ‘descobrir’ grupos como Titãs, Novos Baianos e Ira!. Sua história começa em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, quando foi estudar na Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa. Ali, aprendeu a técnica e os macetes que o levaram a se tornar técnico de som dos Mutantes. Produziu grandes nomes da música brasileira, foi curador e ‘olheiro’ de grandes gravadoras e tem sua história cravada na música popular brasileira. O violeiro Paulo Freire também tem a sua história contada. Ele foi viver com seu Manelim no sertão do Urucuia, em Minas Gerais, para aprender a tocar viola.
Sobre Edson Natale
Edson Natale descobriu-se músico na faculdade de agronomia, no início dos anos 1980, e desde então atravessa a vida de mãos dadas com a música e com outras pessoas que a amam. Nascido em São Paulo, em 1962, atuou no campo da gestão cultural por mais de vinte anos, como gerente do núcleo de música do Itaú Cultural e gerente-coordenador do Auditório Ibirapuera e de sua escola, dedicada à formação musical de estudantes da rede pública de ensino. Além de discos como Nina Maika (1990), Calvo, com sobrepeso (2007), Âmbar – os afluentes da música (2020) e A egípcia e o mecânico (2022), lançou livros como A história do incrível Peixe Orelha e Balila, a minhoca bípede, voltados para o público infantil. Com Cris Olivieri, é organizador da coletânea de textos Direito, arte e liberdade e do Guia brasileiro de produção cultural.