Edições Sesc SP e o fotógrafo João Farkas lançam “Pantanal”
Obra reúne imagens captadas durante dez expedições à região entre 2014 e 2019
- Data: 27/08/2020 13:08
- Alterado: 27/08/2020 13:08
- Autor: Redação
- Fonte: Edições Sesc São Paulo
Cidade de Poconé - área de mineração industrial
Crédito:João Farkas
Depois de dez viagens realizadas em um período de cinco anos à região, o livro Pantanal, de João Farkas, é o novo lançamento das Edições Sesc São Paulo. Com 80 imagens acompanhadas de pequenos textos e distribuídas em 160 páginas, a obra desnuda a alma pantaneira a partir de um desafio ao tradicional estilo de documentação do fotógrafo. “Por ser muito fotogênico, esse ecossistema já foi objeto de muitos ensaios fotográficos. Não valeria a pena fazer um livro com os mesmos aspectos ou com a mesma visão. Trata-se de um olhar autoral com imagens que fogem do simplesmente documental e trazem uma visão pessoal, por vezes idílica, por vezes dramática”, diz o autor.
Quem compartilha de igual percepção é o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, que afirma: “Habituado ao gênero do retrato, João Farkas se deparou com vastas áreas pantaneiras onde a ausência humana é um aspecto eloquente, o que o levaria a assumir a paisagem como tema principal de seu ensaio fotográfico, exigindo-lhe o desenvolvimento de uma linguagem visual capaz de enquadrar vistas tão múltiplas e fugidias”.
No livro, as fotos revelam toda a complexidade retratada, perpassando uma simbiose extremamente particular entre o bioma e a vida humana, gerando um emaranhado de sensações. Ao mesmo tempo em que instiga mistério e distanciamento, a obra de Farkas remete a um assunto amplamente discutido e em evidência: as profundas ameaças e transformações do Pantanal por conta do assoreamento de seus rios e da mudança climática. “Na edição de todo o material produzido, eu incluí imagens das consequências destas alterações ao lado de fotos espetaculares e pouco conhecidas de alguns aspectos da região, como a floresta de buritis, as lagoas do Rio Paraguai e a fantástica florada dos ipês”, cita o autor.
Nesse sentido, Farkas complementa: “Cada bioma exige uma aproximação visual diferente e o Pantanal é sui generis. Tem uma amplidão e uma horizontalidade radicais. Lá, as coisas estão muito próximas ou muito longe do ponto de vista do fotógrafo. Acho que foi isto que acabou me levando a uma visão aérea, quando a composição se torna interessante, sem a onipresença do horizonte. Mas, lá de cima, há ainda uma questão única: é um local onde ‘terra e água’ se misturam e se fecundam, como bem disse Manoel de Barros, o grande poeta pantaneiro”.
Ao rever o desafio de registrar a região, o fotógrafo afirma que encontrar imagens diferentes e inesperadas do Pantanal era fundamental para que as pessoas dessem atenção ao trabalho, cuja missão subjacente é alertar a sociedade para o processo de degradação ambiental. Sobre isso, vale lembrar que, em outubro de 2019, Farkas documentou as maiores queimadas de que se tem notícia no Mato Grosso do Sul, assim como o desaparecimento do Rio Taquari em seu baixo curso.
Este último ponto também revela, na obra, a existência de heróis locais, como Ruivaldo Nery de Andrade, que, por meio de sua apaixonada luta em defesa do meio ambiente, inspirou o filme Ruivaldo, o homem que salvou a Terra, que teve aporte da iniciativa Documental Pantanal, da qual o fotógrafo é um dos porta-vozes. Com 46 minutos de duração, o documentário conta com direção de Jorge Bodanzky e é codirigido pelo próprio Farkas. Depois de estrear internacionalmente em Bruxelas em setembro de 2019, ter sido apresentado em Corumbá (MS) e na capital paulista, o título participou do evento Manifestos Para Adiar o Fim do Mundo e, mais recentemente, da programação especial dedicada à Semana do Meio Ambiente, que antecipou a nona edição da Mostra Ecofalante de Cinema (trailer disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WFZQjkfa3QQ&frags=pl%2Cwn)
Quanto ao aspecto mais humano de “Pantanal”, Farkas recorre ao retrato – sua especialidade – para estampar a melancolia das pessoas que ali residem e resistem à destruição causada pela exploração não responsável das áreas produtivas. Esse olhar tristonho é recorrente nas imagens deste povo acometido por dificuldades e isolamento. Em poucas palavras, a proximidade do fotógrafo com a região pode ser definida como uma mescla de encantamento e estranhamento, como ele próprio relata em uma das passagens de seu novo livro: Caminhei instintivamente para imagens em tudo diversas das que já tinha visto, radicalmente distintas e surpreendentes. Quanto mais conheci o Pantanal, com mais profundidade mergulhei neste paradoxismo de beleza.”
Escolhido para escrever a orelha do livro, o fotógrafo Luciano Candisani, em sua reflexão sobre a profundidade do trabalho de Farkas, afirma que a obra imprime uma tônica fiel ao que o leitor verá em seguida. Por sua vez, o biólogo Sandro Menezes Silva, professor-doutor da Universidade Federal da Grande Dourados e um dos maiores especialistas sobre o Pantanal, presenteia o leitor, no final do livro, com todo o suporte teórico necessário para entendimento da realidade deste paraíso inundado.
“Caminhei instintivamente para imagens em tudo diversas das que já tinha visto, radicalmente distintas e surpreendentes. Quanto mais conheci o Pantanal, com mais profundidade mergulhei neste paradoxismo de beleza”. João Farkas
Ficha técnica:
Pantanal
Autor: João Farkas
Edições Sesc São Paulo
2020
Páginas: 160
ISBN: 978-65-86111-00-2
Preço: R$ 150