Economista afirma que abolir escala 6×1 pode revitalizar capitalismo
Economista propõe uma semana de trabalho reduzida para quatro dias como uma solução para o esgotamento profissional e para a adaptação do capitalismo às demandas do século 21
- Data: 14/11/2024 10:11
- Alterado: 14/11/2024 10:11
- Autor: Redação
- Fonte: Folha
Crédito:Divulgação/Freepik
O economista Pedro Gomes, professor na Universidade de Londres em Birkbeck e autor do livro “Sexta-feira é o novo sábado” (2021), propõe uma reestruturação significativa na semana de trabalho, reduzindo-a para quatro dias. Gomes argumenta que tal mudança não visa apenas aumentar a felicidade dos trabalhadores, mas também preservar o capitalismo contemporâneo.
Segundo Gomes, o mercado de trabalho não acompanhou as profundas transformações ocorridas nas últimas décadas. Ele observa que essa defasagem resultou em profissionais sobrecarregados e famílias esgotadas, especialmente em países onde predomina a jornada 5×1. No Brasil, onde ainda se discute a redução da semana de seis dias, Gomes vê com bons olhos esse movimento, descrevendo-o como uma herança do século 19 que precisa ser revisada.
Em 2023, Gomes liderou um projeto piloto em Portugal, seu país natal, testando a semana de quatro dias em 41 empresas. Ao término do experimento, apenas quatro dessas organizações optaram por retornar ao modelo de cinco dias.
Historicamente, mudanças na estrutura laboral sempre enfrentaram resistência empresarial. No entanto, Gomes defende que as adaptações necessárias são mais viáveis do que inicialmente se imagina. Ele destaca que a redução para quatro dias pode ser a melhor organização econômica para o século 21, considerando as mudanças tecnológicas e sociais significativas nos últimos 50 anos.
A ideia central é que o tempo livre possui valor econômico intrínseco. Atividades de lazer e consumo ocorrem principalmente fora do ambiente de trabalho. Exemplos históricos mostram que mudanças na jornada laboral podem estimular setores internos da economia, como evidenciado nos Estados Unidos nos anos 1940 e na China em 1995.
No Brasil, onde ainda prevalece o debate sobre a extinção da semana de seis dias, Gomes acredita que uma transição gradual para quatro dias seria benéfica. Ele argumenta que melhorias semelhantes às observadas em outros países poderiam ocorrer aqui também.
A resistência política e empresarial é compreensível diante de mudanças estruturais. Contudo, Gomes ressalta que legislações já consolidaram alterações semelhantes no passado e defende que regular a jornada de trabalho é uma função legítima do Estado.
Saúde Mental do Trabalhador
Além dos argumentos econômicos, há também considerações sobre saúde mental e bem-estar. A pressão moderna do trabalho intensivo tem aumentado casos de estresse e burnout, afetando a produtividade e gerando custos significativos para empresas e sistemas de saúde.
Para implementar com sucesso essa transição, Gomes sugere começar por grandes empresas dispostas a inovar em suas práticas internas. As experiências internacionais têm mostrado que a adaptação pode resultar em aumento de produtividade e satisfação dos funcionários.
Assim, enquanto no Brasil a discussão avança lentamente no Congresso Nacional sobre proibir legalmente a jornada 6×1, Pedro Gomes continua sua defesa fervorosa pela semana de quatro dias como um passo crucial para alinhar práticas trabalhistas às demandas do século 21.