Dólar fecha em queda e Bolsa sobe com falas de Haddad sobre arcabouço fiscal
Nesta quinta-feira (24), o dólar teve queda de 0,50%, encerrando o dia a R$ 5,662, influenciado por declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o fortalecimento do arcabouço fiscal.
- Data: 24/10/2024 21:10
- Alterado: 24/10/2024 21:10
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil
O dólar fechou em queda 0,50% nesta quinta-feira (24), a R$ 5,662, sob efeito de falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre fortalecimento do arcabouço fiscal.
A sessão foi de volatilidade. A moeda passou grande parte do dia em alta e chegou à máxima de R$ 5,719 com os dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15). Após declarações de Haddad no meio da tarde, virou para o negativo e oscilou entre os sinais, até firmar queda perto do fim das negociações.
Já a Bolsa avançou 0,64%, aos 130.066 pontos.
Em evento do G20, o chefe da Fazenda, ao lado do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que não irá reformular o regramento fiscal, mas, se houver “necessidade de reforçar parâmetros para que ele se sustente, esse é o caminho que trilharemos”.
Já Campos Neto acenou ao pacote de medidas anunciado pela ala econômica do governo na semana passada. Os planos são de corte de gastos, mas só serão detalhados após o segundo turno das eleições municipais no próximo domingo (27).
“Sobre os prêmios de risco, vimos uma alta nas taxas de longo prazo e nas implícitas. Acreditamos que haverá anúncios de medidas para endereçar, ao menos de modo parcial, a reação dos mercados e a situação fiscal”, disse Campos Neto, classificando como “exagerados” os preços do mercado nos últimos dias.
As falas se dirigiram a temores de investidores sobre a sustentabilidade das contas públicas e deram impulso à recuperação dos ativos brasileiros.
“Dia volátil. Estava com cara de que teríamos mais um pregão no negativo e dólar em alta, mas declarações de autoridades no G20 viraram a história. O mercado recebeu as falas muito bem e, com isso, parte das pressões se dissipou”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Haddad também fez menção aos dados de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta manhã.
Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,51% neste mês, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,43% a 0,60%.
Com o resultado de outubro, o IPCA-15 acelerou a 4,47% no acumulado de 12 meses. A taxa era de 4,12% até setembro.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura desta quinta-feira, a base anual do IPCA-15 está bem próxima ao teto da meta, de 4,50%.
No evento do G20, Haddad disse “garantir” que a inflação irá fechar o ano dentro das bandas trabalhadas pelo BC.
A principal ferramenta do Copom para controlar a subida de preços é a taxa básica de juros do país, a Selic. O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano.
Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Com o dado próximo ao teto da meta, a expectativa do mercado é que os juros subam na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 5 e 6 de novembro, ainda que o tamanho do aperto não seja consenso entre o mercado.
“O IPCA-15 deve fornecer o suporte para que o Copom adote, eventualmente, uma postura mais ‘hawkish’ [agressiva contra a inflação, com alta de 0,50 ponto percentual] na reunião de novembro, embora existam também elementos que sustentem uma postura mais serena, com um aumento mais brando, de 0,25 ponto percentual”, avalia André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
No exterior, o cenário dos Estados Unidos manteve a aversão ao risco, conforme o fim da corrida pela Casa Branca se aproxima.
No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida -assim como a agenda econômica que irá pautar os EUA pelos próximos quatro anos.
Apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa nos últimos dias na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 62%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 38%.
A possibilidade de uma vitória do candidato republicano tem feito o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo -algo positivo para o dólar.
As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que também se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.
Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.
Divulgados nesta quinta, os pedidos semanais de auxílio-desemprego caíram para 227.000, ante 242.000 anteriormente, e ficaram abaixo da projeção de economistas de 242.000.
O número reforçou a aposta de um ciclo de afrouxamento mais gradual pela autoridade americana. A redução de 0,25 ponto percentual tinha 93% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 7% restantes.
Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.