Dia da Consciência Negra é um dia de Luto e de Luta

Em uma entrevista descontraída conversamos com Talita Cabral, que se apresenta como mulher negra, cantora e produtora cultural, mas é muito mais que isso. Acompanhe!

  • Data: 21/11/2020 15:11
  • Alterado: 22/08/2023 22:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: ABCdoABC
Dia da Consciência Negra é um dia de Luto e de Luta

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Nesse Dia da Consciência Negra, o Portal ABCdoABC entrevistou a cantora, professora e produtora cultural de São Caetano Talita Cabral. Como mulher negra, afirma que a data é de luto e de luta, pois representa “o sangue de toda uma sociedade”.

Talita conta que o Brasil, apesar de autoridades afirmarem o contrário, ainda é um país racista. “O preconceito é sentido, é visto, é legalizado, é endossado pelo poder público e pelo poder policial”, diz. E completa, ainda, com dados “mulheres pretas ou pardas recebem menos anestesia na hora do parto em relação a mulheres brancas”. Mulheres negras podem ser vistas em maior quantidade nas periferias, em cargos que não são valorizados economicamente, em penitenciárias, e isso também evidencia a existência do racismo no Brasil. Para Talita, cada ato racista, mesmo que seja um pequeno detalhe como o olhar no ônibus ou a escolha de palavras como “a coisa tá preta” ou “denegrir” é um gatilho para todo um sofrimento passado. “É como se uma pessoa que sofreu uma violência pesada, sempre fosse lembrada daquele dia que ela sofreu.”

Sobre o chamado “racismo reverso”, a produtora diz que não existe, “pra ter racismo reverso teria que ter tido navio branqueiro”. Segundo o dicionário, racismo é uma “doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e superior, de dominar outras”, de acordo com essa definição, o racismo inverso seria anulado, uma vez que a raça negra nunca foi dominante na sociedade.

Para Talita, a verdadeira ação antirracismo no país são as ações afirmativas, práticas, que são poucas. No setor cultural, há um favorecimento às chamadas “belas artes”, eurocêntricas, deixando de lado o que realmente precisa de atenção. “Tivemos o debate aqui, onde o candidato falou ‘pra quê seu filho vai fazer aquelas oficinas de vagabundo?’ querendo dizer do hip hop”, fala que demonstra o descaso com a arte originária dos negros.

Higienização da cultura

Talita conta que hoje em dia, no Brasil, a cultura originalmente negra e indígena sofre uma apropriação e “higienização” pelos brancos. Como exemplo, cita o samba: “a Sapucaí é legal, porém a escola de samba como ela é em seu nascimento, aí já não é legal, tem que por lei, grade, por preço caro para que as pessoas que fizeram essa tradição não estejam lá”, tornando o negro apenas um “exportador” de sua própria cultura, sem poder aproveitá-la, “apagando” a cultura original. “Todo mundo pode chegar na rua e fazer uma intervenção artística, mas algumas serão paradas, outras não”, diz.

Para finalizar, Talita diz que consciência negra é algo que deve ser feito o ano inteiro, e conta que a nossa sociedade está doente, pois ainda tem que ser lembrada da necessidade de igualdade. E afirma que a cultura deve ser inclusiva e não exclusiva, é preciso normalizar as falas, os corpos e as demandas dos negros, pois são pessoas como quaisquer outras.

Veja o vídeo para conferir a entrevista completa.

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