Desigualdade de Gênero: Mulheres ainda lutam por espaço em cargos de liderança no Brasil
Apenas 17,5% das mulheres ocupam cargos no Congresso e enfrentam desafios diários na carreira.
- Data: 04/01/2025 02:01
- Alterado: 04/01/2025 02:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Reprodução
A participação feminina em cargos de liderança, tanto no setor público quanto no privado, ainda é alarmantemente baixa no Brasil. Atualmente, as mulheres ocupam apenas 17,5% das cadeiras no Congresso Nacional e são responsáveis pela gestão de apenas duas capitais brasileiras. Em um panorama corporativo, elas representam 27% dos quadros executivos nas mil maiores empresas do país, conforme levantamento realizado pelo Instituto Ethos.
Entretanto, a desigualdade de gênero vai além da luta por posições de destaque; ela se estende também aos desafios enfrentados pelas mulheres que conseguem chegar a essas funções. A permanência e a efetividade do poder nas lideranças femininas são constantemente ameaçadas por uma série de obstáculos.
Carine Roos, fundadora da consultoria em diversidade e inclusão Somos Newa, enfatiza a necessidade urgente de desenvolver políticas que promovam a inclusão feminina em papéis de liderança. Segundo ela, essa inclusão deve abranger diversos aspectos da dinâmica organizacional. “É essencial implementar estratégias que assegurem a permanência das mulheres que atingem cargos executivos e que são mães, além de evitar a criação de ambientes de trabalho hostis e predominantemente masculinos”, argumenta.
Esse fenômeno também é observado nas esferas públicas, onde mulheres eleitas como deputadas ou senadoras frequentemente enfrentam dificuldades para exercer seu poder em um ambiente majoritariamente masculino e estruturado para o gênero oposto. Malu Gatto, professora na University College London (UCL) e coautora do livro “Candidatas”, destaca que “existem barreiras formais e informais que dificultam a atuação das mulheres na política, incluindo a ausência de regras sobre licença-maternidade no Congresso”.
Estudos revelam que as mulheres em posições de liderança não só enfrentam desigualdades estruturais, mas também se tornam alvo de diversas formas de violência. Uma pesquisa da UERJ demonstrou que senadoras líderes são frequentemente interrompidas durante debates — muitas vezes por colegas homens — o que revela uma cultura ainda enraizada na desvalorização da voz feminina. Além disso, um estudo realizado pelo MIT em 2020 indicou uma correlação entre assédio sexual e o aumento do risco enfrentado por mulheres líderes nos Estados Unidos, Japão e Suécia.
No contexto brasileiro, as disparidades são ainda mais acentuadas para mulheres negras, que ocupam apenas 3,4% das posições executivas nas maiores empresas do país. Andréia Coutinho Louback, fundadora do Centro Brasileiro de Justiça Climática, ressalta que ser uma exceção neste cenário não é motivo para celebração. Ela critica a ideia de meritocracia como uma máscara que oculta os desafios estruturais enfrentados por mulheres negras ao tentarem ascender em suas carreiras.
A falta de representatividade traz consigo outros desafios. Coutinho Louback menciona que muitas vezes sua autoridade é questionada em um ambiente onde não está acostumada a ser uma líder reconhecida. Além disso, questões relacionadas à saúde também afetam a permanência das mulheres em cargos executivos. Recentemente, ela passou por uma cirurgia devido à endometriose e expressou preocupações sobre a pressão para não interromper sua rotina profissional para cuidar da saúde.
A maternidade é um outro fator complicador nesse cenário. Dados do governo federal indicam que 38% das mulheres em cargos de liderança têm filhos menores, enquanto entre os homens esse número sobe para 66%. Carine Roos destaca a necessidade urgente de encontrar soluções que permitam às mulheres equilibrar suas responsabilidades profissionais com as demandas familiares. Flexibilização nos horários e possibilidade de trabalho remoto são algumas das sugestões que poderiam contribuir para melhorar essa situação.