Desafios que os jovens da periferia enfrentam para entrar no mercado de trabalho

Estudo colaborativo do Juventudes Potentes e da Rede Conhecimento Social expõe cenário de exclusão e sugere caminhos para ampliar acesso à educação e ao mundo do trabalho

  • Data: 27/06/2023 08:06
  • Alterado: 27/06/2023 08:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Juventudes Potentes
Desafios que os jovens da periferia enfrentam para entrar no mercado de trabalho

Imagem Ilustrativa

Crédito:Edson Lopes Jr./Secom

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Para mostrar os fatores que distanciam jovens talentos do mercado formal de trabalho e sugerir novos caminhos, o Juventudes Potentes, aliança que promove a inclusão produtiva de jovens-potência da periferia da cidade de São Paulo, e integra o movimento internacional Global Opportunity Youth Network (GOYN), lança o estudo “Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo”, feito em parceria com a Rede Conhecimento Social. 

A pesquisa, que escutou 600 jovens das zonas Sul e Leste da cidade, com 15 a 29 anos, contou com a participação das juventudes não apenas como respondentes, mas também como pesquisadores. O estudo traduz em dados a realidade vivenciada e sentida nesses territórios: nove em cada 10 entrevistados acreditam que “existe um processo de desigualdades sociais históricas que atinge algumas pessoas e grupos e as mantém em condições menos favoráveis que outras”. 

Acesso ao mundo do trabalho

Os desafios de acesso ao mundo do trabalho e à boas oportunidades de emprego são inúmeros para as juventudes que vivem nas zonas Sul e Leste de São Paulo: 42% deles começaram a trabalhar antes dos 16 anos, ou seja, ainda em idade escolar. Apesar de 64% desses jovens serem economicamente ativos, mais da metade (54%) acredita que existem poucas vagas perto de onde moram. Para concorrer a oportunidades mais distantes, 26% afirmaram que já tiveram que mentir sobre o bairro em que moram para conseguir emprego. 

Outro ponto de atenção é o processo seletivo. Segundo os jovens, as empresas deveriam promover processos mais transparentes, inclusivos e com retorno sobre seu desempenho ou inadequação à vaga. 

O preconceito e a discriminação das empresas são citados por 45% dos jovens como um dos empecilhos para acessar vagas de emprego. Respondentes afirmam que já se sentiram desrespeitados em algum processo seletivo e acreditam que não são avaliados pelas capacidades e potencial, mas, principalmente, com base em suas características pessoais e sociais estigmatizadas. 

Para esses jovens, os recrutadores também avaliam aparência, maneira de se vestir, de se expressar e o bairro onde vivem. Para 50% dos participantes da pesquisa, a baixa qualificação profissional ou concorrência injusta em comparação aos demais jovens é o principal impeditivo para acesso a melhores vagas de trabalho. Além disso, 39% já se sentiram subestimados por conta do lugar onde estudaram. 

Desafios de estrutura e de qualidade de vida

Apesar de 84% viverem em regiões com infraestrutura urbana, ainda é comum a falta de água, luz e alagamento, situação apontada especialmente por juventudes negras. Além disso, 42% levam mais de uma hora para chegar ao centro e 60% já se sentiram prejudicados por passar muito tempo no transporte. 

Sendo que 68% relatam já ter ficado sem dinheiro para pegar transporte. Ainda que sete em cada 10 jovens se sentam seguros no bairro que moram, a sensação de insegurança afeta sobretudo mulheres e pessoas LGBTQIAPN+: 5 a cada 10 mulheres não se sentem seguras em chegar tarde em casa e 3 a cada 10 jovens LGBTQIAPN+ não se sentem seguros no bairro que moram. 

O atendimento à saúde também é um ponto de atenção. O atendimento em saúde mental é uma das grandes demandas das juventudes: 6 a cada 10 jovens LGBTQIAPN+ avaliam como “ruim” ou “mais ou menos” sua saúde mental e 33% dizem que sua condição de saúde física e mental atrapalha na busca por um trabalho. 

Educação

O levantamento também aponta um grande desafio em relação à interrupção dos estudos: 21% já abandonaram as salas de aula por dificuldades de conciliar estudo, trabalho e demais responsabilidades do lar. Dos que já pensaram em largar os estudos (44%), o motivo mais predominante é a maternidade e paternidade: 38% dos jovens são mães ou pais (sendo 37% deles antes dos 17 anos) e 39% disseram assumir sozinhos a responsabilidade pelo cuidado do(s) filho(s). 

Apesar dos desafios, 78% pretendem continuar ou retomar os estudos. Isso porque visualizam na educação uma oportunidade de crescimento e qualificação profissional. Hoje, em seus territórios, a realidade mais próxima que veem de continuidade dos estudos são cursos livres na área em que trabalham. 

Análise e caminhos

Para Harika Maia, Diretora de Projetos da Rede Conhecimento Social, a construção coletiva da pesquisa é um diferencial do estudo. Jovens e profissionais da área de juventudes colaboram com a concepção da pesquisa, a análise de dados e evidências encontradas. “Realizar pesquisas com criação coletiva é uma experiência rica. O resultado é uma pesquisa que traz a percepção de jovens sobre sua realidade e gera sensibilização e engajamento de todos os atores participantes do ecossistema da inclusão produtiva. Garantimos, assim, maior chance de uso dos dados para incidência política e melhora na qualidade de vida de jovens na cidade.”, pontua. 

Nayara Bazzoli, Gerente do Juventudes Potentes, que atua em rede com empresas, governos e organizações da sociedade civil, aponta que esse levantamento mostra que a falta de acesso das juventudes é interseccional, o que significa que há sobreposição de variáveis que influenciam na reprodução das injustiças estruturais. Essas variáveis são: Raça/cor, Sexualidade e identidade de gênero, Idade, Renda domiciliar, Local de moradia e Maternidade. 

“A pesquisa mostra que as principais injustiças são vivenciadas por jovens com baixa renda domiciliar, mulheres, negros, LGBTQIAPN+ e com filhos. Com isso, é importante que a sociedade se conscientize dessa realidade e proponha planos de ação articulados. É imprescindível criar políticas intersetoriais e entre diferentes atores do ecossistema do mundo do trabalho para construir, de forma conjunta, mecanismos de superação das desigualdades sociais e promoção de qualidade de vida a esses jovens, com direito à projeção de futuro, escolhas e dignidade”, ressalta Nayara Bazzoli. 

Nayara acrescenta que, para além de promover melhores condições e mitigar as desigualdades sociais, investir nas juventudes das periferias também é imprescindível para o desenvolvimento econômico do país. Portanto, os setores público e privado deveriam agir juntos no desenho de estratégias sólidas que passam principalmente pela educação e pela inclusão produtiva dos jovens no mercado. A pesquisa recomenda 10 principais iniciativas de enfrentamento: 

  1. Ofertar reforço escolar para diminuir desigualdades educacionais;
  2. Promover maior aproximação da escola às suas demandas de jovens periféricos: trabalho, condições de vida, habilidades existentes e a serem desenvolvidas, projetos de vida, saúde mental, etc.;
  3. Promover inserção mais qualificada ao mundo do trabalho;
  4. Promover o uso qualificado da Internet.
  5. Criar meios de garantir inclusão e permanência do jovem no trabalho, com olhar também para o estudante trabalhador e/ou mãe; 
  6. Desenvolver políticas públicas de incentivo e fiscalização de direitos trabalhistas e de inclusão produtiva; 
  7. Incentivar as empresas a se instalarem nas periferias;
  8. Construir capacitação dialogada entre Governo, OSCs e Empresas, visando os desejos dos jovens, tendências, profissões de futuro e oportunidades de desenvolvimento do próprio território;
  9. Mudar a cultura internadas empresas para que acolham o jovem trabalhador desde o processo seletivo e garanta condições favoráveis ao seu desenvolvimento;
  10. Incentivar novas dinâmicas de trabalho pensadas em jovens periféricos. 

Pesquisa Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo 

Metodologia – O diferencial da iniciativa já começa na metodologia, que promove a participação social por meio da construção coletiva em que jovens e profissionais da área de juventudes colaboram com a concepção da pesquisa, a análise de dados e evidências encontradas, aspecto que se relaciona diretamente com a dinâmica da atuação do Juventudes Potentes, pautada na metodologia Impacto Coletivo, que prevê uma ampla articulação de diferentes instituições capazes de fazer a diferença na promoção da inclusão produtiva de jovens-potência. A pesquisa quantitativa foi realizada pela organização Juventudes Potentes com 600 jovens da Zona Sul e Leste de São Paulo. O público que respondeu é 50% feminino e 50% masculino.

Faixa etária – a maioria dos jovens tem entre 20 e 24 anos (36%). Em seguida, 35% têm entre 25 e 29 anos; 17% possuem entre 15 e 17 anos e 12% têm de 18 a 19 anos.

Principais dados – cerca de 71% se autodeclararam pretos e pardos; 28% brancos e 1% respondeu a opção ‘outras’. Deste total, 38% dos respondentes têm filhos e se tornaram mães e pais na na faixa de 18 a 24 anos (49%); 16 ou 17 anos (26%); 25 a 29 anos (14%) e antes dos 15 anos (11%). Cerca de 39% são a única pessoa responsável pelo cuidado das crianças. Dos entrevistados, 12% se autodeclararam do grupo LBGQIAPN+.

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  • Data: 27/06/2023 08:06
  • Alterado:27/06/2023 08:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Juventudes Potentes









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