De 2018 a 2023, 59 toneladas de drogas foram apreendidas no Grande ABC

Dados são dos últimos cinco anos, de 2018 a 2023; no mesmo período, foram registradas 6.259 ocorrências de tráfico de entorpecentes

  • Data: 16/07/2023 11:07
  • Alterado: 16/07/2023 11:07
  • Autor: Gabriel de Jesus
  • Fonte: Renan Soares/Thainá Lana/Diário do Grande ABC, Polícia Militar de São Paulo
De 2018 a 2023, 59 toneladas de drogas foram apreendidas no Grande ABC

Crédito:Reprodução

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O consumo de drogas em nossa sociedade ainda é uma realidade. Numa semana onde temos acompanhado conflitos no centro de São Paulo entre polícia e usuários de drogas, localizados na cracolandia, parece não haver uma solução de problemas. A droga é causadora de conflitos familiares, instabilidade profissional, além de relação direta na saúde dos usuários e, por consequência, reflexos na, já muito criticada, saúde pública.

De acordo com informações da Polícia Militar de São Paulo, 49% das escolas estaduais têm problemas com o consumo e o tráfico de drogas segundo pesquisa feita em cinco capitais brasileiras. 20 mil brasileiros morrem a cada ano em decorrência do consumo de entorpecentes ou de crimes relacionados ao tráfico. As estatísticas indicam que 10% dos presos brasileiros (16.000) são traficantes, percentual que em 94 era de 0,7%. 80% dos crimes urbanos cometidos no Brasil têm alguma relação com droga.

No Grande ABC o cenário não é muito diferente. De acordo com o levantamento feito pelo Diário do Grande ABC obtidos pela LAI (Lei de Acesso à Informação), nos últimos cinco anos foram apreendidas 58,6 toneladas de drogas nos municípios da região. A maconha foi a substância química com maior volume de apreensões, com 44 toneladas. Em seguida aparecem cocaína (10), crack (1), além de outros entorpecentes (2), como Ketamina (anestésico geral), ecstasy, haxixe, lança-perfume, LSD (dietilamida do ácido lisérgico), skunk merla (subproduto da cocaína) e cogumelos.

Foram apreendidos ainda, nos últimos cinco anos, 342 gramas de DMT (Dimetiltriptamina), anfetaminas, inalantes e boa noite, cinderela. Além de 5,8 mil litros de lança-perfume e LSD. A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSD) informou a possibilidade de haver duplicidade em alguma das ocorrências.

O delegado Francisco José Alves Cardoso, titular da Delegacia Seccional de Santo André, que também abrange as cidades de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra,  reforçou a importância do trabalho das forças de segurança. “O tráfico é uma questão muito delicada, combatida diuturnamente, que passa pelas polícias Federal, Civil, Militar, Rodoviária, além da GCM (Guarda Civil Municipal). Penso que esse é um dos principais problemas no Grande ABC, a droga é destruidora de famílias, um mau maior que pode estar em uma sociedade, e um combate constante é fundamental porque evita o envolvimento de jovens, adolescentes e adultos”, diz. 

Na região, apenas os munícipios de Santo André e São Bernardo contam com unidades especializadas para combater o tráfico de drogas, com a atuação da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes).  Esses locais trabalham para identificar e interromper redes de contrabando, prender traficantes e apreender drogas ilícitas

A delegada titular da Delegacia Seccional de São Bernardo, Kelly Cristina Sacchetto Cesar de Andrade, destaca que em seis meses, a unidade prendeu 74 pessoas em flagrante por tráfico de drogas. Responsável também pelo município de São Caetano, de janeiro a junho, foram lavradas 318 ocorrências envolvendo apreensão de drogas nas duas cidades, com aumento de 36% em relação ao mesmo período do ano passado.

A SSP destaca que as polícias utilizam abordagem multifacetada, envolvendo investigações, trabalho de inteligência, monitoramento geográfico e atuação em campo para combater o tráfico de drogas no Estado.

DROGAS SINTÉTICAS

Sobre as drogas tipo K, conhecida como ‘super maconha’, a delegada Kelly Cristina explica que esse tipo de substância já está presente na região, e que em seis meses a Seccional de São Bernardo apreendeu 130 porções somente de K9. As substâncias sintéticas costumam ser misturadas com outros entorpecentes, como crack e cocaína. 

“A mistura não dificulta o trabalho da polícia, pois sempre haverá o princípio ativo presente na substância, ainda que haja mistura com outros elementos químicos. A combinação ocorre geralmente para aumentar a quantidade da droga ou para potencializar seus efeitos”, explica Kelly. 

As drogas tipo K surgiram nos Estados Unidos em 2010, e atualmente vemos concentrada na região da Cracolância, na capital paulista e também em outros municípios do Estado. O delegado do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) de São Paulo, Fernando Góes Santiago, explica que estas drogas foram desenvolvidas, com o objetivo de ter baixo valor de mercado e ser uma substância parecida com maconha.

Segundo Santiago, o estado original dessas sustâncias é liquido, e o que determina a variação delas e como são vendidas. Por exemplo, a conhecida como K4 é apresentada em um papel encharcado com líquido. Já o K9 é como fosse o k2 mais potencializado, porém, com mais cetamina (anestésico), e pode aparecer em formato de pó ou similar a erva da maconha.

“Se formos comparar com a maconha, a potência é maior com toda a certeza, mas, por exemplo, em comparação com a cocaína nem tanto. Quando uma substância começa a ter mais popularidade, eles desenvolvem formas de deixa-lá mais forte. Todas as drogas K são parecidas, mas no caso da nove ela é potencializada, com ingredientes como a cetamina, e o efeito é realmente mais forte”, ressalta Santiago.

ORIGEM

O delegado explica que as drogas K4 são produzidas para atender a população carcerária, uma vez que a produção em forma de papel, possui mais possibilidades de ser contrabandeada em presídios do que a versão em tabaco (k2).

Em fevereiro deste ano, durante revista por raio-x, uma mãe foi flagrada tentando entrar no CPD de Diadema (Centro de Detenção Provisória) com 1.369 fragmentos de K4 escondidos na palmilha de uma chuteira.

Caíque (nome fictício por questão de segurança), de 44 anos e dependente químico há 35, revela que se arrependeu de ter usado K9 por conta do agressivo efeito neuropsíquico.

“Essa droga é muito mais forte que o crack, e olha que o crack é a pior que existe. Dei apenas três tragos e perdi totalmente o controle do meu corpo, a brisa é mil vezes pior, você vai ao inferno e volta. O K9 está estralando, o pino custa R$ 10, e a galera está vendendo até no lugar do crack. Quem não sabe a diferença dos dois, compra, usa e fica mal”, relata o usuário sobre sua experiência com a substância sintética. Ele conta que a primeira vez que usou K9 foi por insistência de um amigo, na Vila Sacadura, em Santo André. “Quando usei meu corpo entortou, minha cabeça foi para baixo, meus braços para cima, e fiquei três horas olhando para o chão, parado em um ponto de ônibus. Você sabe onde está, mas não consegue se mover”, explica.

Morador da favela do Heliópolis, na Capital, o dependente químico passa dias, às vezes semanas, no ponto de drogas localizado na beira da linha férrea da estação Utinga, localizada entre Santo André e São Caetano. Em desabafo, Caique conta que sonha em mudar de vida. “Estou parando com o crack, agora vou só cheirar pó. Não quero usar essa droga (K9) nunca mais. Na verdade, sabe o que quero mesmo? É parar com as drogas de vez”, desabafa.

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  • Data: 16/07/2023 11:07
  • Alterado:16/07/2023 11:07
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  • Fonte: Renan Soares/Thainá Lana/Diário do Grande ABC, Polícia Militar de São Paulo









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