Cracolândias crescem no centro de SP e aumenta dispersão de usuários
Enquanto prefeitura reforça ações em um ponto específico, moradores denunciam o surgimento de novas cracolândias em diversas áreas.
- Data: 24/02/2025 20:02
- Alterado: 24/02/2025 20:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
A diminuição da presença de usuários de drogas na Rua dos Protestantes, única via que recebe monitoramento constante da prefeitura por meio de drones, guardas-civis e um painel virtual, contrasta com o aumento do número de dependentes químicos em outras áreas do centro de São Paulo. Essa realidade foi apontada por moradores, comerciantes e líderes dos Conselhos Comunitários de Segurança (Conseg).
Passar pelas importantes vias da Luz, Santa Cecília, Consolação, Bom Retiro e Campos Elíseos revela a triste certeza de encontrar usuários de crack em plena rua, fumando em meio à circulação de pedestres e veículos. Essa situação se torna cada vez mais evidente.
Em 2024, a média mensal de usuários na Rua dos Protestantes, que chegou a ultrapassar 500 pessoas diariamente, caiu para aproximadamente 100 no final do ano. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarou que a situação na região está sob controle e referiu-se à cracolândia como “um negocinho desse tamanhozinho” em uma entrevista recente.
A prefeitura atribui essa redução ao aprimoramento das abordagens realizadas pelas equipes de Saúde e Assistência Social, além da ampliação das ações de segurança pública com o uso de câmeras e tecnologia. A gestão municipal também enfatiza que está implementando estratégias para evitar o retorno de novos usuários à Cena Aberta de Uso (CAU).
No entanto, uma das áreas onde o número de frequentadores tem aumentado é sob a Praça Roosevelt. No viaduto que conecta a Rua Augusta ao Minhocão, homens e mulheres consomem crack durante todo o dia. À noite, quando o tráfego é interrompido, o fluxo de pessoas aumenta consideravelmente, especialmente aos fins de semana.
Em determinados momentos, cerca de 50 usuários podem ser avistados transitando pela via, obrigando motoristas a frear abruptamente. Infelizmente, esse cenário culminou em tragédias; no dia 3 de janeiro, uma mulher em situação de rua foi atropelada no local.
Marta Campoamor Regairás, presidente do Conseg da Consolação, expressa sua preocupação com a situação ao afirmar: “É fácil dizer que a cracolândia está controlada quando há uma outra que ninguém vê.” Ela critica a falta de ação efetiva da prefeitura diante dos problemas recorrentes sob o viaduto, onde ocorrem roubos e furtos frequentes.
Essa visão é corroborada por moradores da região. Edney Vassalo, comerciante local com 50 anos, relata que houve uma formação de uma nova cracolândia na entrada do elevado. Embora a polícia frequentemente realize apreensões na área, ele acredita que isso não resolve o problema devido à impossibilidade de internamento compulsório dos usuários.
A preocupação com a segurança dos comerciantes é palpável. “Isso prejudica nosso comércio. As pessoas se sentem inseguras para andar por aqui”, acrescenta Vassalo.
A cerca de cinco quilômetros da Consolação, outra cracolândia nas proximidades da Avenida do Estado tem gerado descontentamento entre os moradores e o Conseg Bom Retiro. Saul Nahmias, presidente do conselho local, destaca o aumento nas reclamações sobre a problemática nas imediações da Praça Miguel Fortes e na Rua Newton Prado.
O Bom Retiro foi considerado pelas administrações anteriores como um possível local para realocar os usuários da Rua dos Protestantes. Em julho de 2023, uma operação visou transferir os dependentes químicos para um ponto menos visível sob a Ponte Governador Orestes Quércia (Estaiadinha), mas o plano falhou rapidamente com os usuários retornando ao seu local original.
Após manifestações contrárias à proposta por parte dos moradores e comerciantes do Bom Retiro, o governador Tarcísio recuou da decisão inicial.
Uma professora da região tem documentado as movimentações dos usuários e identificou sete ruas como pontos críticos para o consumo de drogas. Ela registra em fotografias a realidade do uso do crack e as barracas improvisadas que servem como abrigo para esses indivíduos. Segundo ela, o financiamento desse vício é facilitado pelo dinheiro obtido através da venda em ferros-velhos nas proximidades.
Outro ponto problemático é na altura da Praça Marechal Deodoro — também sob o Minhocão — onde barracas estão dispostas pelo canteiro central, transformando um antigo espaço verde em um local propício ao uso de drogas. Um comércio paralelo ocorre ali mesmo, com cachimbos expostos à vista durante o dia.
Enquanto isso, famílias em situação vulnerável tentam se distanciar dos dependentes químicos e permanecem escondidas em trechos mais afastados próximos à estação do metrô.
Além disso, há uma concentração significativa de usuários nas proximidades do Shopping D, localizado no Canindé.
A prefeitura assegura que nas áreas mencionadas pela reportagem há rondas diárias realizadas pela Guarda Civil Metropolitana, bem como apoio às equipes responsáveis pela zeladoria e assistência social. Todas as solicitações recebidas do Conseg são encaminhadas aos órgãos municipais competentes para análise.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) do governo estadual afirma que a Polícia Militar está engajada no combate ao tráfico e na redução das cenas abertas de uso na região central. Essa ação ocorre em colaboração com outros órgãos governamentais, focando especialmente na Rua dos Protestantes.
Os resultados apresentados indicam que entre abril de 2023 e novembro de 2024 houve uma queda contínua nos índices de roubos e furtos no centro da cidade por 20 meses consecutivos. Aproximadamente 25 mil crimes desse tipo foram evitados nesse período.
Desde o ano passado até o início deste ano foram apreendidos cerca de 18 mil objetos cortantes e simulacros na região central.