Coruja BC1 estreia novo álbum com apresentação memorável em São Paulo

A forte chuva de domingo (01) não impediu o público de lotar o Sesc Vila Mariana para para presenciar o show de lançamento de “Psicodelic”, segundo álbum de estúdio do rapper Coruja BC1. Acompanhado por banda, DJ e diversos convidados, o músico cantou o novo disco na íntegra e ainda relembrou sucessos anteriores.

A coruja é um animal frequentemente associado a sabedoria e é isso o que Gustavo Vinícius, mais conhecido pelo vulgo do pássaro, procura. Após duas mixtapes e um álbum de estúdio, “No Dia dos Nossos”, Coruja mostra o que aprendeu ao longo dos anos com seu olhar atento em seu novo trabalho. “Psicodelic” mostra um Coruja mais experiente mas mantendo seu estilo agressivo, de rimas inteligentes e incisivas.

Lançado em maio deste ano, no dia em que há quase 20 anos seu pai fora baleado em sua frente, Coruja versa sobre este marcante episódio, preconceitos enfretados, depressão e outros transtornos em um trabalho que como tema central a saúde mental e a busca por ela. Ao vivo, o disco ganhou novos arranjos graças a banda formada por Melvin Santhana (guitarra e direção artística), Beatriz Lima (baixo), Thiago Sonho (bateria), Joy Sales (backing vocals) e pelo DJ Skeeter. O conjunto contribuiu com desde solos de guitarra a linhas de walking bass típicas do jazz para adicionar uma nova camada ao som de Coruja.

Mas mesmo em estúdio a riqueza de estilo se faz presente: a experiência acumulada pelo rapper se traduz na variedade sonora explorada por ele. Gustavo mostra que domina não só das batidas mais tradicionais às do trap, mas ainda se sente confortável ao transitar por outros gêneros musicais. A acústica “Beleza Oxum”, produção da Pineapple StormTV, ganhou ares de bossa ao estilo Jorge Ben e “Meu Anjo” foi introduzida com versos de Djavan. Às duas se somou “Éramos Tipo Funk”, fechando um pequeno bloco romântico no meio do show. A cantora Késia Estácio, se juntou a Coruja no palco para cantar “Camisa 12” no ritmo do samba. A música que trata de oportunidades desiguais, usando o futebol em uma bela metáfora, ainda teve um trecho incidental de “Saudosa Maloca”, hino do samba paulistano.

Já a vertente do trap se fez presente a partir de “Dopamina”, “Ogum”, com participação do pernambucano Diomedes Chinaski, e “Kimpa Vita”, que contou com Akil Mabili, Boy Killa e Obigo. Ao grande time de convidados ainda se juntaram o gaúcho Zudizilla em “Um Acorde” e o mineiro Djonga na aguardada colaboração “Gu$tavo$”. O xará de Coruja já arrancou gritos da plateia desde que sua voz soou de trás do palco, e eles só aumentaram enquanto o terror de SP e o terror de BH rimavam juntos. Após a música e um abraço de mútua admiração, Coruja exaltou o papel que Djonga tem desempenhado na cena nacional, dando novos ares ao jogo do rap.

O final da noite foi um momento de olhar para o passado. Coruja celebrou o espaço conquistado pelo Hip Hop desde sua infância, de shows com caminhões da prefeitura na época até hoje, chegando a teatros como aquele do Sesc e a grandes festivais. O rapper também retornou em sua própria trajetória, cantando as mais antigas “Passando a Limpo”, “NDDN” e encerrando com “Modo F”, música que ele afirmou ter mudado sua vida. Ainda que siga buscando conhecimento em primeiro lugar, como diz o BC1 em seu nome, Coruja mostrou que também já tem muito o que ensinar.