Composição musical na era da IA: mudança ou evolução?
Na fronteira entre inovação e arte, humanos e tecnologia se encontram na criação musical
- Data: 06/11/2024 16:11
- Alterado: 06/11/2024 16:11
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Crédito:Divulgação
Em pouco tempo, a inteligência artificial (IA) se tornou importante em diversas indústrias, incluindo a musical. Algoritmos, sistemas de produção e ferramentas de distribuição estão revolucionando a criação dos artistas. As inovações tecnológicas oferecem novas ferramentas para músicos, produtores e também aos ouvintes, mas a adoção dessas tecnologias levanta questões sobre a autenticidade e a essência da criação musical.
Programas de IA, como o MuseNet e o AIVA, conseguem gerar fonogramas de diferentes estilos e gêneros com apenas alguns comandos. Além disso, esses códigos analisam dados sobre canções para criar novas composições, verificando estruturas, progressões harmônicas e melodias para determinar o caminho tomado pela música.
A IA também afeta a distribuição musical. Spotify e Apple Music já usam algoritmos de recomendação que analisam os hábitos de escuta dos usuários e sugerem novas músicas e artistas, oferecendo uma experiência personalizada. A busca por músicas sugeridas pela própria plataforma levanta questões sobre a visibilidade de artistas independentes, às vezes apagados por produtos feitos por IA. Isso pode pressioná-los a se conformar com as tendências predominantes no mercado para, assim, se encaixar no que a plataforma prefere exibir em suas playlists.
Autenticidade musical
Para a cantora de Ilhabela, Helena Serena, a IA pode ser uma grande aliada na criação musical, desde que usada de forma equilibrada e consciente. “A IA traz uma infinidade de possibilidades para a composição e produção. Ela pode ajudar a expandir os limites da criatividade. Mas acho que isso não pode comprometer a verdade que está por trás da música. A autenticidade e a verdade que se quer passar vêm da vivência e das emoções do artista, e isso não pode ser replicado por algoritmos”, comenta.
Diante do crescente impacto da IA na criação e produção musical, levantam-se indagações e questionamentos sobre ética e originalidade. Para Renato Monteiro, Head de Experiência & Mercado da keeggo, o debate deve ser feito com profundidade. “Acredito que existem áreas muito mais sensíveis para a regulação em um primeiro momento. Não havendo a pretensão de se vender uma obra musical criada por IA como autêntica, regular isso talvez estabelecesse uma linha de controle desnecessária. Replicar padrões está longe de ser um problema, vender estes padrões replicados como originais, aí, sim, temos uma questão a discutir”, afirma o especialista.
À medida que a tecnologia avança, a integração da IA na música apresenta diversas possibilidades. Além da composição, existem ferramentas como LANDR e iZotope Ozone que usam algoritmos para masterizar músicas. Esses programas automatizam processos que, antes, exigiam pelo menos um engenheiro de som, tornando a produção musical mais acessível para artistas independentes.
Colaboração criativa
Espera-se que colaborações entre humanos e máquinas se tornem cada vez mais comuns. A Inteligência Artificial, nos dias de hoje, é uma espécie de co-criadora, e não apenas uma ferramenta, no processo musical. Essa relação pode facilitar o trabalho dos artistas, permitindo maior foco na expressão artística.
“A IA generativa é matemática pura. Então, o que ela faz é rodar cálculos super complexos, a partir de dados prévios, para elaborar um modelo de probabilidade de encaixe das palavras ou dos sons. Se você usar a tecnologia para destravar um bloqueio criativo, para explorar algo fora da sua linha de conhecimento, isso pode alavancar o seu potencial. Por outro lado, se usa a tecnologia como o único mecanismo de criação, aí a tendência é ter resultados mais pasteurizados”, explica Renato Monteiro.
Apesar dos benefícios e desafios, a verdade é que a IA já está presente no universo musical, trazendo novas formas de criação para a indústria fonográfica. Entre as inúmeras questões, o uso desta ferramenta, que contribui e não substitui, parece ser o mais adequado até o momento. “A arte é sobre contar histórias, sobre expressar a alma. A tecnologia pode ser um grande apoio, mas não pode apagar essa conexão emocional que faz a música ser tão especial”, finaliza Helena Serena.